08/01/18 13h32

Novo rumo da Embraer terá impacto no setor, diz Akaer

Valor Econômico

Os novos rumos da Embraer no mercado de aviação mundial podem ser decisivos para deslanchar a cadeia aeroespacial brasileira em direção às exportações de componentes e serviços. Excluindo a Embraer, a participação das empresas brasileiras no fornecimento de aeroestruturas é próxima de zero. O mercado global das fornecedoras de nível um (tier one), sem incluir as OEMs (fabricante do equipamento original), movimenta anualmente US$ 50 bilhões.

A maior parte das peças e componentes que a Embraer utiliza é comprada no mercado externo. O Valor apurou que as empresas brasileiras estão descapitalizadas e sem recursos para investir em novos desenvolvimentos e de maior valor agregado. A cadeia de fornecedores nacionais da Embraer é formada por 70 empresas.

Para o presidente da Akaer, especializada no desenvolvimento de aeroestruturas e gestão de projetos, Cesar Augusto da Silva, a parceria entre Boeing e Embraer pode ser uma oportunidade para as empresas brasileiras ganharem competitividade e conhecimento necessários à sua inserção na cadeia global da fabricante americana.

A Embraer chegou a responder por 60% do faturamento da Akaer em 2015, mas hoje caiu para 20%. A sueca Saab tem participação de 50% no faturamento da Akaer. Em 2017, segundo Silva, a empresa deve fechar com receita de R$ 48 milhões, ante os R$ 55 milhões do ano anterior.

"A queda na receita foi devido principalmente ao cancelamento de alguns contratos com a Embraer, que decidiu adiar programas e internalizar serviços", disse.

As empresas da cadeia aeronáutica, segundo o presidente da Akaer, precisam de uma política industrial que garanta o desenvolvimento de bons projetos, especialmente na área de estruturas para reduzir a dependência da Embraer. "Isso exige apoio maior do governo no início, mas depois isso é compensado com as exportações", disse o empresário.

Silva lembra que o governo deixou escapar a oportunidade de desenvolvimento da cadeia como fornecedora de classe global com o programa do jato de transporte militar KC-390. O governo investiu US$ 2,5 bilhões no desenvolvimento desta aeronave. "Precisamos participar do ciclo completo de fornecimento de componentes, desde o projeto, compra, fabricação até a entrega do produto."

A Akaer foi uma das poucas empresas brasileiras a participar da fase de concepção do KC-390. "Projetamos 70% da estrutura da aeronave e também tivemos uma parcela do projeto detalhado da fuselagem dianteira, do estabilizador vertical e spoilers", explicou.

O empresário lembra que a Kawazaki deixou o desenvolvimento das asas da primeira família de E-Jets da Embraer após aprender a fazer grande parte do trabalho. "A Embraer teve que assumir essa função e nós fizemos toda a revisão do projeto da asa para que o projeto tivesse continuidade."

Com o apoio financeiro do governo espanhol e suporte técnico da Embraer, a Aeronova se capacitou para se tornar fornecedora no programa de desenvolvimento da primeira família de jatos da brasileira, para 50 passageiros. Hoje a Aeronova se tornou uma fornecedora de classe um do mercado mundial de aeroestruturas.

Para continuar crescendo e diminuir a dependência da Embraer, a Akaer buscou novos clientes. A sueca Saab transferiu importantes responsabilidades no projeto de desenvolvimento de partes estruturais do caça Gripen, adquirido pela Força Aérea Brasileira (FAB).

Amparada pela Finep, a Akaer investiu R$ 40 milhões na criação de uma empresa integradora, com capacidade para desenvolver, produzir e entregar aeroestruturas equipadas para as OEMs. Sua carteira de clientes inclui ainda a Boeing e Airbus. "Fizemos a revisão de toda a parte elétrica da cabine de comando do A380", afirmou.

Nos últimos dois anos a Akaer investiu R$ 80 milhões na aquisição de empresas, diversificação do portfólio e em um processo de internacionalização. Recentemente abriu uma empresa em Portugal e pretende se instalar nos EUA.