29/10/13 15h58

Mercedes vai investir R$ 1 bi em caminhões

Valor Econômico

Menos de um mês após confirmar a retomada da produção de automóveis no país - projeto ao qual destinará cerca de R$ 500 milhões -, a Mercedes-Benz anunciou, ontem, que vai investir mais R$ 1 bilhão em dois anos no desenvolvimento do negócio de veículos comerciais no Brasil.

O plano supera, em valores anuais, o programa de investimento iniciado em 2010, que se encerra neste ano após somar aportes de R$ 1,5 bilhão, o que dá uma média de R$ 375 milhões por ano. Também é o maior investimento da Mercedes em caminhões em todo o mundo, algo condizente com a posição do Brasil como principal mercado do grupo no segmento.

Se nos últimos quatro anos o foco da montadora esteve em adaptar a fábrica de Juiz de Fora (MG) para produzir caminhões pesados, junto com a ampliação da capacidade em São Bernardo do Campo (SP), os próximos investimentos serão concentrados em modernizar a fábrica paulista, que também produz ônibus, assim como em desenvolver novos veículos.

Também estão previstos avanços na nacionalização - ou seja, maior uso de autopeças locais - dos caminhões montados em Juiz de Fora, para melhorar o acesso a linhas de crédito mais atraentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que exigem um conteúdo local superior a 60%.

Stefan Buchner, chefe global da divisão de caminhões da Mercedes, veio ao Brasil para anunciar à imprensa o novo ciclo de investimentos da marca durante a Fenatran, salão da indústria de veículos de carga que abre as portas ao público hoje em São Paulo. Na quinta-feira, está prevista a assinatura de um contrato entre a montadora e o BNDES, que financiará os investimentos. A empresa não revelou a participação percentual do banco.

Em entrevista coletiva a jornalistas, Buchner disse que a meta da Mercedes é voltar à liderança no mercado brasileiro, ocupada há 11 anos pelos caminhões da Volkswagen, montados pela MAN. Ele evitou, porém, traçar um prazo. "Vocês ainda vão ver isso acontecer", afirmou.

Entre janeiro e setembro, a Mercedes-Benz respondeu por 25,5% das vendas de caminhões no Brasil, um pouco atrás da Volkswagen, dona de 26,1% do mercado.

Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz no Brasil, disse que, após preparar a capacidade industrial à demanda prevista para os próximos anos, o foco da empresa passa a ser, primeiro, o desenvolvimento dos produtos e, depois, a atualização tecnológica das linhas de produção.

O executivo adianta que a necessidade de modernização será maior em São Bernardo, pois a fábrica de Juiz de Fora - que produziu o carro compacto Classe A entre 1999 e 2005, e depois passou a fabricar caminhões - foi reinaugurada há apenas dois anos.

Além da busca pela liderança, o novo plano de investimento da Mercedes reflete a aposta num mercado que, diferentemente das economias desenvolvidas, mostra boas taxas de crescimento. Enquanto no Brasil as vendas de caminhões caminham para um crescimento de 10% em 2013, o mercado na América do Norte e na Europa deve ficar 5% abaixo dos volumes do ano passado, segundo a própria empresa. No Japão, a expectativa da montadora é de estagnação no segmento neste ano.

Depois da derrocada nas vendas em 2012 - provocada pela transição na tecnologia dos motores, que tornou os caminhões produzidos no Brasil até 15% mais caros -, a indústria de veículos pesados se recupera neste ano com a combinação de recorde na safra de grãos, compras do governo e taxas subsidiadas abaixo da inflação nos financiamentos a bens de capital do BNDES. Até setembro, houve crescimento de 13,6% em licenciamentos de caminhões no Brasil, para 115,1 mil unidades.

Além da Mercedes, a MAN vai investir mais de R$ 1 bilhão em sua fábrica em Resende, no sul do Rio de Janeiro, até 2016. A Ford, terceira marca desse mercado, termina neste ano um programa de investimentos que somou R$ 670 milhões desde 2009. Já a Iveco, da Fiat, informou que o país receberá de 30% a 35% de € 1 bilhão de investimentos previstos para o mundo entre 2012 e 2014.

Segundo a Iveco no Brasil, os aportes serão destinados principalmente à diversificação do portfólio de produtos, mas também ao desenvolvimento de motores menos poluentes, obrigatórios para caminhões feitos no país desde o início do ano.