02/04/09 11h35

Para analistas, crise e ambiente darão a Brasil maior influência em 2020

O Estado de S. Paulo - 02/04/2009

Seja por meio de organismos internacionais ou na relação direta com outros países, há espaço para o Brasil se tornar ainda "mais influente" nos próximos dez anos, de acordo com especialistas ouvidos pela BBC Brasil. E, pelo menos em duas áreas, essa oportunidade é maior: economia e meio ambiente. A crise trouxe uma chance sem precedentes para países como o Brasil", diz Marcos Vieira, professor de Relações Internacionais do Kings College, em Londres. A transferência de poder econômico dos Estados Unidos para os países emergentes também é apontada pelo historiador John Schulz, da Brazilian Business School, como um dos resultados da crise global. Segundo ele, a participação dos países ricos no PIB mundial já vinha declinando e a crise "deve acelerar esse processo". "O resultado é uma maior participação dos países emergentes à mesa de negociação", diz.

Outra área em que o Brasil tem chances de ampliar sua influência é no debate sobre mudanças climáticas. "Temos a maior floresta tropical, reservas de água, energia limpa. Mas infelizmente ainda somos defensivos em matéria de meio ambiente", diz o ex-embaixador Sérgio Amaral.Segundo ele, o Brasil tem potencial para liderar esse movimento, mas para isso terá de fazer concessões. Uma delas seria aceitar compromissos obrigatórios. "Já fomos defensivos em comércio e isso mudou. O mesmo pode acontecer em meio ambiente nos próximos anos", diz Amaral.

Se por um lado economia e meio ambiente oferecem oportunidades para a liderança brasileira nos próximos anos, isso não significa que temas já tradicionais para o Itamaraty serão deixados de lado. Apontada como prioridade pela diplomacia brasileira, a América Latina vai exigir atenção especial nos próximos anos, na avaliação dos especialistas. O Brasil terá de provar aos países vizinhos que é capaz de liderar o continente, mesmo em um momento de crise. Vieira vê dois movimentos políticos na região que tendem a durar nos próximos anos. Um deles é a proposta venezuelana, baseada em uma visão antiamericana; a outra seria a visão brasileira, considerada por Vieira "mais pragmática e voltada para o desenvolvimento".