02/03/18 11h36

Novos investimentos das montadoras somam US$ 30 bi

Valor Econômico

Há até pouco tempo, a Renault do Brasil importava da Turquia peças em alumínio usadas nos motores que produz em São José dos Pinhais, no Paraná. No ano passado a montadora decidiu construir sua própria fábrica de injeção de alumínio. A unidade será inaugurada no início da próxima semana. Distante dali, no interior de São Paulo, a Volkswagen não apenas deixou de depender, há dois anos, da importação de virabrequins, uma peça vital do motor, que vinham da Alemanha, como vai, agora, fazer o caminho inverso. A empresa acaba de fechar contrato para exportar virabrequins produzidos em São Carlos para a fábrica da Volks em Chemnitz, no leste da Alemanha.

A indústria automobilística vive uma nova onda de investimentos, que surge, em grande parte, pelo aumento da nacionalização de componentes, estimulada pelos incentivos do programa federal Inovar-Auto, encerrado em dezembro. Mas não é apenas isso. Boa parte da capacidade ociosa, que marcou o período da crise nesse setor, começa a ser ocupada graças à recuperação do mercado interno e a conquista de novos contratos externos.

Algumas montadoras programaram novos investimentos, outras ampliaram os existentes. Os planos dessas empresas para um período que vai de 2014 a 2022 somam mais de US$ 30 bilhões em projetos espalhados em várias cidades do país. Mas a maior parte dos recursos será aplicada num período menor - entre 2017 e 2020. Praticamente todas estão também em processo de abertura de novos turnos, com a volta de operários afastados e algumas contratações.

Fruto de projetos que começaram a ser elaborados há cerca de dois anos, grande parte dos novos investimentos foi anunciada no último trimestre de 2017, quando os dirigentes do setor animaram-se com o ambiente macroeconômico, que expunha a aprovação do teto de gastos públicos e um calendário de reformas que parecia firme. "Há dois anos os dirigentes das montadoras sentiram que o Inovar-Auto oferecia previsibilidade", diz o vice-presidente da General Motors Mercosul, Marcos Munhoz.

Boa parte dos investimentos anunciados será usada na modernização, nacionalização e ampliação da capacidade nas fábricas de motores. A Renault investiu R$ 750 milhões para fazer as próprias peças de alumínio e modernizar linhas de fundição. O projeto envolveu 2 mil pessoas de onze países. Em Joinville (SC), a General Motors acaba de quadruplicar a capacidade da sua fábrica de motores. A montadora pretende transformar a operação numa plataforma de exportação.

O maior e mais longo programa de investimentos foi anunciado pela GM. Total de R$ 13 bilhões serão aplicados entre 2014 e 2020. Além da ampliação da linha de motores, a empresa moderniza fábricas e se prepara para lançar novos veículos. A renovação da linha é também o principal objetivo da Volkswagen, que no fim de 2017 anunciou plano de R$ 7 bilhões, voltado ao lançamento de 20 veículos até 2020. Desse total, 13 serão produzidos no Brasil. A Nissan programou R$ 750 milhões para a fábrica de Resende (RJ).

Componentes produzidos no interior de São Paulo são usados em carros fabricados no México e Europa

A modernização industrial no setor alavanca compras de máquinas. O programa da GM destinou R$ 1,2 bilhão para sua fábrica mais antiga no Brasil, em São Caetano do Sul, no ABC. Uma grande parte será gasta em novas máquinas. Munhoz cita quais foram adquiridas no Brasil: sistemas de transportadores automáticos, sistemas de pintura de plásticos e dispositivos de montagem de carrocerias.

A GM utiliza recursos próprios para investir no Brasil, segundo Munhoz. Já a Volkswagen recorre também a linhas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), segundo Pablo DI Si, presidente da Volks na América do Sul.

A necessidade de investir em ampliações nas fábricas de motores vem, em grande parte, das exportações, tanto de motores como de veículos. Di Si diz que trabalha para fechar contratos com pelo menos cinco novos mercados fora da América Latina para vender os automóveis produzidos no país. De São Carlos saem os motores que equipam os modelos Jetta e Golf, produzidos pela Volks em Puebla, no México. Recentemente, a unidade brasileira começou a enviar blocos de motores para os modelos Polo e up! produzidos na Alemanha. Em 2017 a Volks exportou o equivalente a US$ 5,4 bilhões, quase um terço da receita obtida no exterior por todo o setor com a venda de veículos fabricados no Brasil.

A Toyota vai usar R$ 1 bilhão para produzir um novo modelo em Sorocaba (SP), o Yaris, e mais R$ 600 milhões na ampliação da capacidade da linha de motores, na vizinha Porto Feliz. Essa fábrica é um exemplo de investimentos que surgiram a partir do Inovar-Auto. Desde que se instalou no país, em 1958, a Toyota importava os motores dos carros produzidos no Brasil. Mas, diante das novas exigências do programa automotivo, em 2016 começou a fabricar esse tipo de componente no Brasil.

"Eu estive no Brasil entre 2000 e 2002 e lembro bem o tipo de carro que tínhamos", diz Di Si, em defesa do Inovar-Auto. Elogiar os avanços em termos de economia de combustível e tecnologia nos carros, garantidos pelo programa automotivo que vigorou entre 2012 e 2017, tem sido a forma que os dirigentes dessa indústria encontram para tentar convencer o governo federal a adotar um novo programa, que já está praticamente pronto. Mas o Ministério da Fazenda rejeita a ideia de conceder às montadoras mais incentivos fiscais à pesquisa e desenvolvimento.

A indústria de caminhões também reserva investimentos para renovar produtos. São R$ 2,4 bilhões na Mercedes-Benz entre este ano e 2022. A Scania elevou de R$ 100 milhões para R$ 520 milhões a média anual de investimentos em sua fábrica, em São Bernardo do Campo (SP), o que totaliza de R$ 2,6 bilhões no período entre 2016 e 2020. A MAN está no meio de um programa que soma R$ 1,5 bilhão - o maior da sua história -, a ser concluído até 2020. No ano passado, a Volvo anunciou o plano de R$ 1 bilhão, a ser aplicado entre 2017 e 2019.

Tanto no segmento de caminhões como de automóveis o momento inspira as montadoras a abrir novos turnos de trabalho. Operam com três turmas as fábricas da Volks em São Bernardo e da GM em Gravataí (RS). Segundo Munhoz, a GM, estuda reativar a terceira equipe em São Caetano e a Toyota avalia fazer o mesmo em Sorocaba pela primeira vez na história. A Volvo anunciou há poucos dias a contratação de pessoal temporariamente para o segundo turno em Curitiba (PR). Além disso, os empregados da Mercedes e da MAN têm feito horas extras em alguns sábados, recurso historicamente usado nas montadoras, mas que desapareceu durante a crise.