Novas oportunidades
Valor EconômicoDesvalorização do real, novos acordos comerciais como a Parceria Transpacífico (TPP, sigla em inglês) e concessões de infraestrutura para a iniciativa privada já estimulam negócios de empresas brasileiras na América Latina, um movimento que deverá ganhar força ao longo dos próximos meses.
Na rodada de negócios promovida semana passada, em São Paulo, pelo WTC Business Club e pela Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), a desvalorização cambial foi apontada como um dos estímulos para empresas brasileiras fecharem contratos de exportação. Fornecedora de plásticos, a Radach acertou o envio de uma remessa de aviamentos de embalagens para a Manufacturas Americanas, fabricante têxtil equatoriana especializada na confecção de camisas.
O primeiro embarque, no valor de US$ 5 mil, será feito em dezembro. "O custo será um terço do fornecedor colombiano e faremos um teste. Se bem-sucedido, iremos comprar mais gradualmente, cerca de 10% a 15% mais por ano. Antes, com o real valorizado, ficava caro comprar de empresas brasileiras", diz o gerente geral da empresa equatoriana, Daniel Ehrenfeld.
A empresa tem ainda 30 lojas próprias em que vende acessórios, como trajes de banho e óculos. "Estamos prospectando outros negócios aqui no Brasil, porque o design é um diferencial, o que não se encontra na China."
Já a Ornare, marca brasileira de móveis sob medida de alto padrão, está expandindo sua atuação nos EUA e no México. Presente nos EUA desde 2006, a empresa mantém showrooms em Miami e Dallas e, recentemente, abriu uma franquia na Cidade do México. A empresa exporta para todos os países das Américas, além de Europa e África.
"Existem outras franquias interessadas em ir para os EUA e para a América Latina, uma forma de manter a taxa de expansão", diz Sérgio Frota, vice-presidente executivo do WTC São Paulo Business Club, que recentemente adquiriu licença para operar a unidade do grupo em Fort Lauderdale, na Flórida.
Com fábricas nos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte e São Paulo, além de uma unidade no Equador e outra na Argentina, a Vicunha está entre os principais fabricantes mundiais de índigos e brins. A internacionalização na América Latina é um dos focos.
Em 2007, a empresa adquiriu uma unidade no Equador, cujas exportações respondem por 50% da receita local. O mercado do Pacto Andino, do qual o país é signatário, e do México é do tamanho do brasileiro. "Modernizamos a fábrica do Equador, e, na Argentina, estamos avaliando ampliar a unidade ou fazer uma aquisição ali, onde estamos desde 1989 e que, acreditamos, deve crescer com o novo governo", diz o presidente da Vicunha Têxtil, Ricardo Steinbruch.
Questionado se o avanço do TPP - acordo que envolve EUA, Japão e dez outros países, como Vietnã, Chile, México e Peru - poderia fazer a empresa investir em outros países da América Latina, o empresário disse que o foco da Vicunha é a internacionalização na região.
Para Jacques Marcovitch, ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP), o acordo comercial entre os 12 países do Pacífico poderá ter impacto sobre a balança comercial e sobre os investimentos das empresas brasileiras no exterior. "O acordo é muito amplo, envolve países da América do Norte, América do Sul e Ásia. O frango brasileiro pode perder competitividade para atingir alguns mercados em relação ao produto americano, que poderá chegar com preço melhor e logística mais eficiente."
Além dos acordos e da desvalorização cambial, oportunidades surgem em programas de investimento de governos da região. Entre 2014 e 2018, o governo colombiano prevê investimentos de US$ 30 bilhões em projetos de infraestrutura, com destaque para linhas ferroviárias que deverão ser viabilizadas por meio de Parcerias Público-Privadas (PPP) e novas concessões de rodovias.
A expectativa é de que o país cresça 3% neste ano e em 2016. "Outra vantagem é estarmos inseridos em acordos comerciais, como a TPP e com os países andinos, além de estarmos trabalhando em acordos bilaterais com a Coreia do Sul e e o Japão. Podemos ser uma plataforma para acessar mercados muito maiores", destacou Juan Carlos Gonzalez, vice-presidente de investimentos da Pro Colômbia, agência de promoção de investimentos no país.
A Colômbia é um dos 20 países que mais recebem investimentos no mundo, um total de US$ 16 bilhões no ano passado. Os setores de petróleo e mineração representam 40% do total. Os EUA e o Reino Unido respondem por dois terços dos investimentos, enquanto o Brasil, oitava maior investidor local, representa 1,5% do fluxo de recursos atraídos ao país sul americano ano passado.
No Equador, o governo local está colocando de pé um plano que deverá atrair US$ 37 bilhões em investimentos em refinarias, siderúrgicas, alumínio, petróleo e infraestrutura em três anos. Para atrair o capital privado, recentemente o Congresso equatoriano aprovou uma legislação sobre parcerias público-privadas, para aumentar a segurança jurídica das empresas que investirem. "Nos últimos dez anos, crescemos 5%, enquanto o desemprego caiu abaixo dos 5%", afirmou o embaixador no Brasil, Horacio Borja.
Para André Favero, diretor de negócios da Apex Brasil, a internacionalização das empresas enfrenta obstáculos. Todo ano, a agência apoia cerca de 200 processos de empresas interessadas em buscar negócios no exterior. Cerca de 90% dos problemas que elas enfrentam não estão no produto, na oferta de serviços, no acerto com parceiros locais ou na certificação dos processos, mas, sim, em áreas de apoio. "Os principais problemas são burocracia, remessa de lucros e contratação de pessoal."
Internacionalizar as operações demanda estratégia. Segundo ele, mesmo em empresas de médio e grande portes, quando se aplica um questionário básico sobre as razões para desejar mais contatos no exterior, duas perguntas não são respondidas. "Muitos dizem que o conselho de administração ainda não está a par da intenção e que não foram direcionados recursos no orçamento para internacionalizar", afirmou o diretor da Apex. Segundo ele, outro ponto a ser equacionado é a logística.
Os compradores de produtos brasileiros dizem que o preço de fábrica é bastante competitivo, mesmo em relação aos manufaturados na China, mas a logística os encarece. "Centros de distribuição no exterior podem ser uma forma de baratear", diz.
Os negócios têm via dupla. No fim da década passada, ao planejar seu crescimento, a Femsa Logística, maior empresa mexicana do setor, destacou o Brasil como um de seus mercados prioritários. A empresa, que até então era distribuidora de produtos Coca-Cola em algumas cidades, traçou uma estratégia orientada via aquisições, primeiro de uma empresa com destaque nas regiões Sul e Sudeste, depois com transportadora de alcance nacional.
Em 2013, foi acertada a compra da Expresso Jundiaí. Em 24 meses, foram abertas nove filiais e comprados 200 veículos, com a ampliação do leque de operações da Femsa, incorporando cargas fracionadas, serviços de maior valor agregado e armazenamento de produtos, com foco nas regiões Sul e Sudeste. "Queremos ser um operador logístico integral", disse José Manoel, presidente da Femsa Logística no Brasil.