Missões comerciais viabilizam vendas de pequenas e médias empresas no exterior
Valor EconômicoNo ano passado, entusiasmado com o desempenho do primeiro semestre, o empresário Antonio Carlos Benincá Jr. resolveu dobrar a capacidade da Victum, empresa que faz projetos e produz peças plásticas injetadas sob encomenda. O segundo semestre, porém, não evoluiu como esperado e os primeiros meses de 2015 fizeram Benincá Jr. rever os planos.
O faturamento de janeiro até abril da empresa, diz, caiu 50% em relação a igual período do ano passado. "Estamos com a segunda unidade com grande capacidade ociosa. Se o ritmo atual se mantiver, teremos de unificar nossa estrutura."
Segundo o empresário, a crise econômica atingiu segmentos que costumam demandar projetos e produtos da empresa, como a indústria de equipamentos médico-hospitalares e de automação industrial. A solução para driblar isso, diz Benincá Jr., é ir para o mercado externo. "O mercado doméstico não nos deixa alternativa a não ser partir para a exportação."
A Victum foi uma das 62 empresas que participaram, em abril, da missão comercial para a feira de tecnologia industrial em Hannover, na Alemanha, em programa de apoio à exportação da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Apex, agência do governo federal para a promoção do comércio exterior. A adesão à missão cresceu este ano. Em 2014, a missão de prospecção para a mesma feira contou com 39 empresas.
Diego Bonomo, gerente-executivo de comércio exterior da CNI, conta que o caso da Victum não é único. Com a demanda doméstica desacelerada, diz ele, as empresas olham mais para o mercado externo. A desvalorização do câmbio também atrai, já que torna o produto brasileiro mais competitivo. Ao mesmo tempo, porém, custos de investimento em feiras e missões comerciais ficam mais salgados e requerem um esforço maior do pequeno e médio empresário.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que o câmbio deve estimular a exportação de manufaturados pelas empresas menores, num movimento que, se disseminado, pode ser importante para o total da exportação no longo prazo.
Segundo os Correios, que administram o programa Exporta Fácil, no qual são feitas remessas no limite de US$ 50 mil, os embarques aumentaram 16%, em dólar, de janeiro a abril deste ano, contra iguais meses de 2014. A empresa não informa os valores absolutos.
Números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostram que, de janeiro a abril, 13.635 empresas exportaram, contra 13.585 em igual período do ano passado. Uma elevação pequena, de 50 empresas, que se concentrou nas faixas de menor valor exportado. No primeiro quadrimestre de 2014, 10.970 exportaram até US$ 1 milhão. No mesmo período deste ano, o número subiu para 11.145.
Por outro lado, a quantidade de empresas que exportaram mais que US$ 1 milhão caiu de 2.615 para 2.490 no mesmo período. O valor exportado, porém, é altamente concentrado. Essa faixa com menor número de empresas, com embarques superiores a US$ 1 milhão, foi responsável por US$ 56,3 bilhões dos US$ 57,93 bilhões exportados de janeiro a abril.
Os maiores exportadores, porém, diz Castro, são de commodities. O estímulo à exportação de manufaturados permite maior pulverização e passa pelos embarques também das empresas de menor porte. "Mas isso não é algo que acontece de uma hora para outra."
Fátima Chamma, diretora da Chamma Amazônia, uma das 20 empresas que integraram missão de prospecção na feira de cosméticos em Dubai, nos Emirados Árabes, em maio, conta que são vários os passos a serem dados para a exportação por pequenas e médias empresas. Com a participação em missões, diz ela, há a percepção que os cosméticos que produz possuem demanda, mas a empresa ainda está se organizando para fazer embarques de forma mais sustentada. A expectativa de Fátima é começar essas exportações no ano que vem.
Bonomo, da CNI, lembra ainda que nem todas as empresas estão imediatamente preparadas para as missões comerciais. Antes, diz ele, é preciso verificar se há maturidade para isso, se há capacitação para a promoção do produto, se ela está organizada para exportar, por exemplo. O processo requer esforço da empresa.
"Eu já fui à feira de Hannover outras vezes. Mas ia para conhecer o que outras empresas estão fazendo, para ver as novidades. Este ano, pela primeira vez, fui com o plano de fazer negócios, de exportar", conta o diretor da Victum. A expectativa do empresário é que até o fim do ano ele consiga fazer os primeiros embarques. Sua ideia é exportar para o mercado europeu e o mercado da América do Sul por meio de parcerias, que estão em negociação. Para ele, o câmbio favorece. "Por enquanto o preço não parece ser um problema para nós."
Benincá Jr. diz que, como sua produção é voltada para empresas, a fabricação em escala relativamente pequena costuma ser competitiva quando se trata de produtos de maior valor agregado. A ideia é que a parceria com empresas estrangeiras também propicie o atendimento a novos nichos dentro do mercado doméstico. "Uma das empresas com as quais estamos negociando é uma indiana que tem interesse em entrar no mercado brasileiro e sul-americano. A ideia é fazer projetos e produção em conjunto. "