Novo centro de pesquisa em São Paulo deve ampliar gás natural na matriz energética
Agência FAPESPPara contribuir com a ampliação da participação do gás natural na matriz energética brasileira e com a mitigação das emissões de gases de efeito estufa nas próximas décadas, entre outros objetivos, a FAPESP e a BG Brasil, empresa do BG Group, criaram o Centro de Pesquisa para Inovação em Gás Natural, com sede na Universidade de São Paulo (USP).
O investimento da FAPESP será de R$ 27 milhões e o da BG Brasil de R$ 30 milhões. Cabe à USP uma contrapartida na forma de apoio institucional e administrativo aos pesquisadores envolvidos.
A iniciativa foi apresentada ontem (1º/12), na sede da FAPESP, em São Paulo (SP), com a participação de representantes do poder público, da indústria e da comunidade científica.
O Centro de Pesquisa para Inovação em Gás Natural terá sede na Escola Politécnica (Poli) da USP e será coordenado por Julio Meneghini, professor da instituição, e Alexandre Breda, gerente de Projetos Ambientais do BG Group. A proposta foi selecionada no âmbito de chamada conjunta da FAPESP e da BG Brasil e as pesquisas serão conduzidas em parceria entre pesquisadores da Poli, dos institutos de Energia e Ambiente (IEE) e de Química (IQ) da USP de São Carlos, da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e de engenheiros da BG Brasil.
Também são instituições associadas à iniciativa o Sustainable Gas Institute do Imperial College London, a University College London, a University of Cambridge e a University of Leeds, todos no Reino Unido; a University of Illinois at Urbana-Champaign e a Texas A&M University, nos Estados Unidos; a Technische Universitaet Darmstadt, na Alemanha; e a Université de Lyon, na França.
Para José Goldemberg, presidente da FAPESP, trata-se de um marco da participação brasileira no que ele chamou de “revolução energética global”.
“O mundo vive uma revolução que deve culminar no amplo desenvolvimento de fontes renováveis de energia, mas nós ainda não chegamos lá.
Nesse cenário, o gás natural se apresenta como uma transição por ser o mais limpo dos combustíveis fósseis. A FAPESP, ao lado da BG Brasil, financia uma iniciativa de proporções compatíveis com os desafios e os potenciais que São Paulo tem de gerar energia limpa. A Fundação acredita no papel do conhecimento científico nessa revolução”, declarou.
Para Adam Hillier, diretor de Tecnologia do BG Group, a criação do Centro de Pesquisa para Inovação em Gás Natural poderá prover soluções importantes a todos os parceiros envolvidos.
“A expertise do BG Group em gás natural está se unindo a esforços de pesquisa de diferentes áreas nas quais São Paulo é líder no cenário científico global. Dessa forma, a parceria tem o potencial de desenvolver pesquisa brasileira de classe mundial e proporcionar aplicações reais na indústria, como no pré-sal e no enfrentamento de desafios muito particulares, como o aumento da eficiência e o desenvolvimento de novos conceitos de propulsão híbrida para frotas de navios de metano.”
Ricardo Toledo Silva, secretário adjunto de Energia e Mineração do Estado de São Paulo, destacou na ocasião a importância do gás natural frente aos desafios que as fontes renováveis de energia ainda enfrentam.
“É urgente o crescimento das fontes renováveis na matriz energética, mas elas ainda enfrentam um problema em comum que é o de interrupção – como a biomassa, cuja disponibilidade é sazonal, e as energias solar e eólica, sujeitas a ciclos diários de instabilidade. Há várias áreas de pesquisa interessadas em resolver esses problemas e em desenvolver soluções para, por exemplo, estocar o acúmulo da energia gerada. Até lá, é de extrema importância o investimento no crescimento do gás natural como uma fonte de transição para a demanda energética.”
Cooperação
De acordo com Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, a parceria entre a instituição e a BG Brasil ampliará a competitividade do Estado de São Paulo na área por meio da cooperação entre diferentes setores.
“Além de tornar a matriz energética brasileira, em particular a paulista, ainda mais alinhada às políticas que propiciem uma substancial diminuição das emissões de gases de efeito estufa, o esforço conjunto que levou à criação do Centro de Pesquisa para Inovação em Gás Natural envolve pesquisadores da universidade e da indústria e um pool de estudantes em uma rede de conexões internacionais de grande importância ao desenvolvimento do conhecimento científico. Este é um diferencial da parceria: não se trata de uma companhia utilizando pesquisadores da universidade, mas de cientistas trabalhando juntos.”
A cooperação entre a universidade e a indústria foi celebrada por Marco Antonio Zago, reitor da USP, que destacou a participação de um conjunto de pesquisadores da instituição no desenvolvimento do Centro.
“Esta iniciativa, voltada a uma área estratégica não só para São Paulo, evidencia que a universidade desempenha um papel importante nas ciências básicas e também representa um lugar fundamental para a cooperação entre a pesquisa e a indústria. Foram três anos de um extenso trabalho entre pesquisadores da USP e da BG Brasil que resultaram em uma parceria capaz de oferecer soluções completas aos desafios energéticos com os quais o Brasil e o mundo lidam.”
Desafios
Além de ampliar a presença do gás natural na matriz energética do Estado de São Paulo e do Brasil, estão entre os objetivos do Centro de Pesquisa para Inovação em Gás Natural enfrentar os desafios relacionados à separação e ao transporte de gás natural a partir da bacia do pré-sal de Santos até a costa, mitigar CO2, CH4 e outros gases de efeito estufa, aumentar a eficiência dos processos de combustão, promover a produção de biogás e a integração de sua produção à rede de gás natural paulista e desenvolver sistemas de armazenamento inovadores e de pouco peso.
De acordo com Meneghini, os desafios serão divididos em três grandes programas: Engenharia, Físico-Química e Política Energética e Economia.
No âmbito do Programa de Engenharia, será tratada a pesquisa científica e tecnológica focada na promoção de energia de baixo carbono, incluindo geradores de gás natural em pequena escala, combustíveis de gás natural e hidrogênio para o transporte, abordando questões técnicas em torno da produção e do manuseio de combustíveis misturados e o desenvolvimento de códigos e normas. Também serão abordados o uso de gás natural no transporte marítimo e oportunidades para minimizar emissões de metano e perdas de abastecimento de gás.
“Nesse contexto, as pesquisas buscarão, entre outros objetivos, o desenvolvimento de um queimador de gás natural avançado utilizando o conceito oxicombustível, um Laboratório de Diagnóstico Avançado para a combustão a diesel e gás natural, otimização do projeto de sistemas de armazenamento de gás natural absorvido e um projeto conceitual de transportes híbridos de força baseados em gás natural para navios, além de simulação numérica e modelagem de engenharia e físico-química”, contou Meneghini.
No âmbito do Programa de Física e Química, serão realizadas pesquisas focadas na geração de energia de baixo carbono, substituição de combustíveis e de transportes, além de novas aplicações para o gás, desenvolvendo a capacidade de reduzir o impacto ambiental da combustão de gás natural. Entre os projetos na área estão o desenvolvimento de um queimador de gás natural avançado usando o conceito de oxidação sem chama e de pilhas de combustível para funcionamento a gás natural.
Por fim, o Programa de Política Energética e Economia tratará da promoção de infraestrutura e de políticas de incentivo à utilização de gás, incluindo medidas para o desenvolvimento de gás em sistemas de energia.
“O programa terá foco no desenvolvimento do gás como fonte de energia-chave, demonstrando como este combustível pode ser integrado a sistemas de energia no contexto brasileiro emergente, tratando ainda da constituição de cadeias de fornecimento de gás natural para áreas remotas, entre outros objetivos”, disse Meneghini.