26/03/13 12h45

Pela primeira vez, Brasil recebe quase 5% do IED mundial

Valor Econômico

Pela primeira vez o Brasil recebeu quase 5% do total de investimentos estrangeiros diretos (IED) em 2012, apesar da persistente crise global, revelam dados preliminares da Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad).

No ano passado, o Brasil foi o país que recebeu o terceiro maior volume de IED entre as economias emergentes, com US$ 65 bilhões, só atrás da China (US$ 120 bilhões) e Hong Kong (US$ 72 bilhões).

Apesar de o volume ter sido ligeiramente inferior ao recorde de US$ 67 bilhões de 2011, a fatia do fluxo que tomou o rumo da economia brasileira representou 4,96% do total mundial, comparado a 4,18% em 2011 e apenas 2,34% no ano 2000. A fatia aumentou também porque o fluxo global de IED sofreu queda significativa, de 18,2% em 2012, alcançando US$ 1,311 trilhão, a US$ 1,604 trilhão em 2011.

Também pela primeira vez os países dos Brics - Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul - receberam 20% do fluxo total de IED em 2012, confirmando a que ponto são atrativos.

O fluxo foi de US$ 263 bilhões para o grupo, numa queda de 6,4% em relação a 2011. "Mas em uma década, esse fluxo para os Brics mais do que triplicou, com sua fatia aumentando de 6% no ano 2000 para 20% ", diz James Zhan, diretor da divisão de investimento estrangeiro direto da Unctad.

Quase metade (46%) dos investimentos nos Brics tomou o rumo da China, seguido do Brasil (25%), Rússia (17%) e Índia (10%). Cresce o volume de IED no setor de serviços, mais do que para manufaturas na China. No Brasil, a Unctad constata em seu relatório que houve mais recursos em direção do setor industrial do que para recursos minerais.

Ao mesmo tempo, os países dos Brics tornaram-se importantes investidores, com seus investimentos diretos para outros países alcançando US$ 126 bilhões em 2012. A queda foi de 13,1% em relação a 2011, mas o volume ainda é enorme comparado ao montante de apenas US$ 7 bilhões no ano 2000.

No caso do Brasil, a Unctad constata que na verdade em 2012 houve contração de US$ 3 bilhões nos investimentos no exterior em 2012, enquanto a China aumentou o fluxo para US$ 68 bilhões. A Rússia fez IED de US$ 50 bilhões, comparado a US$ 67 bilhões no ano anterior.

Globalmente, os Brics representam 9% de saída de IED, com cerca de 42% na busca de mercados nos países desenvolvidos. Apenas a União Europeia foi o destino de 34% das saídas. Outros 43% do estoque estão em países vizinhos.

Do total do investimento estrangeiro direto chinês em 2011, 70% foi para as economias próximas geograficamente. No mesmo ano, esse tipo de IED correspondeu a 40% do total brasileiro. A agência afirma que esses investimentos vão para projetos que integram cadeias de produção regionais.

Zhan admite uma certa falta de transparência nesses investimentos, já que a China investe mais via paraísos fiscais no Caribe e a Rússia por meio de países opacos como o Chipre, e a suspeita é de que parte do dinheiro volta depois para suas economias.

A Unctad nota que o vínculo econômico por intermédio de IED entre os Brics ainda é muito limitado, mesmo que os projetos entre eles tenham sido acelerados recentemente. Olhando individualmente, o Brasil foi o país que menos investiu nos países do grupo. O IED brasileiro com destino à China, Rússia, Índia e África do Sul somou US$ 0,5 bilhão.

O relatório ressalta que, apesar de a relação brasileira com a China ser forte, ela é orientada pelo comércio, sendo considerada "limitada" a presença de empresas brasileiras no país asiático.

Por outro lado, a China é de longe o maior investidor estrangeiro entre os Brics, com quase US$ 425 bilhões em investimentos fora do país. Contudo, desse total, apenas 2,2% está nos outros quatro países do grupo.

Nas relações entre os Brics, a Índia, ao fim de 2011, tinha US$ 2 bilhões investidos nos países do grupo. O Brasil era o destino com menos IED indiano: US$ 74 milhões. A Rússia, por sua vez, tinha US$ 1,1 bilhão no grupo.

Por outro lado, está claro para a agência que os Brics estão se tornando investidores importantes na África, incluindo em manufaturas e em serviços (telecomunicações, transportes etc).