17/02/11 15h23

Mercado cobiça o plástico inteligente

Valor Econômico

Todos os anos, milhares de pessoas são internadas no mundo com intoxicação alimentar. Quase sempre, trata-se de casos em que o consumidor não prestou atenção na data de validade do alimento ou simplesmente a ignorou. Mas uma nova geração de plásticos promete reduzir de forma significativa episódios assim. O anúncio mais alardeado foi feito em janeiro pela Universidade Strathclyde, na Escócia: os cientistas desenvolveram uma embalagem que muda de cor caso o alimento tenha sido refrigerado de forma incorreta, se a embalagem foi danificada ou à medida que o alimento ultrapassa a validade.

Desenvolvida pela equipe de Andrew Mills, pesquisador do Departamento de Química Pura e Aplicada da Strathclyde, o produto contou com investimento de US$ 523 mil e pode resolver outro problema grave até nos países mais desenvolvidos: o desperdício de alimentos, uma vez que a mudança de cor do plástico passa a ser o melhor termômetro de frescor. A embalagem de Strathclyde é um pulo tecnológico perseguido por praticamente todos os grandes laboratórios acadêmicos e empresas da área química do mundo, e faz parte do novo conceito de material no qual a própria embalagem informa o consumidor sobre um fato ou, melhor ainda, atua diretamente sobre o produto.

Há dois anos, a DuPont começou a pesquisar embalagens a pedido da indústria de salmão do Chile. O desafio era criar uma resina que permitisse o fluxo exato de oxigênio para manter a integridade do pescado - nem mais, o que avançaria sua decomposição, nem menos. E conseguiu, graças ao rearranjo que permitiu espaçamento maior da cadeia molecular. Segundo Silverio Giesteira, líder da América Latina para o setor de polímeros, a DuPont investirá este ano US$ 100 mil em pesquisas relacionadas a filmes plásticos para o mercado de carne - outro grande filão da indústria -, em parcerias com o Centro Tecnológico da Carne (CTC), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e Cetal.

Mas se dosar a entrada de oxigênio na embalagem começa a ser uma realidade, o objetivo inverso ainda é um desafio: como retirar o oxigênio que naturalmente transpassa o plástico? Essa é a resposta de alguns milhares de reais que as gigantescas indústrias de sucos e de embutidos gostariam de ter. Os pesquisadores do Cetea se debruçam há dez anos sobre isso. É o que, no mercado, chama-se "unmet needs" - necessidades para as quais ainda não existem soluções. De acordo com Eloísa, a especialista do Cetea no assunto, as principais linhas de investigação científica hoje são voltadas à agregação de funções. Além das embalagens que "comem" o oxigênio ou controlam o seu fluxo, há também aquelas "ativas" que, como próprio nome sugere, atuam sobre o produto.

A grande demanda, no entanto, ainda é a melhoria de performance do plástico com olhos na sustentabilidade. Nesse sentido, a Dow Química, outra gigante do setor, vem apostando muitas de suas fichas. Sem revelar detalhes nem investimentos, por uma questão de segredo de negócio, a múlti americana no país tenta criar uma embalagem plástica com menos matéria-prima e mais resistência. Mariana Mancini, líder de Suporte Técnico e Desenvolvimento América Latina para embalagens rígidas e duráveis da Dow, exemplifica: se uma garrafa de detergente contém 19 gramas, seu peso poderia ser reduzido em 5%. Dependendo da embalagem, é possível chegar à redução de 10%.

A Braskem, maior petroquímica das Américas, segue a mesma trilha. Fabio Lamon, gerente de desenvolvimento de produtos da petroquímica, diz que o ponto de partida foi entre 2006 e 2007, quando o grupo fez o depósito da patente de seu plástico inteligente. Sem revelar detalhes, Lamon afirma que o grupo não segue a tradicional rota de pesquisa com íons metálicos (à base de cobre, por exemplo). Além de embalagens, o executivo diz que há setores importantes como têxteis, cosméticos e medicamentos que podem ganhar peso nos próximos anos.