29/05/23 15h09

Polo petroquímico da região do ABC responde por 13% do PIB do Estado de São Paulo

O executivo também falou sobre o papel da indústria química e petroquímica no processo de industialização do Brasil e quais são as urgências do setor

Diário do Grande ABC

Fundado há meio século, o polo petroquímico do Grande ABC reúne várias empresas do setor e tem extrema importância para a economia da região e de São Paulo. Cerca de 13% do PIB (Produto Interno Bruto) do Estado vem da indústria química. A informação foi dada pelo presidente executivo da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), André Passos Cordeiro, em entrevista exclusiva ao Diário. O executivo também falou sobre o papel da indústria química e petroquímica no processo de industialização do Brasil e quais são as urgências do setor. 

Quais os fatores que explicam o processo de desindustrialização do Brasil nos últimos anos?

No Brasil a gente pena muito com a segurança jurídica. E a indústria, especialmente a química, trabalha com longo prazo. Ela faz atos de longo prazo para aquisição de seus insumos, investimentos intensivos de capital de grande volume, e isso tem um tempo de retorno maior. Também é necessário que o ambiente de negócios seja estável e o Brasil, infelizmente, muda com muita frequência, o que torna muito ácido o ambiente econômico para a indústria no País.

A questão tributária também influencia?

A carga tributária para a indústria no Brasil é elevadíssima, uma das maiores do mundo. Em média, os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) têm em torno de 5%, enquanto o Brasil tem acima de 40%. Então, isso também cria uma dificuldade adicional para o processo de industrialização. O mundo inteiro tem políticas industriais, os Estados Unidos têm, a Europa tem, a China tem, Alemanha, França, enfim, são exemplos de países que têm planos de longo prazo para a indústria. A gente precisa disso, todos os setores econômicos precisam de um processo de coordenação, regulação, de estímulo, e a isso a gente dá o nome de política industrial. A gente tem, por exemplo, as políticas fiscal e monetária, que são políticas de Estado, isto é, que são preocupações do governo, sem fazer juízo de valor de qual direção elas vão, mas elas existem e são operadas por agentes políticos e têm estruturas vinculadas a essas políticas, inclusive, para desenvolvê-las. Na fiscal, a gente tem o Ministério da Fazenda, do Planejamento, e na política monetária tem o Banco Central. Mas na política industrial não apenas não temos, como por algum tempo nós tivemos extinto o Ministério da Indústria. Se a gente quer a industrialização, a gente precisa de uma política industrial ativa.

Como isso afeta a indústria química?

Há vários problemas aqui, tem o problema da folha de pagamento, dos custos de matéria-prima, que é muito importante para a indústria química. Cerca de 80% dos custos de produção da indústria química são matérias-primas, é uma indústria que está muito perto do produto primário, extraído do solo, como óleo e gás, e também dos renováveis, como óleos vegetais, etanol derivado da cana de açúcar, então, para nós, é muito importante o preço pago por essa matéria-prima que entra no processo produtivo.

Como é possível melhorar essa questão?

Modernamente, a política industrial tem trabalhado com a ideia de complexidade industrial. Os países estão estimulando setores mais complexos, porque eles exigem muito conhecimento e também são a base para toda cadeia industrial. Isso agrega mais valor e traz mais venda. Os países que têm renda per capita mais alta são os países mais complexos do ponto de vista de seu tecido produtivo, que são os que apostam nos setores industriais mais complexos, que agregam mais renda, que produzem e consomem mais tecnologia. A nossa indústria (química) é uma das mais complexas do mundo. Por ser altamente complexa e ter também um encadeamento no tecido produtivo muito grande, os investimentos nela geram mão de obra altamente qualificada, renda elevadíssima e também multiplicam renda nos outros setores, porque a nossa indústria tem demanda e oferece produtos para praticamente todos os setores produtivos. Para cada real investido na indústria química, você gera R$ 3,8 em outras cadeias produtivas. É importantíssimo a gente ter uma política industrial voltada para esses setores, esse é o fator estimulante de um processo de consolidação da industrialização. Resolver os problemas tributário, do custo das matérias-primas no Brasil, gás natural, petróleo, matérias-primas renováveis, o problema de segurança jurídica de longo prazo, ter uma política de comércio exterior estável e perene, que defenda o mercado interno brasileiro e abra mercado no Exterior para as empresas brasileiras, essas têm de ser as prioridades. Também é necessário articular no mesmo nível a política monetária, a política fiscal e a política industrial, e isso ainda não existe no Brasil. Para voltar a crescer, é preciso esses elementos, necessariamente.

Como a reforma tributária fomentaria esse crescimento?

Eu creio que a reforma tributária ajuda muito a estimular o processo de reindustrialização do Brasil. Mas, claro, dependendo de como ela for equilibrada. Se criarem uma melhor distribuição da carga tributária, acho importantíssimo. É um elemento que pode ajudar muito o processo industrial, mas não é o único. É preciso uma política industrial ativa somada à reforma tributária. Nós nos reunimos com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), falamos com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), por exemplo, sobre apoiarmos uma reforma tributária que racionalize a tributação sobre a indústria e reduza a carga tributária sobre ela, tornando essa carga tributária equânime à dos países com os quais o Brasil compete no palco mundial industrial. Também apoiamos que o governo brasileiro tenha um programa de atração de investimentos para a área industrial. O mundo já tem essa carga tributária menor na indústria e um sistema tributário mais racional do que o brasileiro. Então, a gente precisa ir para o mesmo padrão do mundo, fazendo uma reforma que crie um imposto sobre valor agregado, por exemplo. Mas a gente também precisa de um programa de atração de investimentos. Todos os grandes países industrializados têm programas de atração de investimentos e estão disputando na arena mundial os investimentos, especialmente na nova etapa do padrão produtivo no mundo, que é o desenvolvimento sustentável e circular.

Qual é o caminho que esses países estão tomando?

Os grandes estados nacionais estão montando seus programas para atrair recursos capitais do mundo inteiro para seus países para que a indústria deles cresça. A indústria química é central nesse processo, são as indústrias químicas que produzem hidrogênio verde, por exemplo, e produzirão cada vez mais. São elas que aproveitam o gás natural como matéria-prima, que é menos emissor de efeito estufa do que o óleo, por exemplo, e transformam em bens de consumo para toda população mundial. É a indústria qúimica que usa a cana de açúcar, o etanol e óleos vegetais para fabricar produtos químicos. A indústria química é a alavanca para um novo processo produtivo e sustentável e circular. E é ela que vai reprocessar os resíduos do consumo humano e transformar em produto novamente, através de processos químicos.

O senhor vê o Brasil como potencial referência no desenvolvimento sustentável?

O Brasil tem, hoje, uma imensa biodiversidade. Cerca de 12% a 20% da biodiversidade mundial está aqui. O Brasil também tem uma matriz energética muito limpa, muito mais limpa que a média mundial. A gente também tem muita água e muito sol aqui, o que também não vemos em muitos lugares. Na Europa, por exemplo, essa situação existe raramente, nos Estados Unidos é só em algumas regiões. O Brasil tem vantagens comparativas grandes, a gente também tem fontes de matérias-primas renováveis abundantes, como óleos vegetais, cana de açúcar para produção de etanol, e são vantagens importantes. A gente precisa transformar essas vantagens comparativas em vantagens competitivas, e só a indústria faz isso. Ela transforma produtos em bens de alto valor. Não tem como saltar da cana de açúcar, do óleo e do gás natural direto para o bem final. Quem faz a transformação desses produtos em produtos que servirão de insumos para os bens finais é a indústria química. Então, precisamos de uma indústria química forte no meio do processo. A química brasileira é a sexta maior do mundo, a gente tem uma base produtiva muito sólida. A química brasileira produz todos os mais importantes produtos químicos produzidos no mundo. A gente tem uma base produtiva extremamente grande.

Como avalia a recriação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços?

Nós (Abiquim) fizemos parte do grupo que redesenhou e propôs a recriação da Pasta. Também apontamos uma série de políticas que precisam ser adotadas, outras que têm que ser reformuladas. Nosso ponto de atenção foi fundamentalmente para existir uma política industrial baseada nos setores industriais mais complexos, que geram e agregam valor. E também a existência de uma política de comércio exterior que estimule o processo de industrializçaão aqui dentro do País, que contribua com a geração de empregos qualificados dentro do País, não uma política de comércio exterior que exporte trabalhadores para outros países. Nada contra os outros países, que inclusive são parceiros nossos, os Estados Unidos, a China, União Europeia. Não é simplesmente abrir indiscriminadamente o País, sem considerar nossas diferenças de custos de produção, sem considerar a segurança na nossa cadeia de suprimento interna.

Qual é o papel do polo petroquímico no Grande ABC para a indústria brasileira?

O maior mercado da indústria química é São Paulo e o polo do Grande ABC é um polo central, de grande produção. É um dos maiores ativos em produção e em valor no Brasil. O polo petroquímico não é só importante para o complexo industrial químico brasileiro, como é importante para o Estado de São Paulo. Ele representa 13% do PIB do Estado. É importante fortalecer e consolidar esse polo, que a população de São Paulo se orgulhe de ter desenvolvido essa indústria e tenha cuidado com ela, porque recuar do polo do Grande ABC é perder renda, perder trabalho de alta qualidade.

 

Fonte: https://www.dgabc.com.br/Noticia/3985677/polo-petroquimico-da-regiao-responde-por-13-do-pib-do-estado-de-sao-paulo