02/02/11 11h43

Nuvem estimula criação de companhias

Valor Econômico

Nos últimos anos, as empresas de tecnologia da informação (TI) têm feito investimentos bilionários para construir enormes centros de dados ao redor do mundo e embarcar na oferta da computação em nuvem. Não se trata exatamente de uma nova tecnologia, mas de um modelo pelo qual os sistemas usados pela empresas não precisam ser instalados nos computadores dos funcionários e podem ser acessados via internet. Grandes companhias identificaram rapidamente a tendência e passaram a oferecer serviços sob esse modelo, incluindo nomes como Microsoft, Hewlett-Packard (HP) e IBM.

Como uma espécie de segunda onda, no entanto, a "nuvem" agora está estimulando a criação de companhias menores, que usam a infraestrutura já montada pelas empresas maiores para oferecer serviços adicionais sob o mesmo formato. A vantagem para essas companhias é que a nuvem dispensa a compra de equipamentos e reduz o tamanho das equipes necessárias, o que permite a elas disputar negócios sob condições mais vantajosas. "Se não fosse o modelo de nuvem, o preço do serviço que oferecemos teria que ser 60% maior", diz Rodrigo Resegue, sócio-fundador da Blue Service, companhia que acaba de colocar no ar um sistema de gestão de relacionamento com clientes.

Em dois anos, Resegue e o sócio Rodolfo Ometto Rolim investiram R$ 1,8 milhão (US$ 1,1 milhão) para desenvolver o sistema e montar a companhia. Em cinco anos, o objetivo é chegar a um faturamento de R$ 7 milhões (US$ 4,1 milhões). No alvo estão empresas a partir de 50 funcionários. O sistema da Blue Service fica hospedado na Locaweb, companhia especializada em serviços de centro de dados. Os clientes têm acesso ao software pela internet e pagam somente pelo uso feito no período de um mês. À Locaweb, a Blue Service paga pela quantidade de dados armazenados e pelo uso que faz dos computadores de seu centro de dados. Nem a Blue Service, nem seus clientes precisam comprar licenças de software, manter computadores potentes em funcionamento ou ter equipes de prontidão para garantir o funcionamento dos sistemas.

O efeito, segundo os defensores do modelo, não se limita ao custo menor. Sem ter que se preocupar com a manutenção de uma estrutura física, as empresas conseguem dar mais atenção ao desenvolvimento de seus produtos, comenta Gustavo Perez, diretor-executivo da MTM Tecnologia, empresa criada há cinco anos e voltada à área de mobilidade. Especializada no setor de saúde, a MTM teria muita dificuldade para crescer se não fosse a "nuvem", afirma Perez. A questão é que nos Estados Unidos e em alguns países da Europa as informações dos pacientes não podem ser armazenadas em centros de dados fora das fronteiras. Isso significa que uma companhia como a MTM teria de manter uma infraestrutura própria em cada país se quisesse disputar negócios nesses mercados. Com a "nuvem", a MTM aluga infraestrutura local, garantindo seu espaço de competição. A MTM escolheu a Microsoft como prestadora de serviços de hospedagem e fornecedora do sistema de apoio aos seus serviços.

Segundo Giovani Amaral, executivo-chefe da Sofit, o modelo de computação em nuvem dá à empresa mais mobilidade e agilidade. A Sofit foi criada há poucos meses por Amaral e dois ex-executivos da Datasul: Jorge Steffens e Paulo Caputo. Seu primeiro produto é um sistema de gerenciamento de frotas. O objetivo é lançar mais dois sistemas nos próximos dois anos. A companhia escolheu a americana Salesforce.com como parceira. Além de armazenar em sua infraestrutura os dados da Sofit e dos clientes da companhia, a Salesforce.com fornece as ferramentas de desenvolvimento - programas que ajudam a criar programas.

No primeiro ano, a Sofit planeja investir R$ 1 milhão (US$ 588 mil) em suas atividades. No valor está incluída a transferência de propriedade do software de gestão de frotas, que originalmente foi criado pela Datasul. Em 2008, a Totvs adquiriu a Datasul e passou a ter controle sobre os produtos da empresa. Agora, além de comprar com o programa da Totvs, a Sofit adquiriu a base de usuários do software. Sob o modelo tradicional, Amaral estima que o investimento na criação da Sofit teria que ser pelo menos três vezes maior. O principal custo seria o de preparar uma estrutura de vendas e instalação dos produtos em diversos locais. Até 2015, a estimativa da Sofit é ter uma receita de R$ 11 milhões (US$ 6,5 milhões), com base no Brasil e na América Latina. Amaral diz, entretanto, que as vendas podem vir de qualquer lugar do mundo, já que os sistemas estão disponíveis via internet.