Portuguesa EDP estuda disputar leilão de transmissão de energia no Brasil
Folha de S.PauloA EDP Brasil, controlada pelo grupo português EDP, avalia expandir para transmissão de eletricidade sua atuação no Brasil, onde já investe em geração e distribuição, o que poderia ser concretizado com a participação da companhia no próximo leilão de linhas de energia, agendado pelo governo para 2 de setembro.
A companhia, que está com caixa após concluir um aumento de capital de R$ 1,5 bilhão em julho, também está atenta a um mercado com diversas oportunidades de aquisições, embora o excesso de ativos à venda no setor elétrico não tenha reduzido o preço para eventuais compradores, afirmou o presidente da elétrica, Miguel Setas, segunda-feira (22).
Ele disse que um caminho para a expansão em geração poderia ser o exercício do direito de preferência para a compra de fatias da Eletrobras em usinas nas quais as empresas são parceiras, caso a estatal decida vender ativos, uma possibilidade que tem sido aventada pelo governo interino de Michel Temer.
"São as opções mais óbvias de crescimento... pode ser um negócio interessante, mas é uma conversa que ainda não tivemos com a Eletrobras", afirmou.
A EDP possui 60% da hidrelétrica Peixe Angical, no Tocantins, de 498,8 megawatts, onde é sócia de Furnas, da Eletrobras. Furnas também é parceria da companhia na hidrelétrica São Manoel, de 700 megawatts, atualmente em construção no Pará.
Já em distribuição, a companhia não tem interesse nas sete distribuidoras de energia da Eletrobras, que a estatal já decidiu que tentará privatizar até o fim de 2017.
A EDP avalia o perfil dessas distribuidoras é mais adequado a outros investidores do setor, o que já não seria o caso da AES Eletropaulo, concessionária paulista cuja área faz fronteira com a região de atuação da EDP Bandeirante, que atende Alto Tietê, Vale do Paraíba e Litoral norte de São Paulo.
Questionado sobre um possível interesse na empresa, que tem sido apontada no mercado como possível alvo de venda pela americana AES, Setas disse que uma eventual oportunidade seria analisada.
"Elas (EDP Bandeirante e Eletropaulo) já chegaram a ser uma empresa só (antes de a Eletropaulo ser privatizada). Tem sinergias. Mas por enquanto não existe nenhum movimento concreto [por parte da AES para vender a companhia]", disse Setas.
Ele ressaltou, no entanto, que ainda é cedo para falar em alguma operação mais iminente e disse que tem visto muitas conversas e sinalizações sobre possibilidades de aquisições no setor, mas os preços estão elevados, mesmo diante do cenário de crise econômica. "As últimas transações foram feitas com múltiplos elevados... não barateou".
Estratégia
Por outro lado, a EDP Brasil avalia que poderá ter um bom retorno ao investir em novos projetos no segmento de transmissão, no qual o governo tem elevado a receita oferecida aos investidores devido a resultados decepcionantes nos últimos leilões do setor.
Setas lembrou que a EDP tem antecipado a entrada em operação de hidrelétricas, e poderia utilizar a capacidade de gestão demonstrada nesses empreendimentos para ganhar na área de transmissão, onde as linhas, depois de prontas, oferecem bom retorno e baixo risco.
"Hoje o segmento de transmissão eu diria que tem até uma rentabilidade superior à própria distribuição, com um risco, depois de realizada a construção, até menor".
Ele explicou que caso a empresa participe do leilão de transmissão em 2 de setembro, buscará lotes que exijam um investimento "moderado", para testar o segmento antes de aportes mais pesados.
Além do possível investimento em transmissão, a EDP Brasil focará seus negócios em geração, priorizando hidrelétricas e termelétricas, e em distribuição.
O português Setas, que cresceu já ouvindo o sotaque brasileiro, que frequentava os lares portugueses por meio de reprises de novelas, está no Brasil há nove anos.
Ele comanda a subsidiária local da EDP desde 2014, e disse que a companhia que tornou-se uma das prioridades globais do grupo europeu, que desde 2012 tem como sócia a chinesa Three Gorges Corporation.
O executivo também disse acreditar que o atual momento de crise do país é cíclico e já dá sinais de melhora.
"Já vivemos o Brasil em várias fases. Isso nos dá uma tranquilidade, uma serenidade muito grande. Não olhamos o Brasil no curto prazo...o país é capaz de reagir muito rapidamente."