15/09/09 09h42

Magneti Marelli e DCTA desenvolvem aplicação da tecnologia em aviões

Valor Econômico

Depois de inovar com o lançamento do primeiro motor a álcool para avião, hoje operado com sucesso pela aeronave Ipanema, da Embraer, o Brasil está prestes a dar novo salto tecnológico nessa área. A partir deste mês, pesquisadores do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA, antigo Centro Técnico Aeroespacial) e a Magneti Marelli iniciam os testes em bancada do sistema de gerenciamento eletrônico de um motor aeronáutico flex, o primeiro do mundo a operar tanto com gasolina de aviação quanto com etanol.

O sistema flex será implantado em um motor de fabricação americana, o Lycoming 0-360 A1D, que equipa a aeronave U-42 Regente, da Força Aérea Brasileira (FAB), com potência de 180 HP. Os testes em voo, segundo o coordenador do projeto pelo DCTA, Paulo Ewald, devem ser feitos em uma aeronave Aerobuero 180, pertencente ao Clube de Voo a Vela CTA. A previsão é que os testes sejam iniciados em 2010. O motor flex surge como uma alternativa para as aeronaves que utilizam motor a pistão, com potência de até 360 HP, principalmente as que operam em aeroclubes e enfrentam dificuldades devido ao alto custo da gasolina. O motor flex substituiria o atual sistema de ignição e alimentação de combustível usado pela maioria dos aviões a pistão, concebidos na década de 50.

Além de ter um custo mais barato em relação a gasolina, o álcool como combustível, segundo Ewald, também tem a vantagem ser mais limpo, pois não usa o chumbo tetraetila, metal pesado e altamente poluente. O ponto de desvantagem do álcool está relacionado ao consumo 25% maior do que o da gasolina de aviação, mas essa diferença ocorre mais quando o motor está na potência máxima, ou seja, na decolagem".

A Força Aérea Brasileira (FAB) também tem interesse em aplicar a nova tecnologia em sua frota de T-25, conhecido como Universal e utilizado em treinamento primário de pilotos. O T-25 já tem uma versão a álcool, mas que não chegou a ser homologada. O modelo só não serviu de base para o motor flex porque, na época em que o projeto foi iniciado, a Magneti Marelli ainda não tinha experiência com motor de seis cilindros.

Segundo Eduardo Campos, diretor comercial da Magneti Marelli, a empresa investiu R$ 3 milhões (US$ 1,62 milhão) na adequação da tecnologia do motor flex automotivo para uso aeronáutico. No projeto do novo motor, a Magneti Marelli responsabiliza-se pelo desenvolvimento do sistema de gerenciamento do motor, calibração do sistema e o software, que comanda e controla todas as informações. A parte de certificação do sistema também será coordenada pela Marelli. O CTA ficou encarregado dos ensaios, tanto de laboratórios quanto de voo, e da especificação dos requisitos aeronáuticos. Aprovado em dezembro de 2006, o projeto do motor flex também recebeu um investimento de R$ 580 mil (US$ 313,5 mil) da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), por meio do Fundo Aeronáutico. O valor, segundo Ewald, está sendo usado na compra de equipamentos, material de reposição e para os ensaios de desenvolvimento.