25/10/10 13h58

Montadoras mostram sua força e preparam pedidos ao governo

Valor Econômico

À primeira vista, o salão do automóvel pode parecer mais uma exposição de sucesso, que atrai aficionados por carros e famílias em busca de diversão, além de boas oportunidades de negócios. Mas, em 50 anos de história no Brasil, essa feira tem servido também para a indústria automobilística mostrar tamanho e poder aos governos. Por coincidência ou não, algumas das medidas governamentais de peso voltadas à indústria automotiva surgiram pouco tempo depois das exibições de carros em São Paulo. Não foi somente Juscelino Kubitschek que marcou sua ligação com o setor ao desfilar a bordo do primeiro Fusca fabricado no Brasil, no ano anterior ao do primeiro salão do automóvel brasileiro. Itamar Franco também foi buscar na indústria dos carros uma marca para sua gestão. Uma de suas primeiras aparições como presidente da República, logo após o impeachment de Fernando Collor de Mello, foi no salão do automóvel de 1992. Poucas semanas depois, em janeiro de 1993, Itamar ressuscitou o mesmo Fusca, por meio do programa do carro popular.Desnecessário citar a famosa declaração de Collor, que chacoalhou as montadoras ao comparar os automóveis brasileiros às carroças. Graças a isso, já faz 20 anos que muito mais importados circulam pelo país. Foi justamente o salão de 1990 que marcou a fase, atraindo ao pavilhão do Anhembi os que queriam ver de perto as primeiras Ferraris e Mercedes, em um Brasil de mercado mais aberto. Em nenhum momento ao longo dessas duas décadas, no entanto, os fabricantes se mostraram tão perturbados com a presença dos importados como agora. O setor já prepara um estudo sobre competitividade, que deverá sustentar novo pedido de incentivos ao governo federal. Desta vez, entretanto, os executivos deverão poupar os ouvidos de governantes em fim de mandato, durante a festa do 50º salão do automóvel, nesta semana. A abertura oficial acontece quatro dias antes da eleição do próximo presidente da República. O movimento para o que o setor chama de "salvar a indústria da concorrência" deve aparecer com força depois da posse da nova equipe econômica.O enfrentamento entre os que fabricam e os que apenas importam chegou ao Anhembi já na montagem da feira. A disputa por espaço revelou um jogo de forças. E, se os modelos importados têm aparecido com mais frequência nas ruas, dentro do pavilhão de exposições as limitações de área seguem as regras dos que dominam o mercado há mais tempo. A maior fatia da divisão dos 85 mil metros quadrados do pavilhão ficou para a Volkswagen, com estande de 5 mil m2. Outras veteranas - Fiat, General Motors e Ford - têm em torno de 4 mil cada uma. Quem entrou no mercado por último queria pelo menos 500 m2, mas não conseguiu mais do que 200. É o caso das marcas chinesas. Ao todo, serão 42 marcas, das quais 14 têm fábricas no país. A exposição vai até 7 de novembro. Se do lado dos que produzem veículos no país, o tema político da feira será a busca de apoio governamental para fortalecer e proteger a indústria que planeja investir US$ 11,2 bilhões entre 2010 e 2012, os importadores independentes pretendem pedir ao próximo governo justamente o contrário: redução tarifária, de 35% para 20% no Imposto de Importação para veículos de países com os quais o Brasil não tem acordo de intercâmbio comercial.