22/07/08 10h52

Pesquisa brasileira avança na busca pela cura do câncer

Gazeta Mercantil - 22/07/2008

Quase 3 mil metros quadrados de floresta, 3 mil árvores identificadas, 2,2 mil extratos, 132 possíveis medicamentos e uma esperança: encontrar a cura do câncer. Amparados nesses números, colhidos na maior floresta tropical do planeta, a Amazônia, os cientistas engajados no Projeto Rio Negro, em curso desde 1992, deram mais um passo rumo à materialização do sonho. Há menos de um mês, o grupo, até então patrocinado exclusivamente pela Universidade Paulista (Unip), ganhou um importante aliado: o Hospital Sírio Libanês selou a parceria com um investimento de US$ 1 milhão, que culminará, no prazo de dois meses, na inauguração de um laboratório de purificação de substâncias. "Abrimos um campo de pesquisa sem precedentes no Brasil", anima-se o médico oncologista e escritor Dráuzio Varella, um dos idealizadores do projeto. "A parceria entre a Unip e o Sírio é inédita no País. Além disso, estamos usufruindo da maior fonte natural do mundo para produtos farmacêuticos e bioquímicos: a Floresta Amazônica". Com 16 anos de vida, o projeto começa a mostrar resultados especialmente estimulantes. Dos 2,2 mil extratos pesquisados, 72 indicaram alguma atividade contra ao menos uma célula tumoral. Outros 50 mostraram reações contra bactérias resistentes a antibióticos, outra área pesquisada pelos cientistas. O investimento de US$ 1 milhão permitirá a continuidade e a ampliação do projeto, que consiste no fracionamento dos extratos. Nessa etapa, cada extrato é separado em frações para que se descubra qual substância contém o princípio ativo. Com essa descoberta, é possível começar os testes em animais. Até agora, o projeto está garantido. A Unip e o Sírio Libanês já preparam os seus biotérios de pequenos roedores e Varella acredita que dentro de dois anos essas experiências já sejam possíveis. Com um estatuto de cunho sócio-filantrópico, os médicos e pesquisadores envolvidos no Projeto Rio Negro não visam o lucro. Caso venham a ganhar dinheiro com os frutos dessa pesquisa, será inteiramente revertido para investimentos na Floresta Amazônica e suas comunidades ribeirinhas ou no próprio projeto. "Nossa pesquisa é inédita no País", repete Varella. "Há muito tempo, parei de buscar exclusivamente a cura do câncer. Caso isso aconteça, certamente não estarei mais aqui para ver. O principal fruto desse projeto é o legado científico que estamos deixando para nossos filhos e netos. É o Brasil pesquisando, em nível de igualdade, com os países mais desenvolvidos do mundo".