30/12/14 14h24

Modernização da gestão e novos projetos de infraestrutura marcam o ano de 2014 no Porto de Santos

O Porto de Santos se prepara para implementar, em 2015, diversos projetos de infraestrutura e novas tecnologias

Porto de Santos

A movimentação de cargas pelo Porto de Santos em 2014 superou importantes marcas históricas, com especial destaque para os recordes na movimentação de contêineres, que deverá atingir um crescimento em torno de 8,0%, e do complexo soja que tem previsão de aumento próximo a 2,6%.

O diretor presidente da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), Angelino Caputo, destaca que três recordes mensais foram atingidos em fevereiro (7,7 milhões t), março (10,4 milhões t) e junho (9,8 milhões t) e a expectativa é que Santos responda por 25,6% da movimentação da Balança Comercial Brasileira. Os embarques do complexo soja, até novembro, acumulavam 16,2 milhões t, patamar 2,8% superior ao recorde obtido no mesmo período do ano passado.

Caputo ressalta que os terminais de contêineres do Porto de Santos apresentaram desempenho superior ao dos principais complexos portuários do mundo como Roterdã, na Holanda, e Hamburgo, na Alemanha, ao atingirem a média por hora de 104 movimentos. O Tecon Santos chegou a bater, no início de setembro, o recorde histórico da América do Sul, com uma performance de 1.694 contêineres em 8,74 horas de operação, alcançando a média de 193,92 movimentos por hora.

Santos registrou, também, em agosto, seu novo recorde histórico mensal, com 220.702 unidades. Até novembro, a movimentação de contêineres somava 3,3 milhões teu (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés), crescimentos de 6,6% se comparado ao mesmo período de 2013. O presidente explica que a performance foi atingida em função da disponibilização de novas infraestruturas portuárias (os terminais da Embraport e Brasil Terminal Portuário – BTP), dos investimentos efetuados pelos demais terminais que operam essa modalidade de carga e dos esforços da Autoridade Portuária, em conjunto com a Secretaria de Portos (SEP), para manter as profundidades de berços, acesso a berços e do canal de navegação do porto, que recebeu navios da classe “Cap San”, com capacidade para até 9,6 mil teu, os maiores porta-contêineres a operar no complexo santista.

Caputo destaca, também, o fortalecimento da navegação de cabotagem ao longo de 2014 que, até novembro totalizou 13,0 milhões t, apresentando crescimento de 21,3% se comparado com o acumulado no mesmo período do ano anterior. Destaca-se o número de contêineres transportados através dessa modalidade, que atingiu um crescimento de 92,3% nos 11 primeiros meses do ano. A participação da cabotagem no total de cargas transportadas cresceu de 10,2% para 12,8%. “Essa performance mostra a tendência do Porto de Santos tornar-se um porto concentrador de cargas”, afirma o presidente.

A performance da carga geral conteinerizada, entretanto, não foi suficiente para compensar a queda na movimentação das principais commodities agrícolas, como açúcar (-9,2%), milho (-22,0%) e soja em grãos (-5,0%), que são os principais itens da pauta de mercadorias que passam pelo porto. O presidente explica que “elas foram afetadas por uma combinação de fatores decorrentes de aspectos climáticos e da conjuntura econômica internacional, que impediu que o Porto de Santos superasse, neste ano, o recorde anual histórico obtido em 2013”. Para Caputo, 2013 foi um ano totalmente atípico na curva de crescimento da movimentação do Porto de Santos. Apesar do movimento neste ano ter sido menor que em 2013, ainda assim, permaneceu dentro da curva estabelecida pela consultoria Louis Berger, dentro do Plano de Expansão do Porto de Santos, explica o presidente.

A previsão é que o movimento geral de cargas atinja 110,5 milhões de toneladas, ficando 3,1% abaixo do resultado obtido no ano passado (114,0 milhões t), mas se caracterizando, ainda, como o segundo melhor movimento anual da história do porto, ficando atrás somente do total excepcional verificado em 2013. Os embarques devem atingir 75,9 milhões t e as descargas 34,6 milhões t.

Os reflexos da conjuntura econômica internacional afetaram com maior profundidade a movimentação do Porto de Santos, tendo em vista que cerca de 47,0% de suas cargas são granéis sólidos e 76% desses granéis são açúcar, complexo soja e milho.

A crise internacional que afetou os principais países da Europa, Ásia e Américas acabou se refletindo com força nos mercados internacionais de commodities agrícolas e minerais. No caso das commodities agrícolas, somou-se a um cenário de demanda retraída a confirmação de uma supersafra norte-americana de soja e milho em 2014, o que elevou a oferta global destes grãos a um patamar recorde. Como consequência, houve a intensificação da trajetória declinante dos preços das commodities nas principais bolsas internacionais.

O preço do milho foi o que mais sentiu o efeito do aumento da oferta global, com queda de, aproximadamente, 37% ante o já retraído preço de 2013, fazendo com que sua cotação voltasse ao patamar praticado em 2009. Da mesma forma, os preços da soja em grãos e farelo de soja também sofreram quedas significativas ao longo de 2014. Enquanto isso, a cotação do açúcar permaneceu estável, mas em patamar deprimido historicamente, com os mercados bem abastecidos com os maiores volumes exportados por outros importantes produtores, como a Índia.

Os produtores brasileiros, além de terem suas receitas comprimidas pelas quedas dos preços internacionais (parcialmente compensada pela desvalorização do real), tiveram a produtividade de suas lavouras afetadas pela forte estiagem que caracterizou o ano de 2014.

A seca intensa, que em São Paulo foi a pior em oitenta anos e levou à paralisação da hidrovia Tietê-Paraná (importante via de escoamento da safra direcionada ao nosso porto), reduziu a produtividade das safras de açúcar, milho e soja, fazendo com que a produção destes produtos ficasse abaixo das estimativas divulgadas no início do ano. No caso do setor sucroalcooleiro, os baixos preços internacionais do açúcar motivaram os produtores a privilegiarem a produção de etanol para abastecimento do mercado interno. Além disso, o porto sofreu dois grandes incêndios em 2014, que afetaram os embarques do produto.

Devido à histórica relação do Porto de Santos com o agronegócio brasileiro, foi inevitável que este cenário adverso para o setor tivesse reflexo sobre a movimentação de cargas.

2014

A Codesp estima encerrar este ano com uma movimentação de 51,9 milhões t de sólidos a granel (-9,0%), 14,9 milhões de toneladas de líquidos a granel (-6,8%) e 43,6 milhões t de carga geral, que ficará 6,6% acima do ano passado. Os sólidos a granel representam 47,0% da movimentação de cargas, enquanto a carga geral soma 39,5% e os líquidos 13,5%. Os embarques devem totalizar 75,9 milhões t (-4,5%) e as descargas 34,6 milhões t (+0,1%).

No segmento dos granéis sólidos, destacam-se o açúcar, que deve atingir cerca de 15,3 milhões t, ficando 9,2% abaixo do ano passado; complexo soja, com 16,2 milhões t (+2,6%), sendo 12,4 milhões t de soja em grãos (-5,0%) e 3,7 milhões t (+38,7%) de soja peletizada; milho, com 8,6 milhões t (-22,0%) ; o adubo com 3,5 milhões t (-3,0%%); o carvão, com 1,6 milhão t (-19,3%); o enxofre, com 1,8 milhão t (-6,0%) e o trigo, com 1,4 milhão t (-4,8%).

Já entre os líquidos a granel aparecem o álcool, com 1,2 milhão t (-39,4%); consumo de bordo (diesel e combustível), com 1,7 milhão t (-2,1%); gasolina, com 1,3 milhão t (+2,9%); óleo combustível, com 2,0 milhões t (-13,4%); óleo diesel e gasóleo, com 1,9 milhão t (-3,2%) e sucos cítricos 1,8 milhão t (-1,4%). A carga geral solta deve atingir 4,5 milhões t (-7,9%); a carga conteinerizada 39,1 milhões t (8,6%) ou 3,7 milhões teu (8,0%); os veículos de importação 78,0 mil unidades (-31,4%) e de exportação 147,1 mil unidades (-41,9%).

2015

Para 2015 o cenário mostra-se desafiador para o comércio exterior brasileiro e o Porto de Santos refletirá essa condição. Assim, a empresa trabalha com três cenários. Um otimista, que projeta 117,2 milhões t, outro realista, com 114 milhões t e o pessimista, com 108,5 milhões t. Considerando as tendências de mercado e levando-se em conta as variações cambiais, a Companhia fez um ensaio que oscilou entre essas três perspectivas, resultando na projeção de 112,0 milhões t, com tendência de alta. A Codesp acredita que o complexo santista conseguirá retomar o crescimento verificado em anos anteriores, principalmente, por conta do aumento de 2,9% estimado para os embarques (78,1 milhões t), em relação às projeções para 2014. Para as descargas (34,2 milhões t) é projetada queda de 1,0%. O total estimado para 2015 deverá ficar 1,7% acima do projetado para este ano.

Para os sólidos a granel é estimado um total de 52,6 milhões t (+1,2%), enquanto o movimento dos líquidos a granel deve permanecer no mesmo patamar deste ano (14,9 milhões t). Já a carga geral deve somar 44,8 milhões t (+2,8%). Para 2015 a composição de movimentação física por tipo de carga deve situar-se em 46,8% para sólidos a granel, 39,9% para carga geral e 13,3% para líquidos a granel.

A expectativa da CONAB para a safra 2014/2015 é de novo recorde na produção de grãos, que deverá atingir cerca de 201,6 milhões de t (acréscimo de 4,2% ante a safra 2013/2014), com destaque para o desempenho da soja, com crescimento estimado em 11,2% (95,8 milhões de t). A expectativa para o milho é mais modesta, com queda prevista de 1,5% (78,7 milhões de t). Além disso, o aumento da participação do produto brasileiro no mercado internacional está sujeito à superação dos desafios relatados. Segundo a mais recente projeção divulgada pela USDA, as exportações brasileiras de soja em 2015 devem permanecer estáveis em relação a 2014, enquanto as de milho deverão cair 9%. Para o açúcar as apostas ainda indicam a persistência das dificuldades no setor, com produção comprometida por problemas climáticos, preços baixos e direcionamento da maior parte da produção para o etanol, visando o abastecimento do mercado interno.