16/04/12 14h07

Política industrial do pré-sal tem como alvo mercado de US$ 400 bi

O Estado de São Paulo

Conteúdo nacional. Valor calculado pela consultoria Booz é usado como referência pelo BNDES para o mercado de bens e serviços em exploração e produção offshore até 2020; governo e Petrobrás têm como objetivo criar uma rede nacional de fornecedores

A demanda doméstica por bens e serviços em exploração e produção offshore de petróleo está calculada em US$ 400 bilhões (cerca de R$ 720 bilhões) até 2020, segundo número usado como referência pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), calculado pela consultoria Booz. O montante dimensiona a margem que governo e Petrobrás têm para fazer política industrial com o pré-sal e criar uma rede nacional de fornecedores.

O dado consta de documento do departamento da Cadeia Produtiva de Óleo e Gás do BNDES, criado há seis meses para ajudar a desenvolver a indústria de petróleo no País. "A política de conteúdo local vai exigir que quem ganhar novos contratos instale fábrica aqui. As empresas estão vindo, há várias conversando com a gente", diz o chefe do departamento, Ricardo Cunha.

As iniciativas para se aumentar a produção e vencer os gargalos da indústria foram impulsionadas após a entrada de Graça Foster no comando da estatal e da contratação no Brasil, pela Petrobrás, de mais 26 sondas de perfuração para o pré-sal, ambos em fevereiro. As metas são atrair novas empresas, expandir o financiamento e formar técnicos usando contratos da Petrobrás como chamariz. Um atraso no desenvolvimento da cadeia significaria atrasar a exploração do pré-sal ou resultar na importação de equipamentos e serviços.

"Ela cobra rapidez para atingir a meta de 5,8 milhões de barris por dia em 2020 (mais que o dobro de hoje), número que repete em reuniões", diz empresário ligado à contratação das sondas.

BNDES, Transpetro, estaleiros, grandes fornecedores, associação de máquinas e equipamentos (Abimaq) e da indústria naval (Sinaval) participam de grupos de trabalho para enfrentar os gargalos. O modelo desenhado para as sondas - primeiro faz-se o contrato e depois monta-se a indústria que vai construí-la - pode ser repetido com a cadeia de fornecedores, de acordo com os envolvidos, que preferem não se identificar já que as discussões estão em andamento.

Graça terá como desafio equilibrar os interesses dos acionistas privados, que têm pressa para transformar o pré-sal em dinheiro, com os do acionista controlador, o governo, a quem interessaria aguardar um pouco mais para explorar, se preciso, do que perder a oportunidade de desenvolver uma indústria nacional.

"Fazer mais de 40%, 60% de conteúdo local em determinados itens é tornar completamente engessada a indústria. Não é isso que o governo quer", disse Graça após assumir o cargo.

Dificuldades. O vice-presidente de Relações Públicas da Statoil no Brasil, Mauro Andrade, chama a atenção para as dificuldades que podem surgir de um descasamento entre capacitação industrial e a urgência do pré-sal. "A questão é como concatenar as políticas de conteúdo local com metas de produção superagressivas", diz.

O objetivo é promover a "substituição competitiva" de importações, diz outra fonte. A Petrobrás negocia acordos para atrair estrangeiras oferecendo contrato que inclui a compra do equipamento no exterior enquanto a filial é construída. A lista de importados inclui de separadores de água e óleo para petroleiros a turbinas para embarcações de apoio. A lista está sendo estendida para as sondas que, a partir deste ano, começam a ser construídas no Brasil.

O setor de máquinas é o mais crítico, concentrando 75% dos itens importados, segundo o Sinaval. "Cabe a entidades, governo e petroleiras verificar se não é feito no Brasil por problema estrutural, se vale a pena produzir ou é melhor importar", diz Alberto Machado, diretor da Abimaq.