31/01/12 15h29

Mesmo com crise, 70% das empresas projetam investir

Brasil Econômico

Segundo pesquisa exclusiva da consultoria Grant Thornton, brasileiros estão entre os que mais planejam aumentar investimentos em máquinas. Objetivo é não perder espaço para a concorrência internacional

Os empresários brasileiros têm planos ambiciosos para 2012. É o que indica uma pesquisa da Grant Thornton Internacional realizada em dezembro.

Segundo o levantamento, 68% das companhias do país planejam investir na compra de máquinas, equipamentos e na modernização de instalações ao longo do ano.

O percentual é 22% superior quando comparado à pesquisa realizada no trimestre anterior. A variação representou a maior alta entre empresários de todo o mundo que esperam ampliar investimentos. A média global de intenção de investimentos foi de 35%.

A amostragem foi feita com 11 mil empresas dos segmentos de indústria, varejo, construção e serviços de 40 países.

A preparação para os grandes eventos esportivos dos quais o país será sede nos próximos anos, combinada ao represamento de investimentos da indústria no ano passado, explicam parte do otimismo, acredita Javier Martinez, responsável pelo estudo na América Latina.

“A leitura dos empresários é que, mesmo com o rumo incerto da crise europeia, será preciso investir para não perder competitividade.”

Essa intenção fica clara em outro trecho do estudo. Nele, 78% dos empresários dizem esperar aumento da receita nos próximos 12 meses, 60% projetam a melhora da lucratividade e 44% apostam na ampliação do negócio, um aumento de 16 pontos percentuais em relação ao último trimestre.

Embora analise os dados como positivos, Julio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), acredita que esses investimentos serão insuficientes para que a indústria brasileira se torne mais competitiva frente à concorrência chinesa. “Esses dados significam que a indústria brasileira se tornou defensiva. Investe para não perder espaço, mas deixa de ousar quando se trata de agredir os concorrentes”, lamenta, ao afirmar que falta apostar em inovação e expansão para avançar de fato.

O levantamento da consultoria não identifica quais setores devem receber mais investimentos no período. Mas Evaldo Alves, da FGV-Management, acredita que haverá uma concentração dos recursos em varejo e construção, segmentos econômicos que têm impulsionado a maior necessidade por crédito no país.

“Isso acaba gerando um problema, pois se deixa de destinar recursos para ampliar a capacidade no setor de bens de consumo durável, cuja manutenção traria naturalmente a demanda por serviços de maior valor agregado”, exemplifica o professor.

Ao longo do ano passado, empresas brasileiras investiram R$ 3,4 bilhões em máquinas e equipamentos, 20% a mais do que no ano anterior, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Procurada para falar de perspectivas para este ano, a entidade informou que só divulgará os dados na próxima semana.

Câmbio
Um dos fatores que pode jogar a favor das empresas que pretendem adquirir máquinas é o câmbio. Boa parte das compras de equipamentos deve acontecer fora do país. E o real valorizado pode ajudar, tornando as aquisições mais baratas.

Segundo um levantamento recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), 86% das empresas brasileiras planejam investir em equipamentos no ano. Dessas, 73% importarão a tecnologia.

“Esse percentual é certamente maior entre as médias empresas”, estima Marcelo Azevedo, economista da entidade. Apontado como um dos principais problemas estruturais da economia brasileira e responsável por minar parte da competitividade das empresas locais — o real forte —, poderia tomar outra direção caso as empresas brasileiras importassem mais maquinário.

“Seria uma forma de ampliar a saída de dólares, equilibrando um pouco o volume de moeda estrangeira que entra no país e atenuando a valorização de nossa moeda”, afirma Evaldo Alves, da FGV Management.

O professor acredita, porém, que os empresários brasileiros deixaram passar a melhor oportunidade para fazer os investimentos em meados do ano passado. No final de julho, por exemplo, a moeda americana teve sua cotação mais baixa desde 1999, valendo R$ 1,54. Ontem, fechou cotada a R$ 1,749.