18/09/09 10h38

Negócio de biociências ganha força no país

Valor Econômico

Uma alternativa aos caros tratamentos de imunossupressão para diabéticos que fizeram transplante de células do pâncreas começa a ganhar forma dentro do campus da Universidade de São Paulo (USP). A Cell Protect, uma empresa incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec, que fica dentro da Cidade Universitária), desenvolve uma microcápsula gelatinosa para proteger as chamadas ilhotas pancreáticas, responsáveis pela produção de insulina. As microcápsulas, afirma o sócio-diretor Thiago Mares Guia, impedem que o organismo do paciente rejeite as novas células, dispensando dessa forma o uso de imunossupressores, que custam não menos de R$ 100 mil (US$ 55,6 mil) por ano por paciente.

A Cell Protect é uma das 30 empresas de biotecnologia fundadas entre 2007 e 2008 e que contribuíram para ampliar e diversificar o mercado brasileiro de biociências. Um levantamento realizado pela Fundação Biominas, uma entidade privada sem fins lucrativos, revela que as empresas faturaram e contrataram mais nos últimos dois anos. E a pesquisa voltada à saúde humana supera o interesse antes majoritário em agricultura.

Para este ano, a expectativa é de expansão de 27% no faturamento das empresas, superando pela primeira vez R$ 1 bilhão (US$ 555,6 milhões). A previsão é de que os investimentos vão crescer 9,8% sobre os R$ 288,5 milhões (US$ 160,3 milhões) registrados em 2008. A segunda edição do estudo contempla, além das empresas focadas em biotecnologia, as companhias que desenvolvem insumos.

De acordo com o levantamento, no ano passado havia no país 253 empresas de biociências, 13,5% a mais que o apurado em 2006. Desse total, 30,8% dedicam-se ao desenvolvimento de produtos e serviços voltados à saúde humana, quase o dobro da participação verificada dois anos antes (de 16,9%). As empresas de pesquisa agrícola, que na medição anterior lideravam o setor (22,5%), representaram no ano passado 18,8% do total. "Na década passada eram criadas de cinco a sete empresas de biotecnologia no Brasil por ano. Na atual década, a média está entre 15 e 17 e a tendência é de expansão", afirma o diretor-presidente da Fundação Biominas, Eduardo Emrich Soares. Ele observa que, além da saúde humana, também ganham peso em número de projetos desenvolvidos as áreas ambiental e de bioenergia.

Por enquanto, a maioria das empresas de biociências têm se instalado em São Paulo (37,5%) e Minas Gerais (27,7%), principalmente em polos como Campinas, Ribeirão Preto, Zona da Mata e Triângulo Mineiro. A região Sul do país, porém, teve maior geração de empresas, respondendo por 15% do total de companhias em 2008, ante 8,5% em 2006. Outro destaque foi a região Norte, que aparece pela primeira vez no mapa brasileiro das biociências, com 1,6% de participação.