10/01/10 11h19

País cresce no mercado de trabalho global

Folha de S. Paulo

A peruana Maria Jesus, 43, natural de Lima e que nos últimos meses tem trabalhado como babá em São Paulo, diz que envia, "quando pode", US$ 100 para a sobrinha-neta no país de origem. E é assim, com pequenas quantias, que vem se formando um movimento que bateu recorde no fim de 2009 e que promete fazer barulho nos próximos anos: o de remessas de trabalhadores estrangeiros, especialmente sul-americanos. Para especialistas, o país está passando hoje por um estágio que Espanha e Irlanda já atravessaram, de transição entre um país que apenas envia imigrantes para um que também recebe estrangeiros. Eles calculam que, em dez anos, esse mercado vai crescer 15 vezes, alcançando US$ 10 bilhões (cerca de 10% do PIB da Bolívia, um dos países que mais recebem remessas do Brasil).

Reforçada pelo retorno de brasileiros devido à crise nos países ricos e pela menor quantidade de remessas dos que ficaram fora, essa mudança já pode ser sentida. Atualmente, para cada US$ 2,7 que entram no país de remessas de trabalhadores, US$ 1 sai para o exterior -a menor diferença desde ao menos 1995, quando ela chegou a US$ 37 para cada US$ 1. Ainda em 2004, a proporção era de US$ 15 entrando para cada US$ 1 que deixava o país. Como ocorreu com o restante da economia brasileira, o mercado de remessas sofreu fortemente os efeitos da crise global nos últimos três meses de 2008, mas começou o processo de retomada já no início do ano passado, que culminou com o recorde de US$ 184 milhões entre julho e setembro (dado mais recente disponível) e confirmou um processo de alta que teve início em 2004, segundo o Banco Central.

"Esse mercado vem crescendo tremendamente. O Brasil está atraindo muita gente, e o mercado formal está avançando também", diz Odilon Almeida, presidente da ABMTransf (que reúne as instituições de transferência de dinheiro). "O Brasil virou um polo de atração. Com a nossa economia e a moeda forte, toda essa comunidade da América do Sul e Central está voltando os seus olhos para cá", afirma