Países do Pacífico fazem proposta de integração com o Mercosul
O Estado de S. PauloDepois de anos rejeitando uma aproximação, o Mercosul e a Aliança do Pacífico vão estabelecer uma agenda para a aproximação entre as economias latino-americanas, num novo capítulo da integração regional. Quem faz o anúncio é a presidente do Chile, Michelle Bachelet, que deixa claro que o objetivo é ambicioso. Em uma entrevista ao Estado e a outro veículo de comunicação brasileiro, a representante de Santiago confirmou que uma reunião de chanceleres será realizada no dia 7 de abril e que, nela, um plano será estabelecido.
"Fizemos uma proposta ao Mercosul e vamos ver quais são os elementos sobre os quais eles poderão aceitar para seguir avançando", disse. "Já estamos trabalhando em uma aproximação desde o ano passado e agora esperamos um protocolo de acordo. No dia 7 de abril nos reuniremos e vamos avaliar onde é que podemos avançar", afirmou.
Ao Estado, fontes diplomáticas do Brasil indicaram que o governo vai à reunião "sem tabus" e que está disposto a falar sobre "todos os assuntos de integração". Com alguns dos membros da Aliança, por exemplo, existe um cronograma de desgravação tarifária já para 2019.
Por enquanto, Bachelet evita falar em um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a aliança que inclui Chile, Colômbia, Peru e México. "Queremos avançar nos temas nos quais os países estejam disponíveis", disse a presidente. Não queremos forçar situações", explicou.
Criada pelas economias do Pacífico, a Aliança foi inicialmente vista com suspeita por parte dos governos brasileiros sob a administração de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Nos bastidores, a iniciativa chilena era considerada como uma ameaça aos planos do Mercosul de expansão de sua influência e de rejeição a um acordo regional.
As mudanças nos governos da Argentina e Brasil também mudaram a percepção sobre a aproximação entre os dois blocos.
Para Bachelet, a aproximação "é algo muito bom". "O que nunca desejamos é que estejam de costas o Pacífico e o Atlântico", afirmou.
A chilena aposta em uma "aceleração da integração com pessoas e bens". "Precisamos de uma convergência na diversidade", defendeu. "Não se trata de impulsionar algum elemento, pois existem países que não querem alguma coisa. Mas buscar tudo o que nos une", completou.
Antes da entrevista, em um discurso na sede da OMC, Bachelet deixou claro que quer o acordo com o Mercosul para "ampliar a produtividade, a competitividade da região, diversificar o que exportamos e ainda permitir uma maior conexão com corredores bi-oceânicos".
Mas o Mercosul não é o único objetivo. O grupo do Pacífico quer um acordo também com os países asiáticos, apesar de uma decisão do presidente Donald Trump, nos EUA, minar um projeto que já estava em andamento.
Segundo ela, a estratégia de desenvolvimento do Chile foi optar por uma abertura comercial. "Hoje, o comércio exterior representa 62% do PIB chileno", disse, lembrando que o país tem acordos com 64 mercados. Segundo ela, a estratégia permitiu que o PIB per capta fosse multiplicado por sete em 20 anos.
Corrupção. Bachelet, porém, deixou claro que a região vive uma situação de "inflexão". Sem citar nomes de países, ela apontou como a corrupção e a queda nos preços de commodities afetaram as perspectivas de crescimento.
Depois de dois anos de contração, sua estimativa é de que a América Latina tenha uma expansão de 1,3% em 2017. "Precisamos trabalhar como um bloco diante dos desafios internacionais", defendeu.
Entre esses desafios, ela cita o "neoprotecionismo" e o discurso anti-comércio como "problemas reais". "Essa é uma tentação da qual temos de evitar. Não gera nem crescimento e nem bem-estar", disse. "A globalização é irreversível, ainda que tenhamos de corrigir seus desvios", defendeu.
Roberto Azevedo, o brasileiro que dirige a OMC, também aproveitou a presença de Bachelet em Genebra para soar seu alerta. "Temos de resistir às pressões do protecionismo", disse. "Precisamos cooperar mais, e não menos", insistiu. Sua previsão é de que, em 2016, o comércio registrou um crescimento de meros 1,7%. Para Bachelet, ele foi ainda menor, de 1,3%.