30/08/10 14h27

No Brasil, investimento chega a US$ 20 bilhões

O Estado de S. Paulo – 30/08/10

Não é de hoje a tradição chinesa de aproveitar o tamanho do mercado brasileiro para exportar. Mas nos últimos tempos se intensificou a transferência não só de produtos, mas de investimentos. Se o ritmo de recursos se mantiver, a China neste ano deve assumir liderança entre os países que mais investem no Brasil. O grande volume de recursos direcionados repentinamente ao País alertou as duas principais entidades empresariais, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Seus presidentes, Robson Braga de Andrade (CNI) e Benjamin Steinbruch (Fiesp), cobraram, em entrevistas publicadas recentemente pelo Estado, uma ação do governo para regular ou controlar a entrada do dinheiro chinês nos setores de mineração e compra de terras, ambos estratégicos para a soberania do País. Para ambos, falta reciprocidade nas relações entre os dois países.

Segundo cálculos do presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China (CCIBC), Charles Tang, de janeiro até agora foram anunciados cerca de US$ 20 bilhões de investimentos chineses (incluindo os US$ 10 bilhões de empréstimo à Petrobrás), diluídos nos próximos anos. Pelas suas contas, os aportes anunciados podem chegar a US$ 25 bilhões até o fim do ano. No topo da lista de preferências chinesas estão os setores de siderurgia e mineração. Só a estatal Wuhan Iron Steel (Wisco) anunciou neste ano recursos de US$ 11 bilhões em projetos em Minas e Rio, em parceria com o empresário Eike Batista. A maior parte do dinheiro vai para o projeto siderúrgico no Porto do Açu, no litoral fluminense. O setor de energia é outro que tem chamado a atenção dos investidores chineses.

Para o embaixador Sergio Amaral, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China e conselheiro da Fiesp, a boa fase não deve ser motivo para o governo brasileiro abrir mão de negociações mais firmes nas quais os dois países costumam pelejar, como a indústria têxtil e a de calçados. "O governo precisa ter uma visão de conjunto para melhorar a qualidade de internacionalização de suas empresas e prevenir dificuldades", diz, referindo-se, por exemplo, à compra de grandes extensões de terra.