Marimex aposta em sinergias para estrear no cais
Valor EconômicoAté então desconhecida fora do setor de logística, a empresa santista Marimex aposta na sinergia com os negócios que já tem no porto de Santos (SP) para ser bem-sucedida na chegada ao cais, após vencer, em dezembro, o leilão para operar um terminal marítimo. A empresa já explora uma instalação alfandegada em Santos, mas na retroárea do cais, sem acesso à água.
A Marimex arrematou uma área desativada, no bairro do Paquetá, de 22,5 mil metros quadrados. Terá até quatro anos para transformá-la em um terminal especializado na movimentação de papel, celulose e carga geral. O investimento é de R$ 247 milhões.
Foi a única operadora logística na primeira fase dos leilões portuários, dados o ceticismo em meio à crise econômica, as condições dos editais e as características do arrendamento no Paquetá. Um investimento alto para uma área estreita que só vai começar a operar no quinto ano do contrato - mas estratégico para a Marimex.
A companhia é dona de uma área de 11 mil metros quadrados que fica atrás do lote arrendado, o que pode ser útil para dar suporte à operação de carga e descarga. "Não serei só um píer. Temos transporte rodoviário, terminal alfandegado, despacho aduaneiro, armazém geral e fazemos a gestão na planta do cliente", lista o presidente da Marimex, Antonio Carlos Cristiano, em entrevista ao Valor, na qual disse que nunca pensou que estaria sozinho na disputa e, menos ainda, que venceria a licitação.
Segundo ele, com a especialização dos terminais no porto, o espaço para carga geral em Santos diminuiu. "Há uma carência para esse tipo de carga", sustenta.
O investimento será feito com financiamento de longo prazo junto a bancos privados - o executivo descarta recorrer ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A empresa não tem dívida líquida. Faturou R$ 350 milhões em 2015, queda de 17% sobre 2014. O Ebitda (lucro antes de
juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 55 milhões, recuo de 20% na mesma base, devido à queda das importações.
Será um voo solo, disse Cristiano, afastando rumores de mercado de que algum produtor de papel e celulose esteja por trás para garantir a carga ou de que a Marimex busque parceiro para o projeto. Não, ao menos por ora.
O desafio é grande. A arrendatária terá de garantir movimentação mínima de 1,6 milhão de toneladas de papel e celulose ao ano, sob pena de multa. Cristiano disse que a empresa irá "reavaliar" o estudo para confirmar a viabilidade dos números. "Do dia que saiu o edital até a data da licitação teve muito pouco tempo", garante. Foram 43 dias.
Os estudos que embasaram as minutas dos editais do programa de arrendamentos portuários foram feitos em 2013 pela Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP), autorizada pelo governo para confeccionar os levantamentos.
A Marimex sagrou-se vencedora do leilão com a única oferta para explorar a área por 25 anos, ao oferecer ao governo R$ 12,5 milhões de outorga. Foi o menor lance da primeira etapa de arrendamentos portuários realizada após a Lei dos Portos, de 2013. As outras duas áreas leiloadas na mesma ocasião - uma para grãos e outra também para celulose - foram arrematadas pelo consórcio formado pelas tradings Cargill e Louis Dreyfus, por R$ 303 milhões, e pela produtora de celulose Fibria, por R$ 115 milhões, respectivamente.
"É um projeto muito caro. Calculei a outorga com uma proposta de 5% do valor do investimento", afirmou Cristiano, que recebeu o Valor no escritório provisório da Marimex, em Santos, na Rua Xavier Pinheiro, onde nos próximos meses começará a construção da nova sede da empresa, um prédio de dois andares orçado em R$ 25 milhões. Ficará em frente à instalação alfandegada da empresa para armazenagem de contêineres.
Quase metade dos R$ 247 milhões a serem investidos no futuro terminal "molhado" será destinada a intervenções estruturais. São elas a expansão da faixa do cais do Paquetá em direção ao canal de navegação - resultando em um terminal de quase 35 mil metros quadrados - e a ampliação da profundidade.
Hoje, a profundidade no cais do Paquetá é de aproximadamente sete metros, insuficiente para receber navios. Pelo edital, a estrutura deverá estar preparada para embarcações com calado mínimo de 11 metros.
A Marimex é 100% familiar, mas está em curso a formação de um conselho, dentro do processo de profissionalização. A empresa nasceu em 1927 como uma comissária de despacho sob o nome A. Melchor, no auge do café. Em 1955, o pai de Cristiano, Osvaldo, entrou como sócio e quatro anos depois comprou o restante da companhia, batizando-a de Marimex ("mar", de marítimo, "im", de importação e "ex" de exportação").
A primeira área portuária foi alugada em 1989, antes da primeira Lei dos Portos, de 1993, que instituiu o modelo de arrendamentos. Em 2000, a empresa ganhou uma licitação para explorar, por 20 anos, um arrendamento de 42 mil metros quadrados, dedicado a armazenagem de contêineres - o terminal alfandegado. Em dezembro passado entrou com pedido na Secretaria de Portos (SEP) para antecipar a renovação do contrato por mais 20 anos, até 2040.
Como a avenida perimetral do porto - já construída - passaria pelo terminal, a autoridade portuária incorporou ao contrato de arrendamento áreas novas em troca de parte do lote arrematado pela Marimex, perfazendo os atuais 97 mil metros quadrados do terminal alfandegado para armazenagem de contêineres.