06/04/18 11h30

No limite, Volkswagen estuda expansão

Valor Econômico

A maior fábrica da Volkswagen no Brasil, em São Bernardo do Campo (SP), está com a capacidade de produção esgotada. Da unidade que passou a funcionar 24 horas saem diariamente 1.096 automóveis. Faltam só quatro veículos para chegar ao limite, de 1.100 por dia, diz Pablo Di Si, presidente da montadora na América do Sul. Di Si precisa agir rápido e buscar fôlego se quiser que as vendas da Volks sigam o ritmo de crescimento acima do mercado, como tem acontecido. O caminho ideal seria investir mais. Nos próximos dias, a direção da companhia decidirá se amplia o programa investimentos no Brasil, que até agora soma R$ 7 bilhões entre 2016 e 2020.

Indefinições em torno do novo programa automotivo, o Rota 2030, atrapalham decisões sobre investimentos, afirma o executivo. A principal são as divergências no governo, que podem reduzir o período de concessão de incentivos fiscais. Por outro lado, Di Si diz que nas conversas com a matriz alemã sobre a necessidade de investir mais ele tem argumentado que as reduções de incentivos podem não ser definitivas, já que o governo vai mudar no ano que vem.

O que mais preocupa o executivo é o receio de a indústria de autopeças não conseguir acompanhar o ritmo das linhas de veículos. No início do ano, a Volks foi obrigada a manter carros incompletos nos pátios até a chegada das peças.

A preocupação com fornecimento de componentes é natural num setor que acelerou a produção depois de passar três anos operando a níveis muito abaixo da capacidade. Há dois anos, as montadoras operavam com 52% de ociosidade. O índice baixou para 40% este ano, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Mas nas fábricas de carros a ociosidade agora baixou mais, para 37%.

O aumento da demanda tem sido sentido por toda a indústria. Mas a Volks teve de acelerar o ritmo de forma mais intensa por outros motivos. Primeiro, para recuperar o tempo perdido durante uma briga com um fornecedor, que durante um longo período, durante a crise, interrompeu o abastecimento de itens essenciais, como bancos de carros. Além disso, a empresa está em plena fase de renovação da linha de produtos, que prevê o lançamento de 20 veículos até 2020.

Com dois dos novos modelos no mercado desde o início do ano, a marca alemã cresceu mais que o dobro do mercado. Suas vendas no primeiro trimestre avançaram 31,69% na comparação com o mesmo período de 2017. Na mesma base de comparação, o mercado de automóveis e comerciais leves cresceu 14,69%.

Durante a crise, a Volks caiu para o terceiro lugar. Nas vendas acumuladas este ano conseguiu a segunda posição e em março, com participação de 14,43%, encostou na líder a General Motors, que ficou com 15,28%.

O programa de investimentos, elaborado, sobretudo, para o desenvolvimento dos novos veículos, já havia sido ampliado em novembro. Di Si percebe, agora, oportunidades para mais lançamentos de veículos. Mas, para isso, precisa investir mais.

Há 15 anos, a Volks perdeu a liderança para a Fiat e desde o ano passado o posto é da GM. Di Si aposta que a marca alemã voltará a ser líder principalmente após lançar a linha de utilitários esportivos, um segmento no qual não atuava e que representa 20% das vendas de veículos leves no país. A demanda externa também tem exigido mais. A exportação absorve 30% da produção da montadora.

A vontade de reconduzir a Volks à liderança inclui esforço pessoal do executivo em torno da imagem da marca. O argentino Di Si assumiu a presidência da montadora no Brasil e na região da América do Sul e Caribe em outubro e desde então sua rotina de trabalho tem sido intensa.

"Há cinco dias não vou ao escritório", disse esta semana, pouco antes de um encontro com concessionários do Rio de Janeiro.

Isso não significa que Di Si tem trabalhado menos ou ficado distante das áreas produtivas. Sua rotina inclui reuniões com funcionários de diversas áreas nas quatro fábricas instaladas no Brasil, incluindo almoços com os empregados.

Na mídia, o executivo ficou logo conhecido, não só pela intensidade dos lançamentos de veículos, mas também por seu estilo, mais aberto e comunicativo do que a maior parte dos executivos que esteve no comando da Volks na região. Mas, diz ele, não se trata apenas de dar um toque pessoal à gestão. "É uma mudança de cultura na empresa", afirma.