01/02/10 10h25

Para evitar gargalo, GM aciona linha de pintura no interior

Valor Econômico

À primeira vista, pode parecer estranha a ideia de pintar um carro a uma distância de quase 100 quilômetros da fábrica onde o modelo é produzido. Mas quem comprou um Classic nas últimas semanas pode estar com um automóvel que foi produzido em São Caetano do Sul, no ABC paulista, mas pintado em São José dos Campos, uma cidade do Vale do Paraíba, no interior do Estado.

Mesmo aparentemente excêntrico, o recurso permite à General Motors não perder vendas e demonstra que em tempos de demanda aquecida a criatividade da indústria automobilística não tem limites. Nessa operação, não é o carro inteiro que viaja pela via Dutra, a estrada que separa São Caetano de São José. Apenas a carroceria. O processo começa em São Caetano, com a estampagem de todas as peças que formam a carroceria, como portas e capô. Montada, a carroceria segue, então, para a outra fábrica, que fica 97 quilômetros distante. "É uma forma de podermos produzir mais", afirma o presidente da GM do Brasil, Jaime Ardila. Segundo explica o executivo, as carrocerias seguem viagem dentro de baús de caminhões.

Depois de passarem pela cabine de pintura em São José, as peças fazem a viagem de volta, para São Caetano do Sul. De novo na linha de montagem, a carroceria já pintada se junta às demais partes, como suspensão, motor, eixos e acabamento interno, para, enfim, se transformar em um carro. Tradicionalmente, é na cabine de pintura que aparecem os gargalos na indústria automobilística. A estrutura da área de pintura não consegue acompanhar eventual aceleração dos demais processos de uma linha de montagem. É por isso que é a pintura que precisa receber uma boa dose de recursos toda a vez que uma montadora decide investir para expandir capacidade.

Curiosamente, a ideia de usar a cabine de pintura de São José dos Campos para aliviar os gargalos de São Caetano não é uma novidade na GM. A estratégia é usada pela empresa há 15 anos. Mas recentemente ganhou mais flexibilidade, segundo a empresa. A viagem das carrocerias para o interior de São Paulo não tem data para acontecer. Ocorre quando é preciso e dura o tempo que a área de manufatura determinar. Uma saída para evitar esse vaivém seria abrir mais um turno de trabalho. Ardila diz, no entanto, que a GM não cogita a ideia de criar o terceiro turno na unidade de São Caetano, que opera no limite máximo da sua capacidade. As outras duas fábricas da GM no Brasil - São José e Gravataí (RS) - também funcionam hoje em dois turnos.

Nos últimos tempos, os fabricantes de veículos têm demonstrado resistência à ideia do terceiro turno. Eles receiam criar uma nova turma de trabalho e, ao serem surpreendidos por uma repentina queda de demanda, serem obrigados a demitir. O setor automotivo opera suas fábricas com cautela hoje porque não sabe se pode contar com mais prorrogações do incentivo fiscal que vigorou durante todo o ano passado. Em princípio, o IPI continuará reduzido para carros com motor flex até março. Vale lembrar que boa parte do crescimento de vendas em 2009 ocorreu por conta de compras antecipadas. Várias vezes, os consumidores trocaram seus carros antes do que haviam programado, imaginando que o incentivo tributário acabaria.