10/08/10 15h58

País amplia estoque de investimento no exterior

O Estado de S. Paulo – 10/08/10

O Brasil aumentou no primeiro semestre deste ano seu estoque de investimentos - produtivos ou de natureza estritamente financeira - no exterior. Esse movimento ocorreu por causa da elevação dos investimentos brasileiros diretos no exterior (IBD), promovida pelas empresas nacionais, e pela política de acumulação de reservas seguida pelo Banco Central. A ampliação do volume de bens e direitos brasileiros no exterior significa que aumentou a capacidade de o País gerar dólares no futuro, em um horizonte de médio e longo prazos. Isso porque as reservas internacionais produzirão receitas de juros e o IBD vai gerar remessas maiores de lucros e dividendos das filiais de empresas brasileiras que estão no exterior para suas matrizes aqui.

O chamado ativo externo brasileiro neste ano atingiu US$ 514,30 bilhões, volume 7,3% maior que os US$ 479,22 bilhões verificados no fim do ano passado. As reservas internacionais deram a maior contribuição, com elevação de 6,1%, para US$ 253,11 bilhões. Já o IBD subiu 5,5%, para US$ 166,29 bilhões. Enquanto o Brasil ampliou sua presença no exterior, o saldo total de investimentos estrangeiros - produtivos ou financeiros - por aqui ficou praticamente estável, totalizando US$ 1,081 trilhão em junho. Dois fatores foram decisivos para esse comportamento do chamado passivo externo bruto. Um deles foi a estabilidade do estoque de Investimento Estrangeiro Direto (IED), aquele voltado para o setor produtivo, no País.

A desvalorização cambial (o dólar passou de R$ 1,74 em dezembro de 2009 para R$ 1,81 em junho de 2010) levou a uma perda de valor do IED no Brasil, ainda que o volume em reais tenha crescido. Esse impacto, contudo, seria menos visível se o fluxo de investimentos tivesse sido forte como inicialmente previam tanto o BC como o mercado. O estoque de IED em junho foi de US$ 403,82 bilhões. O outro fator que pesou neste ano foi a diminuição de 10,13% no estoque de investimentos estrangeiros em ações, que passou para US$ 338,32 bilhões em junho. Isso também ocorreu em parte pela desvalorização cambial (já que o estoque de ações é contabilizado em reais, como no IED), mas principalmente por causa do comportamento negativo do mercado acionário no primeiro semestre - a bolsa brasileira teve queda de 11,16% no período. O impacto desse movimento no saldo total de investimentos foi compensado pela elevação de quase US$ 10 bilhões no estoque de aplicações de estrangeiros em renda fixa - que está relacionada em parte à elevação dos juros básicos - e, principalmente, pela ampliação de 25,5% nos empréstimos concedidos por estrangeiros, cujo estoque fechou junho em US$ 126,48 bilhões.

A combinação de mais investimentos brasileiros fora do País e de relativa estabilidade na presença estrangeira no Brasil levou a uma redução no primeiro semestre do chamado passivo externo líquido brasileiro. Esse indicador reúne todos tipos de investimentos que brasileiros detêm fora do País e os confronta com os bens e direitos que estrangeiros têm no Brasil, revelando os caminhos por onde entram e saem dólares na economia nacional. Também ajuda a melhor avaliar o grau de vulnerabilidade externa do País, pois mostra a capacidade de geração e de saída de moeda estrangeira na economia. Em junho, o passivo externo líquido brasileiro estava em US$ 566,26 bilhões, volume 5,7% inferior aos R$ 600,66 bilhões (US$ 304,9 bilhões) verificados em dezembro do ano passado, segundo o BC.