16/11/10 11h51

Montadoras recuperam, depois de 20 anos, o número de empregados

O Estado de S. Paulo

Foram necessários 20 anos para a indústria automobilística brasileira recuperar o nível de emprego e chegar a este mês com 135,3 mil funcionários diretos. Nesse período, o Brasil ganhou 11 novas fábricas e assistiu a uma revolução no método produtivo, com várias de suas atividades repassadas a terceiros e linhas de montagem com mais funcionários indiretos do que diretos. Na fábrica de caminhões da Volkswagen/MAN em Resende (Rio de Janeiro), apenas 894 trabalhadores são registrados pela montadora e 5 mil são contratados de sete fornecedores de autopeças que atuam no chamado sistema modular de produção. Em janeiro de1991, as montadoras empregavam 136 mil pessoas. Ao fim daquele ano, eram 124,8 mil e uma produção de 960,2 mil veículos. Neste ano, até outubro, já foram fabricadas 3 milhões de unidades. O número de empregados diretos seria maior não fossem as importações, que este ano devem passar de 600 mil unidades, reclama o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre.

Segundo cálculos feitos pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), se essa frota fosse produzida localmente, seriam gerados mais de 15 mil empregos diretos nas montadoras e 75 mil indiretos em toda a cadeia produtiva. "Estamos gerando empregos em outros países", diz o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini. Nobre defende uma política industrial que privilegie a produção local. "Para a montadora, tanto faz produzir aqui ou trazer da matriz, mas o País precisa pensar no seu futuro e fazer aqui produtos de alta tecnologia, em vez de trazer caixas de fora com componentes que apenas são montados aqui", argumenta.

O Brasil é o sexto maior fabricante e o quarto maior mercado consumidor de automóveis. Ná década de 90, cada trabalhador produzia em média oito carros por ano. Hoje, são 29, segundo dados do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. O emprego na montadora é um dos mais cobiçados, pois a média salarial é maior do que em outras áreas. José Pastore, professor de relações do trabalho da FEA-USP, ressalta que são empregos "de altíssima qualidade, salário bom, alta qualificação, estabilidade e chances de fazer carreira." Ressalta, porém, que o processo de terceirização e avanço tecnológico ocorre em todos os setores e no mundo todo. A Anfavea calcula que montadoras, fornecedores (incluindo de matérias-primas como aço) e concessionários empregam, juntos, perto de 1,5 milhão de pessoas. Incluindo toda a cadeia, que passa por setores como postos de combustível, companhias de seguro, financiadoras etc, o número pode chegar a 5 milhões.