02/03/10 10h31

Para BNDES, criação de superfarmacêutica nacional está próxima

Valor Econômico

Apesar da desconfiança do setor privado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não esconde que a criação de um "superlaboratório" nacional para competir com empresas multinacionais na produção de medicamentos e geração de inovação tecnológica esteja perto de um desfecho.

Durante o seminário "Complexo Industrial da Saúde", promovido pelo Valor com apoio do Ministério da Saúde, e com presença dos principais executivos e autoridades do setor de saúde, o chefe do departamento farmacêutico do banco, Pedro Palmeira, reiterou que o BNDES está disposto a atuar não só com financiamentos, mas também com ações para "fortalecer a musculatura" de empresas nacionais, seja por meio de participação acionária do banco ou injeção de capital em movimentos de fusões ou consolidação.

Palmeira revelou que as maiores empresas do setor negociam em sigilo, inclusive com participação do banco de fomento. "Qualquer coisa que eu fale pode atrapalhar. Existem conversas em andamento entre os principais players do setor farmacêutico, e o BNDES está sentado à mesa em algumas dessas conversas", contou o executivo, que manteve reuniões a portas fechadas com empresários durante intervalos do seminário, realizado ontem em São Paulo.

Segundo o executivo, o formato da participação do banco em uma eventual operação de consolidação do setor já está desenhado. "Nossa possibilidade de ação pode ser apenas por participação acionária via BNDESPar [braço de participação societária do BNDES], mas pode ser também através de operação mista, com injeção de capital mais presença acionária e alguma parcela da operação em concessão de crédito com recursos do Profarma", acrescentou Palmeira.

O executivo admitiu ainda que a instituição está disposta a incrementar, caso necessário, os recursos do Profarma, programa de fomento do BNDES voltado exclusivamente para o setor farmacêutico, cujo desembolso somou R$ 1,374 bilhão (US$ 697,5 milhões) até dezembro de 2009, para um orçamento estimado em R$ 3 bilhões (US$ 1,7 bilhão) até 2012.

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, ressalta que o BNDES não tem intenção de interferir na gestão das empresas, caso "superlaboratórios" nacionais sejam criados com capital estatal. "O setor farmacêutico é um dos mais dinâmicos do mundo, com vários processos de fusões e aquisições, realidade que começa a se colocar a empresas brasileiras. O BNDES está disposto a incentivar consolidações, que permitam que um grande grupo nacional se destaque num mercado dinâmico, incentivando a estruturar a produção interna de medicamentos com forte impacto no ponto de vista da saúde pública", destacou Temporão. Outra preocupação do ministro é a geração de tecnologia e inovação por parte dos laboratórios nacionais com intenção de ajudar a minimizar o déficit de comércio exterior do setor de saúde, que fechou 2009 em US$ 7 bilhões.