Merial investirá € 40 milhões em nova fábrica de vacinas no Brasil
Suinocultura IndustrialBraço veterinário da farmacêutica francesa Sanofi, a Merial vai investir € 40 milhões no Brasil para construir uma nova fábrica de vacinas contra febre aftosa, afirmou o novo diretor presidente da companhia no país, Jorge Espanha, conforme antecipou ontem o Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor.
Depois de quase dez anos no comando das operações de saúde animal da Pfizer no Brasil, Espanha chega com a missão de mostrar que não é mau negócio apostar no Brasil como uma importante plataforma de exportações de produtos veterinários, num momento de "desindustrialização" do setor em que concorrentes do porte da MSD Saúde Animal, controlada pela Merck, 'enxugam' as operações no país.
Nesse contexto, a própria vocação exportadora da Merial e o investimento na nova fábrica de vacinas são alguns dos trunfos do executivo. Para se ter ideia de relevância das vendas externas para a operação brasileira, basta dizer que 65% do faturamento de R$ 580 milhões do ano passado foi originada nas exportações. Em todo o mundo, a Merial faturou cerca de € 2 bilhões em 2013.
Na estratégia desenhada pela Merial, a nova fábrica de vacinas contra a febre aftosa é essencial, visto que abrirá mais espaço para exportações. Conforme Espanha, a nova planta da empresa será construída no complexo industrial da companhia em Paulínia (SP), na região de Campinas.
Segundo ele, a Merial já tem uma fábrica de vacinas contra aftosa no mesmo complexo, mas a nova planta terá uma capacidade 20% a 30% superior, disse Espanha. Com isso, o espaço onde fica a atual fábrica - que tem capacidade para produzir 110 milhões de doses da vacina por ano - poderá ser destinado à produção de outras vacinas. "Ainda não está decidido, mas podemos readequar para outros produtos", afirmou ele.
A previsão é que a construção da nova unidade seja concluída no fim de 2015. Mas a produção de vacinas em escala comercial deve levar mais algum tempo porque a unidade terá de passar por uma fase de testes para ser validada pelo Ministério de Agricultura.
Atualmente, a Merial já exporta vacinas contra aftosa para Bolívia, Uruguai, Paraguai e Peru, e há negociações em curso para vender o produto também na Argentina, disse Espanha. Com a nova unidade em operação, a empresa terá maior capacidade para exportar vacinas tanto para os países da América do Sul e, num segundo momento, para os mercados da Ásia e da África, ainda pouco explorados pelo setor.
Para além das exportações da própria vacina, o executivo tem esperança de que, num futuro mais distante, consiga exportar os "bancos de antígenos" - substâncias que produzem os anticorpos que combatem o vírus. "O Brasil detém um controle único da produção de vacinas contra aftosa", afirmou, citando o programa de combate à aftosa no país, que resultou na criação de um vasto banco de antígenos.
A ênfase na capacidade de crescimento das exportações de vacinas contra a aftosa não significa que a Merial tenha relegado o mercado brasileiro. Segundo Jorge Espanha, alguns Estados do Brasil até podem deixar de vacinar duas vezes por ano ou mesmo receber o status de "livre da doença sem vacinação", reduzindo a demanda por vacinas. Mas, de maneira geral, a extensão da fronteira brasileira dificulta muito as chances de o Brasil deixar de vacinar bovinos definitivamente, disse ele. Nos últimos anos, aliás, vizinhos como Bolívia e Paraguai tiveram focos da doença.
Em que pese os novos investimentos, Espanha disse que a Merial não é dependente da produção de vacinas contra aftosa. "Ela é importante no nosso portfólio, mas temos outros produtos de igual importância", afirmou ele, em referência aos antiparasitários que a companhia produz em Paulínia e também exporta.
No que diz respeito às espécies, porém, há uma preponderância do mercado de bovinos, que representa metade do faturamento da Merial. O segmento de animais de estimação é responsável por outros 30%, enquanto que o de avicultura tem 17%. "O mercado brasileiro de veterinária é de bovinos", reconheceu.