12/03/21 11h33

Mulheres no agro: o papel da extensão rural na valorização, qualidade de vida, geração de renda e emprego

Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo

Em live realizada no Dia Internacional da Mulher, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA), por meio de sua Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS), trouxe para a mesa de debates o papel das políticas públicas e o repensar de metodologias visando à valorização das mulheres no meio rural e impulsionar o seu protagonismo. 

Nas últimas décadas a expressão desenvolvimento sustentável – conceito baseado nos pilares social, econômico e ambiental – se tornou uma meta a ser conquistada quando se fala em ações e projetos no meio rural. Mas para que ele deixe de ser uma diretriz impressa e se torne realidade efetiva de transformação de vidas – com bem-estar social, renda e conservação do meio ambiente –, cada dia fica mais claro que a inclusão e valorização de todos os atores que atuam no campo são peças fundamentais para que isso aconteça. 

Nesse contexto, entendendo que as mulheres têm um papel-chave nesse processo, a CDRS organizou o Treinamento em públicos especiais: mulheres rurais, uma capacitação on-line que contou com mais de 150 participantes, entre extensionistas da rede da Secretaria de Agricultura e Abastecimento e interessados de instituições como Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emateres), a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e a Universidade de São Paulo (USP), sendo realizado no dia 8 de março, data escolhida por celebrar o Dia Internacional da Mulher. “Para comemorar essa data, vimos que o mais assertivo era sensibilizar gestores e agentes técnicos para a importância da valorização da mulher rural, e de como o trabalho de extensão pode e deve ter um olhar específico para este público”, explica Carolina Darcie, socióloga e assessora técnica do gabinete da CDRS, que moderou o debate e organizou o evento junto com a também socióloga e assessora Márcia Moraes e com a equipe do Centro de Treinamento (Cetate) da CDRS. 

Segundo Carolina, reunir extensionistas ‒ homens (mais de 40% do público) e mulheres ‒ para debater um tema tão importante foi a concretização de um sonho de um grupo de mulheres extensionistas da CDRS e de outras instituições, que se debruçam sobre o assunto. “Entendemos que essa discussão é essencial para aperfeiçoar o serviço de extensão rural que tem, entre seus deveres, facilitar o acesso às políticas públicas a agricultores e agricultoras. Podemos dizer que esse evento foi um exercício de reflexão. A explanação das palestrantes, a apresentação dos estudos de casos práticos sobre trabalhos com associações de mulheres, bem como os depoimentos de produtoras atendidas pela Ater (Assistência Técnica e Extensão Rural) da Secretaria, nos mostraram que precisamos adequar e potencializar, ainda mais, ações, linguagem e metodologias empregadas, buscando melhorar nosso atendimento e valorizar o corpo técnico, para incluir toda a população rural, especialmente as mais vulneráveis, nas políticas públicas, garantindo, assim, maior efetividade em seus resultados”, destaca a socióloga. 

Abrindo o evento, José Luiz Fontes, coordenador da CDRS, parabenizou a todas as mulheres, em especial as da Secretaria de Agricultura que atuam na área de extensão rural, tanto na área técnica como na administrativa, as quais têm rompido fronteiras e colocado essas características a serviço do agro, fazendo diferença por um mundo mais justo e igualitário. “Para nós, que acompanhamos há muito tempo a luta das mulheres, especialmente no meio rural, para ter uma situação mais justa de igualdade, seja no trabalho ou nas relações sociais, é gratificante ver que houve avanços. Quando entrei na Secretaria de Agricultura, há mais de 30 anos, existiam poucas mulheres no quadro e nenhuma em cargo de liderança. Hoje, seja no governo, na sociedade, na política, embora ainda pequena, a participação e o empoderamento vêm crescendo e os mecanismos para isso evoluindo. Um exemplo é o fato de que, atualmente, um dos cargos políticos mais importantes no mundo, o de vice-presidente dos Estados Unidos, é ocupado por uma mulher. Ao olharmos para a estrutura atual da Secretaria, temos mulheres em cargos-chaves, como na secretaria-executiva e chefia de Gabinete; na extensão rural (de um total de 1.076 funcionários, 354 são mulheres, sendo 100 assistentes agropecuárias, das quais 55 são responsáveis por Casas da Agricultura); e na pesquisa”, avalia Fontes. 

Quanto às mulheres que estão na lida cotidiana no campo, como produtoras e trabalhadoras rurais, Fontes chamou atenção à necessidade de a extensão rural trabalhar melhor as questões relacionadas a elas. “No meio rural ainda predominam a liderança e participação masculina. Nas reuniões que organizávamos há alguns anos, a participação de mulheres era muito pequena; hoje, é maior, mas ainda é pouca. Eventos como esse são importantes para darmos mais atenção às nossas ações, para não repetirmos metodologias e formas de atuação que levem à exclusão das mulheres dos processos de desenvolvimento sustentável”. 

Programação 

Doutoranda em Sociologia, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Fernanda Folster de Paula trouxe em sua palestra ‒ Desigualdades de gênero no campo ‒ informações históricas das lutas e conquistas das mulheres do campo, fazendo uma contextualização do momento atual. “Fiquei muito feliz com esse convite para um diálogo da academia e a extensão rural, pois é importante para balizar as discussões de gênero, com o olhar da importância de as mulheres ocuparem espaços com redivisão de trabalho, terem visibilidade e reconhecimento como produtoras, trabalhadoras e/ou gestoras rurais, bem como lugar de ‘fala’. Também é importante neste processo que os extensionistas conheçam as lutas e as conquistas de movimentos e grupos de mulheres que atuam desde a década de 1980, assim como pesquisas científicas que abordam a desigualdade de gênero e as tendências do trabalho com mulheres”, salienta a pesquisadora. 

Alexandra Luppi, assistente agropecuária da CDRS Regional Mogi Mirim, e Roseli Borges, engenheira agrônoma conveniada da Casa da Agricultura de Artur Nogueira, ligada à mesma Unidade, abordaram em sua palestra ‒ A inclusão da mulher nas políticas públicas na prática ‒ temas como a emissão de documentos.“Por exemplo, é importante que os extensionistas, ao atenderem os produtores, orientem que o nome da esposa e/ou companheira conste em documentos como contratos, Cadesp etc., para aparecer como “e Outra” no talão de notas fiscais. Isso porque, em políticas públicas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA, programa do governo federal executado pelo governo paulista), essa menção aumenta a pontuação para participação nos certames. Em outra política estadual, o Projeto Município Agro, municípios que têm ações e projetos voltados ao bem-estar da mulher na área rural obtêm maior pontuação para classificação na premiação”, ressaltam as agrônomas, lembrando que outras informações importantes são ligadas ao Imposto de Renda dos produtores, para assegurar direitos às mulheres. 

“Cada vez mais é necessário que nós extensionistas tenhamos um olhar amplo de inclusão desse público, entendendo que discutir questões ligadas às necessidades e aos direitos das mulheres, principalmente no meio rural, não é militância, muito pelo contrário, trazer a questão de gênero para o centro do debate é trazer mais qualidade para os serviços de extensão rural, promover direitos humanos e a inclusão social de mulheres agricultoras, historicamente excluídas por razões culturais da sociedade brasileira, como beneficiárias de políticas públicas”. 

Em sua palestra A Extensão Rural destacando e valorizando as mulheres do campo, Mirele Vinhas Voltolini, engenheira agrônoma responsável pela Casa da Agricultura de Sud Menucci (município que ficou em primeiro lugar na classificação de certificação e premiação do projeto Município Agro, no ciclo 2020), apresentou o trabalho realizado há mais de 10 anos com um grupo de mulheres. “No município de Sud Mennucci temos um trabalho intenso de extensão rural, focado no desenvolvimento rural sustentável e na agroindustrialização artesanal, voltado a um grupo informal de produtoras rurais. Dentre as ações que realizamos, destaco as orientações técnicas em sistemas produtivos, na gestão da propriedade rural e na condução e supervisão do funcionamento de um packing house (construído com recursos obtidos pelo Projeto Microbacias II); bem como as capacitações incentivando o empreendedorismo e a adoção de Boas Práticas Agropecuárias e de Fabricação de Alimentos. Esse trabalho tem garantido ao grupo acessar novos mercados e abrir novas fontes de renda, como o turismo rural”, diz a agrônoma. 

Mirele enfatiza, ainda, que essas práticas extensionistas trouxeram, além de renda, autonomia, emancipação, delegação de poder e autoestima elevada a essas mulheres. “Sempre digo a elas que a mulher, especialmente a que vive no meio rural, pode ser o que quiser e estar onde optar. A partir desse trabalho, as produtoras têm relatado que sentem orgulho de suas origens, começaram a se valorizar e reconhecer a grandeza de seu papel de produzir alimentos. Tenho uma grande satisfação em ver que aquelas mulheres, que mal conseguiam se expressar em nossas primeiras reuniões, hoje, são líderes e empreendedoras rurais, com visão de gestão, progresso e desenvolvimento sustentável”. 

Ao final do evento, as organizadoras fizeram um balanço positivo da atividade. “Pelos relatos das avaliações e dos comentários no chat, percebemos que o nosso objetivo de sensibilizar gestores e técnicos para a necessidade de desenvolver ações de extensão rural com abordagem por gênero e valorização da mulher no meio rural, foi atingido. Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas novas perspectivas foram abertas, com solicitação de ampliação do debate para outras frentes”, avaliam Carolina e Márcia. 

Exemplos de trabalhos da extensão rural 

A extensão rural de São Paulo vem contribuindo com o movimento de inclusão das mulheres no trabalho, decisão e gestão rurais, desde seus primórdios, com ações e projetos voltados às famílias rurais. Nas décadas de 1960 e 1970, a instituição realizava projetos na área de economia doméstica, com programas voltados às mulheres, que podem ser considerados um início do trabalho que está sendo aprimorado até os dias atuais. No final dos anos 1990 e início dos anos 2000, em um esforço iniciado na CDRS Regional Pindamonhangaba, a instituição investiu na realização de encontros de mulheres ‒ extenionistas e produtoras rurais ‒ para debater assuntos diversos, elevar a autoestima e inserí-las no contexto de atividades da propriedade e de organizações rurais. Relatos da época mostram que as participantes se sentiram fortalecidas para buscar o seu espaço e mostrar a sua força. 

No início dos anos 2000, com a execução do Programa Estadual de Microbacias Hidrográficas e a adoção de metodologias participativas, um número maior de mulheres se envolveu em questões de produção e conservação do meio ambiente. Na última década, com a execução do Projeto Microbacias II, houve um avanço e estímulo na inclusão de mulheres na gestão de propriedades e na produção, bem como na liderança de organizações beneficiadas, como associações e/ou cooperativas. 

Para assistir a live acesse aqui: https://www.youtube.com/watch?v=4HNi-wrAM-k

 

fonte: https://agricultura.sp.gov.br/noticias/mulheres-no-agro-o-papel-da-extensao-rural-na-valorizacao-qualidade-de-vida-geracao-de-renda-e-emprego/