16/11/15 15h46

Mais voos e vias

Investimento em rodovias, ferrovia e aeroporto tornam Campinas, a porta de entrada do interior paulista, uma das melhores cidades para negócios

Revista exame

Ultimamente, quem trafega pela rodovia SP-075, nos arredores de Campinas, no interior paulista, encontra terrenos em terraplenagem a perder de vistas. Ali, numa área de 418 000 metros quadrados, a incorporadora Bresco está investindo 900 milhões de reais num condomínio logístico com 11 galpões, 17 prédios comerciais, dois hotéis, e um centro comercial. O objetivo é atrair empresas que buscam facilidades para receber matérias-primas ou escoar a produção. “É a melhor localização no país para um projeto desse perfil”, diz o investidor Carlos

Betancourt, que fundou a Bresco em 2011 com Guilherme Leal, Pedro Passos e Antônio Luiz Seabra, sócios da fabricante de cosméticos Natura. O condomínio está ao lado do aeroporto de Viracopos e a poucos quilômetros de rodovias como Anhenguera e Bandeirantes, artérias de acesso ao interior de São Paulo. As obras começaram há dois anos e deverão terminar em 2018, mas algumas estruturas estão prontas e já há empresas operando. É o da americana John Deere, fabricante de máquinas agrícolas que aportou 31 milhões de dólares para montar seu maior centro de distribuição na América Latina. “Daqui saem peças de reposição para clientes brasileiros, americanos e europeus”, diz Alfredo Miguel Neto, diretor de assuntos corporativos da John Deere.

Campinas tornou-se um ímã de investimentos por razões claras: segundo a consultoria Urban Systems, a cidade oferece a melhor infraestrutura do Brasil para os negócios. É uma vocação que vem de longe. Fundada em 1774 como ponto de bandeirantes na rota as minas do Centro-Oeste, ao longo da história a cidade foi beneficiada pela construção de rodovias e ferrovias sobre caminhos abertos pelos desbravadores. Nos anos 50, o regime local de poucas chuvas motivou a construção de Viracopos – que se tornou o maior terminal de cargas do país. Também soma pontos a favor o fato de Campinas ter uma boa estrutura urbana. Um exemplo: 100% das casas contam com água encanada.

A novidade agora é uma onda de melhorias no que já vinha funcionado razoavelmente bem. De 2014 para cá, as vias Anhanguera e Bandeirantes ganharam uma faixa adicional de boa parte dos 100 quilômetros até São Paulo. A ferrovia da operadora Rumo ALL está sendo duplicada até o porto de Santos. A previsão é que as obras terminem neste ano, dobrando o fluxo para 78 trens por dia.

Talvez nenhuma obra esteja causando tanto impacto quanto a ampliação de Viracopos. O consórcio Aeroportos Brasil, formada por investidores brasileiros e franceses, assumiu a gestão em 2012. De lá para cá, investiu 3 bilhões de reais num terminal inaugurado em outubro do ano passado. Ele comporta 14 milhões de passageiros – 40% mais do que o antigo. A meta é investir mais 6 bilhões de reais no aeroporto para torna-lo apto a receber 80 milhões de passageiros ao ano em 2042. Os planos incluem o desenvolvimento imobiliário. “A ideia é construir uma cidade ao redor de Viracopos”, diz Aluizio Margarido, diretor de operações da Aeroportos Brasil. “Queremos atrair negócios dependentes de conexões rápidas como o mundo.” Entre os alvos estão empresas de logística e de informática. A prefeitura de Campinas deu um empurrão nos planos com a aprovação em 2014, de uma lei reduzindo a alíquota do imposto sobre serviços de 5% para 2% do faturamento. Neste ano, o benefício colaborou para a abertura de 12 000 empresas na cidade – um recorde. “O aumento na base de arrecadação já compensou os 50 milhões de reais por ano da renúncia fiscal”, afirmou o prefeito da cidade, Jonas Donizette.

Ao lado da boa estrutura, Campinas tem problemas sérios a resolver. A riqueza local atraiu bandidos. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ONG dedicada à questão da violência, a taxa de roubos em Campinas é 35% superior à média brasileira. No ano passado, o índice na cidade foi 796 ocorrências para cada 100 000 habitantes. Um crime em particular tem relação com a pujança: o roubo de cargas. “Viracopos recebe muitos artigos importados”, diz Fábio Barbosa, diretor da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). “As várias estradas são boas rotas de fuga para os ladrões.” Em 2014, a Abinee criou um grupo de trabalho com a polícia no mapeamento das quadrilhas. Desde então, as ocorrências diminuíram 40%.