22/11/11 17h20

Missão possível

Valor Econômico

O Brasil não só avança no ranking da competitividade como também em seu estágio de desenvolvimento. De acordo com o Relatório Global de Competitividade elaborado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF 2011- 2012), o país conquistou, em relação ao levantamento anterior (2010-2011), cinco posições e ficou em 53º lugar entre os 142 países pesquisados. Com isso, está em transição do estágio dois de desenvolvimento para o três - o mais avançado.

Resultados positivos, mas ainda preocupantes, pois nos pilares básicos, que respondem por 35,5% do Índice Global de Competitividade (IGC), e que deveriam estar bem estruturados há mais tempo, o Brasil ainda apresenta deficiência.

Nesse grupo da avaliação, dos requerimentos básicos - instituições, infraestrutura, ambiente macroeconômico, saúde e educação primária-, o país obteve a nota 4,3 (de zero a dez) e ocupa a 83ª posição no ranking, uma melhora de apenas três colocações em relação ao levantamento anterior.

Ao mesmo tempo, no grupo dos aspectos intermediários (41% do IGC), onde estão os pilares definidos como propulsores de eficiência - educação superior e capacitação, eficiência do mercado de bens e do mercado de trabalho, desempenho do mercado financeiro, prontidão tecnológica e tamanho do mercado - o Brasil ocupa o 41º lugar e teve nota 4,4. No último grupo, definido como de inovação e fatores de sofisticação, o país ficou em 35º lugar, com nota 4.

Nos aspectos considerados mais avançados, o país está com melhor desempenho do que nas questões essenciais. "É como se o Brasil tivesse queimado etapas no seu crescimento, mas as bases ainda não estão bem estruturadas e não podem ser descuidadas", avalia Carlos Arruda, professor e coordenador do Núcleo de Inovação e Competitividade da Fundação Dom Cabral (FDC), parceira do Fórum Econômico Mundial na pesquisa sobre competitividade no Brasil com Movimento Brasil Competitivo (MBC).

O maior avanço do Brasil, segundo o último relatório, foi no pilar das instituições, no grupo dos aspectos básicos. O país saiu da 93ª posição para a 77ª, com ganho de 16 colocações. Já os pesos da regulação governamental e desperdício nos gastos governamentais continuam a contribuir negativamente: no primeiro, o Brasil ficou na última posição em comparação a todos os países (142º lugar), e no segundo, em 136º lugar.

Na avaliação do presidente do Movimento Brasil Competitivo, Erik Camarano, estudos da OCDE verificaram que somente na esfera federal são editadas, em média, 31 novas medidas de regulação por dia. "A burocracia e outros pontos básicos como a infraestrutura, ambiente macroeconômico, saúde e educação primária são obstáculos para uma melhor inserção da economia brasileira na disputa no cenário internacional", diz.

Segundo o Relatório Global de Competitividade, em infraestrutura o Brasil perdeu duas colocações e está em 64º lugar. Em ambiente macroeconômico também a classificação piorou: da 111º colocação para 115º lugar no ranking. Em saúde e educação básica, o país manteve a 87º colocação.

Já o contexto de estabilidade econômica interna - com queda de desemprego, inflação em patamar controlado, melhor distribuição de renda -, que permitiria as reformas necessárias em aspectos essenciais para a melhora da competitividade, é o mesmo que sustenta um dos principais indicadores que já está com boa avaliação: o tamanho do mercado.

"Esse é um dos grandes diferenciais do país no momento", afirma Erik Camarano. "Especialmente depois da crise de 2008, o olhar para o mercado interno se intensificou e houve uma maior preocupação com a produção voltada para esse público, incluindo cada vez mais partes da população que não tinham acesso ao consumo", explica o executivo.

No ranking de competitividade, o Brasil alcançou o 10º lugar no pilar tamanho do mercado. Esse atrativo se junta às boas percepções e conquistas obtidas nas avaliações relacionadas à educação superior e capacitação, desempenho do mercado financeiro, prontidão tecnológica, sofisticação nos negócios e inovação.

O quadro de avanços significativos em alguns aspectos mais sofisticados da economia e de deficiências em pontos básicos acaba gerando incertezas e uma situação complexa, pois no médio e longo prazo, se a base não se estruturar melhor, os indicadores positivos em sofisticação e inovação não irão se sustentar, ou, no mínimo, implicarão custos.

"É um quadro que pode colaborar para a compreensão dos motivos que justificam o fato de o Brasil, apesar de ser a 7ª economia do mundo, ainda ficar na 53ª posição competitiva, atrás de países menos significativos economicamente como Estônia e Hungria, ou de países com sérios problemas econômicos como Portugal, Espanha, Irlanda e Itália", afirma Arruda.

"Talvez seja porque avançamos onde deveríamos avançar para o futuro, mas não avançamos onde deveríamos ter avançado no passado", afirma o professor da Fundação dom Cabral.