17/05/10 10h50

Petrobras vira indutora da política industrial

Folha de S. Paulo

No governo Lula, a Petrobras, empresa de economia mista com 60% de seu capital pulverizado no mercado, passou a ter um papel ativo como instrumento de política industrial: a companhia adotou, recentemente, uma estratégia mais agressiva para atrair empresas ao Brasil e enviou missões de executivos a nove países em menos de um ano. Em suas visitas, a companhia externou sua necessidade de bens e serviços até 2020 e apresentou gargalos tecnológicos e produtivos da cadeia local de fornecedores.

As missões empresariais foram aos EUA, Canadá, Inglaterra, Alemanha, Espanha, França, Coreia do Sul, Japão e Rússia. O objetivo principal é ter atendida especialmente a demanda do pré-sal - que vai gerar encomendas de US$ 111 bilhões em dez anos. "Fazemos um conjunto de ações para desenvolver a capacidade tecnológica e de produção no Brasil. Uma delas é estimular a associação entre fornecedores internacionais e brasileiros. Outra é atrair empresas estrangeiras para que abram plantas no Brasil", disse à Folha o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.

Segundo ele, centenas de contatos já foram feitos. No caso de fornecedores diretos, a Petrobras oferece um contrato de encomendas de longo prazo para atrair as empresas. Foi o que aconteceu com a italiana Prysmian (ex-Pirelli Cabos), que investiu US$ 110 milhões para ampliar sua fábrica no Espírito Santo e atender à necessidade de tubos flexíveis para produção submarina de petróleo e gás. A Petrobras convenceu ainda dois estaleiros coreanos a se associarem a grupos nacionais: o STX comprou 51% do fluminense Promar e planeja investir numa nova unidade no Ceará. O Samsung adquiriu 10% do Atlântico Sul (PE). Em ambos os casos, houve transferência de tecnologia.

Sócio do STX Brasil, Ariovaldo Rocha, presidente do Sinaval (entidade que reúne os estaleiros), diz que "a ação indutora da Petrobras foi fundamental para trazer os investidores estrangeiros". Segundo ele, agora algumas empresas fornecedoras de peças para navios já começam a se interessar também por se instalar no país para produzir motores e outros equipamentos hoje importados. A Folha apurou que uma delas é a japonesa Daihatsu. Na área de montagens de plataformas e sondas, a estatal negocia a vinda da SMB (Holanda), Modec (Japão) e Dragados (Espanha) -grandes companhias que não atuam ou têm presença tímida no país.