Milho brasileiro ganha mercado egípcio e exportação cresce 985%
Folha de S. PauloO milho brasileiro ganhou o mercado egípcio. A exportação do cereal brasileiro cresceu 985% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2015.
De cada US$ 1 que o Brasil vendeu para o Egito de janeiro a março, US$ 0,26 era de milho, com a exportação do grão somando US$ 136,7 milhões no período.
No total, as exportações brasileiras ao Egito cresceram 37% nesse período, para US$ 520 milhões. O país é, hoje, o segundo principal destino dos itens brasileiros entre os membros da Liga Árabe, atrás somente da Arábia Saudita.
À Folha Michel Alaby, secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, relacionou o crescimento nas exportações de milho ao Egito à queda nos preços e à quebra da safra americana.
Para Alaby, "o mundo árabe é uma alternativa viável" ao comércio brasileiro, apesar da pouca diversificação da exportação para essa região. Os principais produtos são cereais, carne e açúcar.
"Há espaço para calçados, para máquinas agrícolas, para cosméticos", afirma. Em especial, há espaço para os produtos que se ajustem às exigências islâmicas de consumo (os chamados produtos "halal") –como já é feito hoje pelo frango brasileiro.
Diversificação
Autoridades egípcias atribuem o aumento nas importações do milho brasileiro à busca por alternativa mais barata ao produto dos EUA.
Abdelnabi Abdelmottaleb, vice-secretário para pesquisa econômica no Ministério do Comércio e da Indústria, afirma que há recentes esforços do governo egípcio em buscar alternativas mais baratas ao milho americano.
"É uma das razões para importar do Brasil", diz.
Hend El Nashar, gerente do grupo egípcio Agro Star, afirma que parte do milho importado do Brasil é em seguida exportada a países como Argélia e Croácia. "Às vezes a oferta dos EUA não é suficiente, e compramos do Brasil."
Segundo Amr Adly, economista do Carnegie Middle East Center, o Egito tradicionalmente importa milho para a alimentação animal.
Os EUA eram o principal fornecedor de milho ao Egito em 2014. Variações no preço fizeram com que Ucrânia tomasse o posto em 2015, seguida por Brasil e Argentina, de acordo o Departamento de Agricultura dos EUA.
O aumento no consumo está relacionado à criação de tilápia, em crescimento nesse país, impulsionando a importação, segundo dados do mesmo relatório americano.
Assim como a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, Adly, do Carnegie Middle East Center, enxerga espaço para o avanço das exportações brasileiras em toda a região. Mas ele nota que, por ora, essas relações ainda são fracas.
"Há redes de importação e de investimento historicamente estabelecidas, com parceiros geograficamente próximos ou politicamente aliados", segundo Adly.
Nesse cenário, o acordo de livre-comércio entre Egito e Mercosul poderia ser uma ferramenta no fortalecimento das trocas comerciais entre os países. O acordo foi assinado em 2010, mas depende da ratificação da Argentina.
"Não sei se levaria a uma diversificação das exportações ou à manutenção da venda de commodities", diz.