Pequenas e médias empresas paulistas podem desenvolver tecnologias para o Sirius
Agência FAPESPAs micro, pequenas e médias empresas de base tecnológica estabelecidas no Estado de São Paulo poderão se candidatar a solucionar desafios incomuns apresentados pelo Sirius – a nova fonte de luz síncrotron brasileira, em construção no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas, no interior paulista.
Um desses desafios, por exemplo, é desenvolver uma espécie de robô para monitorar os 520 metros de circunferência do anel do acelerador de elétrons.
Dotado de câmeras e sensores, o robô percorreria sobre trilhos toda a extensão do acelerador principal do Sirius, registrando imagens e medidas, como temperatura e vibração no interior do túnel onde o equipamento será instalado.
Com o auxílio do robô, a equipe de manutenção do acelerador poderia monitorar o funcionamento a distância, sem a necessidade de interromper o funcionamento do equipamento.
“O custo estimado de operação por hora do Sirius será de R$ 150 mil, incluindo a amortização, em 20 anos, do investimento realizado. Isso significa que a interrupção por meia hora do acelerador para realizar uma manutenção não prevista pode representar um prejuízo muito grande”, disse Regis Terenzi Neuenschwander, vice-gerente da divisão de engenharia do LNLS.
A construção do robô para o monitoramento do acelerador foi um dos desafios que mais despertaram o interesse das 44 empresas que participaram da “Mesa-redonda Parcerias Sirius”, realizada no dia 6 de novembro, no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas.
“Gostaríamos de ter um dispositivo que nos ajudasse a antever problemas no acelerador, de modo a reduzir drasticamente a necessidade de interromper seu funcionamento”, afirmou Neuenschwander.
O evento teve como objetivo apresentar as 13 novas demandas tecnológicas – ou desafios – propostos às empresas paulistas na segunda chamada de proposta lançada pela FAPESP e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), para apoiar o desenvolvimento de produtos, processos e serviços inovadores para o Sirius.
Lançada no âmbito do Programa PIPE/PAPPE Subvenção, a chamada de propostas está aberta até o dia 27 de novembro para microempresas, empresas de pequeno porte, pequenas empresas ou médias empresas sediadas no Estado de São Paulo, constituídas, no mínimo, 12 meses antes do lançamento do edital.
O apoio terá duração de até 24 meses, visando desenvolver processos e serviços inovadores que, além de atender a demanda de Sirius, poderão ser oferecidos ao mercado. Os recursos alocados para financiamento do edital são da ordem de R$ 20 milhões, sendo 50% com recursos da Finep e 50% com recursos da FAPESP.
“Estamos muito otimistas com essa segunda chamada de proposta de projetos para o Sirius visto que a primeira chamada [lançada em setembro de 2014] teve uma boa resposta das empresas”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, durante o evento.
“Nossa expectativa ao apoiar pequenas e médias empresas a desenvolver tecnologias para o Sirius é ajudar não apenas o funcionamento do acelerador, mas possibilitar que essas empresas usem as soluções criadas para transformá-las em outras aplicações que gerem riqueza”, afirmou.
Uma das primeiras fontes de luz síncroton consideradas de 4ª geração no mundo, o Sirius demandará tecnologias que em boa parte não são de “prateleira” – jargão usado para classificar soluções que são encontradas no mercado interno ou externo – ou, se já existem, são muito caras ou inadequadas às especificações do projeto.
Ao aceitar o desafio de desenvolvê-las, as micro, pequenas e médias empresas paulistas podem ganhar capacitação tecnológica e isso poderá ser usado para explorar novos mercados, avaliou Carlos Américo Pacheco, diretor do CNPEM, durante o evento.
“A chamada de propostas para o Sirius representa, na realidade, um convite para uma parceria para o codesenvolvimento de soluções, visto que as empresas selecionadas terão uma forte interação com a equipe de engenheiros, físicos e técnicos do LNLS. Será um aprendizado conjunto. O convívio com a equipe de engenharia e instrumentação científica do LNLS possibilitará às empresas desenvolver capacitação tecnológica”, estimou Pacheco.
Componentes à base de cerâmica
O caso da Engecer – empresa fabricante de componentes à base de cerâmica fundada por professores das Universidades de São Paulo (USP) e Federal de São Carlos (UFSCar) – ilustra os benefícios da parceria mencionada por Pacheco.
A empresa, que já tinha um relacionamento comercial com o LNLS, submeteu projeto para a primeira chamada de propostas para o Sirius, vislumbrando a possibilidade de intensificar o relacionamento com a equipe técnica do laboratório para desenvolver um componente à base de cerâmica, transparente ao campo magnético e capaz de suportar pressões da ordem de 10-10 mBar (Milibar), como a do interior do acelerador de elétrons do Sirius.
Por meio do projeto, apoiado no âmbito da chamada, a empresa desenvolveu um componente com essas especificações.
“Esse tipo de desenvolvimento transcende o nosso dia a dia, em que produzimos outras coisas para poder sobreviver”, disse Marcos Pereira Gonçalves, sócio-diretor da empresa. “O conhecimento que adquirimos durante o projeto, contudo, permitiu nos sentir mais capacitados para concorrer até mesmo no mercado externo”, avaliou.
Além da Engecer, mais sete outras empresas foram selecionadas no primeiro edital, a primeira seleção pública para 13 outros desafios tecnológicos apresentados pelo Sirius: Equatorial Sistemas, Luxtec Sistemas Opticos, Omnisys Engenharia, Atmos Sistemas, FCA Brasil Indústria Comércio Usinagem Peças, Macnica DHW e Opto Eletrônica.
Novo patamar científico
Ao longo dos últimos anos, a equipe de engenharia e instrumentação científica do LNLS tem desenvolvido um conjunto de soluções tecnológicas para o Sirius em parceria com outras empresas, como a multinacional brasileira WEG, de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina.
“O envolvimento do LNLS com empresas para o desenvolvimento de diversas soluções tecnológicas para o Sirius, relacionadas a questões como vibração, estabilidade e operação do acelerador, já é uma realidade”, afirmou José Roque da Silva, diretor do LNLS.
De acordo com ele, aproximadamente 14% da obra já está construída. “O Sirius possibilitará levar o Brasil a um novo patamar científico. Será um dos únicos casos de infraestrutura científica de grande porte em que o país estará, de fato, na fronteira do conhecimento”, avaliou.
Também participaram do evento Douglas Zampieri, membro da coordenação da área de Pesquisa e Inovação da FAPESP, e Marcos Francisco Almeida, analista de projetos da Finep.