19/08/13 16h04

Núcleo moderniza controle aéreo brasileiro

Correio Popular ( Região de Campinas)

CPqD assume papel central para novo modelo de fiscalização da aviação no País
 

A inauguração de um Núcleo de Desenvolvimento de Tecnologias de Defesa e uma parceria firmada com o Comando da Aeronáutica (ligado ao Ministério da Defesa) vão transformar o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), em Campinas, em referência para uma reformulação completa no sistema de controle de tráfego aéreo no Brasil.

A inauguração do núcleo aconteceu no último dia 15 e a parceria, de cinco anos, foi assinada no final de julho com objetivo de criar uma rede única que integre todos os centros de controle dos aeroportos do País para melhorar o desempenho, a demanda e a segurança do setor aéreo.

O controle de tráfego aéreo gerencia as rotas e frequências de aeronaves e tem como objetivo garantir a segurança dos voos comerciais e executivos dentro do espaço aéreo brasileiro (que inclui os 8,5 milhões de km² do território e mais 13 milhões de km² de áreas oceânicas próximas). Quanto mais moderno e preciso o sistema de controle, maiores os índices de segurança e menores os riscos de acidentes aéreos.

No Brasil, ele é de responsabilidade do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), vinculado ao Ministério da Defesa, que administra o serviço com base nas normas da Organização de Aviação Civil Internacional (Oaci). Além dos voos comerciais e executivos, também são monitorados lançamentos de sondas e foguetes, voos de asa delta, salto de paraquedas e até treinamentos antiaéreos.

O atual sistema de comunicação usado entre controladores e aeronáutica, que segundo especialistas consultados pelo Correio conta com equipamentos defasados e tecnologias ultrapassadas, é um dos maiores gargalos da aviação do País. Além disso, o setor espera por um avanço tecnológico no monitoramento de voos por satélite. Hoje, esse controle é feito por radares instalados em solo, da mesma forma como era feito há décadas. Um novo sistema (por satélite) ainda passa por teste.

Segundo os especialistas, o sistema de comunicação usado atualmente é muito simples e antigo — ainda utiliza o rádio como principal canal. A intenção da parceria é passar a utilizar a tecnologia VoIP — que utiliza a internet para a transmissão rede de voz e de dados. A nova tecnologia não vai anular imediatamente a atual, mas será implantada aos poucos, até se tornar a rede principal em operação no País. O Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo 3 (Cindacta), em Recife, será o primeiro a ser equipado com a nova tecnologia.

Além da troca de tecnologia, o CPqD dará suporte à Comissão de Implantação do Sistema de Controle do Espaço Aéreo (Ciscea) para a criação da Rede de Telecomunicações Aeronáuticas (ATN Nacional). A rede vai fazer a interligação entre os centros de controle do tráfego aéreo.

“O projeto da ATN Nacional possibilitará o compartilhamento de recursos e aplicações que suportam a prestação do serviço de controle do tráfego aéreo no Brasil, resultando em grande flexibilidade operacional e técnica”, explicou o major brigadeiro Carlos de Aquino, presidente da Ciscea.

O major explicou que com o início da operação da ATN Nacional serão criados centros de controle de contingência para resolução de problemas aéreos. “Além dos centros de controle de contingência também será criado um centro de gerência técnica nacional”, afirmou.

O gerente de Defesa e Segurança do CPqD, Everton Corrêa, afirmou que será criado no centro, em Campinas, um laboratório de validação dos equipamentos novos. “Criaremos um laboratório único no País, onde toda essa tecnologia será testada e validada para, na sequência, ser usada em campo. No Brasil não existe um laboratório como esse que será montado no CPqD, com capacitação para realizar esses tipos de testes.” O laboratório está em fase de projeto e deve começar a ser construindo até o final deste mês.

Ele afirmou que o principal desejo da aeronáutica é recuperar a defasagem tecnológica acumulada ao longo dos últimos anos. “A intenção com a utilização dessa tecnologia é aumentar o desempenho e melhorar o controle do tráfego aéreo do País. Se a comunicação melhora, o controle aéreo se torna mais eficiente”, afirmou. Mas, o gerente já adiantou que a evolução será lenta. “É um projeto de longo prazo. De no mínimo cinco anos, até oito. A Aeronáutica gostaria que fosse mais rápido, mas não é possível.”

“Ao encarregar o CPqD da construção e operação desse laboratório, a Ciscea tem a intenção de propiciar ao País o acesso ao conhecimento e domínio da tecnologia envolvidos, em benefício não só do projeto da Rede ATN como também de outros projetos de missão crítica de interesse do Ministério da Defesa”, afirmou.