25/06/15 14h48

Oracle esquenta disputa na nuvem

Companhia investe em data center em Campinas (SP) — o primeiro na América Latina — para aprimorar sua oferta sob o novo modelo aos clientes brasileiros e da região

Brasil Ecomônico

Um dos maiores ícones do mercado de tecnologia, o sempre polêmico Larry Ellison, cofundador e atual presidente do conselho e executivo-chefe de tecnologia da Oracle, chamou a atenção há alguns anos ao afirmar que a computação em nuvem era uma moda passageira. Do discurso proferido na abertura de uma edição do Oracle World — principal evento da companhia—nada restou. Hoje, o modelo está no centro de uma importante transição estratégica da companhia, ainda em curso. E o mais novo passo dessa jornada foi divulgado ontem, durante a versão latino-americana do Oracle Open World, que está sendo realizada nesta semana em São Paulo. A empresa anunciou oficialmente o investimento em um data center no Brasil para apoiar e aprimorar a entrega das suas ofertas de nuvem no país e na América Latina. O aporte no projeto não foi revelado.

“Estamos investindo pesadamente para construir a equipe, a infraestrutura e a rede de parceiros para assumir a liderança no Brasil e na América Latina”, disse Mark Hurd, executivo-chefe da Oracle. “Temos visto um grande crescimento na adoção da nuvem na região, de 19,7%, e nossas expectativas são elevadas. Se alguém olhasse apenas nossos resultados no Brasil, não diria que o país está em recessão”, completou.

Instalado em Campinas, no interior de São Paulo, o data center entrará em operação em agosto, por meio de uma parceria com um provedor não divulgado. A unidade será equipada com tecnologias da Oracle e contará com o suporte do time da companhia. Há pouco mais de um ano, a empresa havia anunciado o plano de investir em um centro de dados local. Na época, a Oracle estimou que o projeto seria inaugurado — ainda sem local definido — no segundo semestre de 2014. Segundo a empresa, no entanto, os trâmites e a burocracia para a importação dos equipamentos acabaram atrasando esse prazo.
O novo data center passa a integrar uma rede de 19 centros de dados da Oracle ao redor do mundo. Antes do Brasil, o investimento mais recente nessa direção foi realizado no Japão, em abril, durante uma conferência realizada pela companhia em Tóquio. “Hoje, temos cerca de 60 milhões de usuários na nossa nuvem e essa rede global de data centers suporta mais de 33 bilhões de transações diariamente”, disse Hurd.

Inicialmente, afirmou o executivo, a estrutura instalada em Campinas apoiará as ofertas da Oracle na modalidade de software como serviço, em particular, de sistemas de gestão e da área financeira. O plano da companhia é incorporar gradativamente outros módulos— como manufatura e logística — e formatos— infraestrutura e plataformas como serviço — a esse portfólio local. “O data center é apenas um pedaço, mas um pedaço importante dessa estratégia”, observou. Hurd também destacou a contratação de 1,2 mil profissionais na região nos últimos 18 meses e o plano de ampliar essa equipe com mais 500 colaboradores ainda nesse ano, especialmente nas áreas de vendas e de consultoria, com foco na nuvem.

Esse pacote de iniciativas ressalta o plano da Oracle em acirrar a competição na nuvem com uma lista de rivais que inclui desde gigantes tradicionais como Amazon Web Services (AWS), Microsoft e SAP — todas elas com data centers no Brasil — até companhias que já nasceram sob esse modelo, como a Salesforce.com e a Workday. Em linha com a estratégia de encorpar sua oferta, a Oracle anunciou nesta semana a incorporação de um leque de novos recursos em sua plataforma de nuvem, com destaque para serviços relacionados a bancos de dados, big data e armazenamento. “Até outubro, nossa meta é oferecer 95% do nosso portfólio nesse modelo”, disse Hurd.

O executivo não perdeu a oportunidade de alfinetar os concorrentes. “Estamos crescendo mais rápido que qualquer outra empresa no setor. Onde está, por exemplo, a SAP na nuvem? Nós não a enxergamos”, afirmou, para dizer na sequência que a Oracle possui ofertas mais acessíveis na comparação com a AWS.

Hurd destacou alguns números reportados pela Oracle em seu quarto trimestre fiscal, encerrado em 31 de março. No período, a companhia apurou uma receita total de US$ 576 milhões com as ofertas de computação em nuvem, alta de 28% na comparação com o mesmo intervalo, um ano antes, quando essa cifra foi de US$ 450 milhões.

Em um contraponto a esse entusiasmo, a Oracle — como diversas outras empresas que estão migrando para esse modelo — tem despertado a atenção de analistas e investidores. No ano fiscal encerrado em março, a companhia divulgou uma receita global de US$ 38,2 bilhões, o que manteve o desempenho praticamente estável quando comparado ao exercício anterior. O resultado foi impactado especialmente pela valorização do dólar, outro fator que vem puxando para baixo o desempenho das companhias americanas do setor. O sétimo trimestre consecutivo de queda nas vendas de novas licenças de software foi mais um elemento que pesou na avaliação da empresa. Ao mesmo tempo, a receita de US$ 2,1 bilhões na nuvem não foi capaz de compensar esses efeitos. Como base de comparação, a AWS encerrou 2014 com uma receita de US$ 4,6 bilhões. Após a divulgação do resultado, as ações da companhia fecharam o dia cotadas a US$ 42,74, um recuo de 4,8%, o maior desde junho de 2013. Esse cenário, no entanto, parece não diminuir o otimismo de Hurd. “Temos uma previsão de crescer em 60% as receitas na nuvem no próximo ano fiscal. Não há ninguém nesse mercado com um índice tão elevado”, observou.