19/10/09 11h36

Nanotecnologia, uma revolução invisível

Valor Econômico

É um trabalho minucioso, repetitivo e (literalmente) invisível. Mas nele está uma das grandes apostas do setor agropecuário para os próximos anos. Enquanto você lê este texto, quase cem cientistas de universidades e centros de pesquisa brasileiros dedicam-se a aplicações da nanotecnologia no campo, a ciência da reorganização de moléculas e átomos numa escala impensável para a maioria dos mortais - 1 bilhão de vezes menor que o metro.

As pesquisas estão concentradas sobretudo no desenvolvimento das chamadas "língua" e "nariz" eletrônicos, sensores que mimetizam o trabalho do homem em tarefas tão díspares como a medição da umidade do solo e da maturação de frutos até a detecção de bactérias em derivados do leite ou da febre aftosa no rebanho bovino. Em outras frentes, os cientistas desenvolvem plásticos comestíveis para embalagens de alimentos, nanofibras de celulose a partir do bagaço de cana e ainda nanopartículas magnéticas para a descontaminação de pesticidas em água.

Tudo isso, acredita-se, tornará as respostas da indústria mais rápidas e com um custo significativamente menor que as técnicas disponíveis hoje no mercado. "A nanotecnologia será uma revolução no campo", sentencia Luiz Henrique Mattoso, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Instrumentação Agropecuária, em São Carlos (SP). Mattoso lidera uma força-tarefa de 17 unidades da Embrapa e outras 15 universidades, federais e estaduais, reunidas na Rede de Pesquisa em Nanotecnologia Aplicada ao Agronegócio. Formada em 2006, a rede é o maior grupo voltado às pesquisas com nanotecnologia para o setor agropecuário atuando no país.

De acordo com o pesquisador, a ideia nasceu na esteira de um projeto nacional da Embrapa sobre os desafios que deveriam ser contemplados pela estatal, com o intuito de trazer o foco dos laboratórios para perto das necessidades científicas brasileiras. Especializado em polímeros, Mattoso sabe com clareza o potencial desse novo campo de pesquisa. Por dois anos, o pesquisador trabalhou no laboratório virtual da Embrapa nos Estados Unidos, onde fez uma prospecção a fundo do que vinha sendo estudado na área naquele país. Apesar das verbas maciças injetadas ali para as pesquisas com nanotecnologia em geral - cerca de US$ 1 bilhão em três anos -, ele diz que, no setor de agricultura tropical, o Brasil não fica atrás.

Na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), uma das pesquisas mais alavancadas é a da "língua" eletrônica capaz de detectar características indesejáveis na soja para a produção de leite. Segundo especialistas, muitas variedades do grão ainda conferem um gosto ruim ao produto, por isso a necessidade de misturar frutas ao leite.

Em São Carlos, no interior paulista, os cientistas do grupo de Biofísica Molecular do Instituto de Física e do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Carlos (UFSCar) estudam a aplicação da nanotecnologia para detectar a febre aftosa na população de bovinos. Isso ainda é feito via métodos imunológicos desenvolvidos para quantificar a concentração de antígenos e anticorpos, sendo o principal deles o Leitor Elisa (do inglês Enzyme-linked immuno sorbent assay). É um processo custoso, no qual uma amostra de sangue do animal deve ser encaminhada para análise em laboratório.