17/05/07 10h44

Os concorrentes viraram suco

Exame - 17/05/2007

Na esteira do avassalador sucesso do agronegócio brasileiro, um pequeno grupo de empresários locais acaba de consolidar uma posição capaz de matar de inveja seus pares mundo afora. Ao longo de 2006, os fabricantes de suco de laranja alcançaram um domínio quase total do mercado internacional -- atualmente, 81% de todo o suco de laranja negociado é brasileiro, um feito sem paralelo no agronegócio mundial. Consumidores de 70 países já tomam suco made in Brazil. Tal desempenho é sustentado por apenas quatro empresas -- todas sediadas no estado de São Paulo. Cutrale, Citrosuco, Citrovita e Coinbra concentram 90% da produção brasileira e foram responsáveis pela exportação de 2 bilhões de dólares no ano passado. Para conquistar essa posição, as "quatro irmãs" arrasaram a concorrência internacional. A Flórida, nos Estados Unidos, o grande rival histórico na produção de laranja, vive um período de declínio e já não representa ameaça aos produtores paulistas. O México, terceiro no ranking, não tem cacife para brigar com o Brasil. Nem mesmo a China, ameaça a quase todos os setores da economia, parece capaz de encarar a indústria brasileira. As quatro grandes de hoje compraram nas últimas três décadas mais de 15 indústrias. Houve também preocupação com a infra-estrutura de distribuição. Elas foram pioneiras no transporte a granel, sistema capaz de carregar gigantescas quantidades a custos mais baixos, enquanto a maioria dos concorrentes insistiu em usar os tradicionais latões. Uma das cartadas mais recentes e decisivas foi a instalação de um terminal portuário no Japão no fim dos anos 90, que abriu o mercado asiático para o Brasil. A ironia é que o sucesso colocou a indústria brasileira diante de uma questão -- o que fazer para manter o crescimento. Com pouco espaço para ganhar fatias dos concorrentes, a alternativa é vender mais para os mesmos clientes. Existem dois grandes desafios nessa empreitada. O primeiro é atender às novas exigências dos consumidores. O mercado cresceu com a exportação de suco concentrado, mas cada vez mais gente em todo o mundo prefere o suco natural, considerado mais nutritivo. Os fabricantes precisam se reestruturar para essa nova realidade. Igualmente importante será garantir a matéria-prima. Os laranjais têm perdido espaço para outras culturas, como a da cana-de-açúcar, e sofrido com o avanço das pragas naturais.