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O Brasil como uma Economia de Conhecimento em Recursos Naturais

Carta IEDI - 25/07/2008

Relatório recém-publicado pela organização inglesa Demos "Brazil,  the natural knowledge economy", de autoria da pesquisadora Kirsten Bound, analisa as transformações no panorama da ciência e inovação no Brasil na última década e destaca seu caráter distintivo como economia de conhecimento em recursos naturais, na qual se entrelaçam conhecimento, habilidades e inovações com o meio-ambiente e outros ativos naturais. Na visão da autora, a experiência brasileira de integrar competência crescente em ciência e tecnologia com recursos naturais contesta a visão linear dominante segundo a qual as economias baseadas no conhecimento ou em recursos naturais ocupam extremos opostos no espectro do desenvolvimento econômico. Embora a força da inovação no Brasil se revele com clareza nas atividades relacionadas aos recursos naturais "petróleo, ferro, agronegócio, com destaque para os biocombustíveis, o país possui competências bem mais amplas e diversificadas, em particular, na área de pesquisa com células-tronco, genética, software livre, entre outros. Realizado com a colaboração do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organismo vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), o estudo sobre o Brasil integra um programa de pesquisa, denominado Atlas das Idéias, sobre a nova geografia da ciência e inovação, que foi iniciado em 2006 e conta com financiamento de entidades governamentais britânicas e da Microsoft Research. Sem a pretensão de apresentar um quadro completo de todos os aspectos do sistema brasileiro de inovações, o relatório descreve os avanços da ciência e tecnologia no Brasil, ressaltando o aumento expressivo no número de artigos publicados em revistas científicas e de doutores e mestres, e aponta para a necessidade de ampliar o investimento privado em P&D, de aumentar o número de cientistas trabalhando na indústria e de reduzir a desigualdade social mediante o fortalecimento da educação básica e da inclusão. Como pontos fortes do Brasil em C&T, o relatório destaca, além da estabilidade política e econômica, o apoio governamental bem organizado, tanto em termos financeiros quanto regulatório à ciência e tecnologia, a base crescente de conhecimento e recursos humanos qualificados, a existência de empresas inovadoras como a Petrobrás, Embrapa e Natura, que, ao lado da Vale e Gerdau, seriam "heróis feitos em casa", a riqueza em capital ambiental, a cultura que valoriza a criatividade e a posição confiável, ainda que desafiadora, em termos da propriedade intelectual global. São identificadas igualmente debilidades que comprometem a  exploração do potencial científico e tecnológico: as desigualdades sociais e regionais, a baixa taxa de conversão de conhecimento em inovação patenteável; sistema de inovação excessivamente focado no mercado doméstico, carga tributária elevada, dificuldade de exploração sustentável da riqueza ambiental, sistema educacional deficiente, desinteresse em reter e  atrair profissionais altamente qualificados e talentosos que estão vivendo no exterior.