Na contramão da crise, alguns setores crescem e mantêm investimentos
Serviços de estética, informática e fábricas de bebidas mantêm crescimento. Há estimativa de faturar R$ 9 bilhões somente com clínicas, salões e vendas de produtos e serviços na casa do cliente
Estado de MinasContra a maré do mau desempenho dos principais indicadores da economia, há um Brasil de empresas que adotaram estratégias bem-sucedidas para expandir os seus negócios e vão continuar a investir porque têm de atender a uma demanda dos clientes também em crescimento. A locomotiva desse país que contabiliza taxas positivas de desempenho, seja das vendas, seja da produção ou do faturamento da iniciativa privada, é conduzida pelo setor de beleza e estética, sem receio de apostar numa ascensão astronômia de 160% da atividade em 2015, depois de apurar a bolada de R$ 3,5 bilhões no ano passado, incluindo o comércio de produtos e serviços na casa do consumidor, o chamado home care.
Os fabricantes de bebidas alimentam as máquinas empenhados em planos de crescer 10% e turbinar a oferta de cervejas artesanais. Em Minas Gerais, as marcas Backer e Krug Bier estão investindo R$ 7,3 milhões em equipamentos novos e na multiplicação de exemplares das queridinhas do mercado cervejeiro não só no estado, como no Rio de Janeiro e em São Paulo. Remando, da mesma forma, na contramão da crise, os supermercados mineiros vão desembolsar R$ 300 milhões em 85 novas lojas, na expectativa de aumentar a receita em pelo menos 1,5% neste ano.
A área de tecnologia é outro ramo que não se rendeu à turbulência na economia. O gigante Google anunciou há uma semana a decisão de ampliar o escritório de Belo Horizonte, que emprega 100 engenheiros de sete nacionalidades e 11 estados, com orçamento de R$ 30 milhões. A recompensa ao esforço de crescimento pode ser observada até mesmo no cenário de nuvens carregadas de índices negativos da indústria e do comércio (veja o quadro). Segundo a mais recente Pesquisa Mensal do Comércio feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até maio as vendas de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação cresceram 10,7%, ancoradas na queda dos preços de microcomputadores, de 8,3% no acumulado do ano.
Para o professor de finanças da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA USP) José Roberto Savoia, as diferenças na performance das empresas ocorrem devido ao comportamento diferenciado dos consumidores, que, em épocas de crise, acabam abdicando de compras que podem comprometer o orçamento por um longo prazo. “Eles preferem administrar as dívidas de curto prazo, cuidar melhor da saúde e socializar com os amigos. São comportamentos que não exigem grandes investimentos e as empresas desses setores acabam sendo beneficiadas”, afirmou.
Nas empresas, o esforço para seguir em crescimento resulta de planejamento estratégico benfeito, visão de futuro e organização, mesmo diante de um cenário desfavorável da economia. O superintendente da Associação Mineira de Supermercados (Amis), Adilson Rodrigues, afirma que para driblar o momento e manter a expansão esperada, os supermercadistas precisam compreender os sinais indicados pelos clientes e se adequar às oportunidades. “Sabíamos que 2015 seria um ano difícil, mas todos os investimentos do setor estão mantidos. As empresas buscam negociar mais e melhorar os equipamentos para tornar a gestão mais eficaz”, diz.
O orçamento de investimentos para 2015 inclui a reforma de 75 lojas e a abertura de 8 mil postos de trabalho em Minas. O Grupo Super Nosso vai investir em novas lojas e pretende elevar o faturamento de R$ 1,75 bilhão para R$ 2 bilhões. De acordo com a diretora de desenvolvimento, planejamento e pesquisas da empresa, Rafaela Nejm, planejamento e estratégias pontuais são fatores que contribuíram para que o grupo investisse R$ 30 milhões numa fábrica de beneficiamento de frios, carnes e panificação, além de outros R$ 20 milhões em 10 unidades. “Nos organizamos para andar na contramão dos outros setores e isso permitiu novos investimentos e expansão da rede. É claro que dependemos de bons resultados de vendas, mas trabalhamos com oferta agressivas e um programa de fidelidade dos clientes” afirma.
Perspectivas Entre os setores que mantêm crescimento do faturamento em Minas estão a indústria de derivados do petróleo e biocombustíveis, com avanço de 10,8% entre janeiro e maio deste ano, com base na pesquisa de indicadores da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). A indústria química também rema na contramão da crise e apresentou faturamento 7,6% maior, influenciado pelo desempenho de fertilizantes. A receita dos fabricantes de bebidas aumentou 3,6% no mesmo período.
A economista da Fiemg Érika Cristina Mendes Amaral destaca que esses segmentos tiveram pouca influência no resultado da indústria de transformação, uma vez que segmentos de peso da produção de bens no estado, como as indústrias automotiva, de máquinas e equipamentos, metalurgia e vestuários e acessórios, além da mineração, enfrentam queda. “Já imaginávamos números negativos, mas não em patamares tão altos”, afirma. A Fiemg prevê redução de 6,1% do faturamento da indústria neste ano e de 4,5% da produção global do setor.
Mais produção para atender o mercado
A indústria de bebidas de Minas espera crescer 10% em 2015. Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas do Estado de Minas Gerais (Sindbebidas), Mário Morais Marques, o segredo do setor para não parar de crescer é estar atento às mudanças e desenvolver um esforço que chame a atenção do consumidor. “Estamos crescendo há anos na casa dos dois dígitos. Criamos alternativas para o consumidor e Minas tem assumido papel importante na produção nacional, com participação entre 11% e 12% do mercado”, afirma. Na fabricação de cervejas artesanais, o estado ultrapassou São Paulo.
Com alta na demanda e ingresso nos mercados do Rio de Janeiro e São Paulo, a cervejaria Krug Bier está investindo cerca de R$ 600 mil na fábrica e num espaço para eventos no pátio de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Segundo o sócio-fundador da cervejaria, Herwig Gangl, a crise sentida em outros setores transformou-se em oportunidade para a marca crescer.
“O consumo de cerveja artesanal está em ascensão. Nossa produção cresceu 12% no primeiro semestre do ano e os investimentos eram necessários para otimizar a fábrica, garantir a qualidade do produto e, principalmente, atender à demanda desse potencial consumidor”, comenta.
A cervejaria Backer investiu cerca de R$ 6,7 milhões na implantação do pátio cervejeiro no Bairro Olhos D’Água, na Região do Barreiro, que compreende a fábrica e um restaurante. A marca também prevê lançamentos de receitas artesanais da bebida. Segundo o diretor comercial e de eventos da Backer, João Roberto Pires, a empresa cresceu 15% de janeiro a junho. “Estamos nos preparando desde de outubro de 2014 com a aquisição de equipamentos para suprir a demanda. Nenhum planejamento foi adiado e nossa meta é fechar 2015 com crescimento maior que o registrado no primeiro semestre”, afirma.