28/06/10 10h31

Lojas da Rua 25 de Março viram redes

O Estado de S. Paulo

Do escritório com divisórias de fórmica no décimo quarto andar de um prédio no centro de São Paulo, escuta-se barulho de gente, camelôs que oferecem aos gritos uma novidade chinesa, buzinas, uma multidão de compradores a pechinchar. "Daqui de cima, eu sinto a 25 de Março pulsar", diz o empresário Minolo Camicado, ao espiar lá do alto a região que se tornou um fenômeno do varejo no País, com faturamento anual de quase R$ 18 bilhões (US$ 10 bilhões), segundo estimativa da consultoria TNS Reserch International.

É mais que os R$ 14 bilhões (US$ 7,8 bilhões) movimentados no ano passado pelos 50 shoppings da capital paulista. Ex-feirante, fundador de uma modesta loja de brinquedos na maior rua de comércio popular da América Latina, o empresário comanda hoje uma rede de lojas de alcance nacional. É um dos casos mais bem-sucedidos de uma trajetória de expansão trilhada por grupos que nasceram na 25 de Março, como Armarinhos Fernando, Lojas Semaan e Gaivota.

As histórias são parecidas. Esses negócios começaram como pequenos estabelecimentos, tornaram-se soberanos no comércio local e expandiram suas filiais para outras regiões. O fato de terem começado na 25 - hoje uma área que se estende por 18 ruas, com 350 lojas, 3 mil estandes, além de camelôs - é outra coincidência que ajuda a entender como esses grupos passaram de pequenas portinhas a um quarteirão e mais tarde a uma rede de lojas. "Essa é uma área de influência nacional", diz o pesquisador de varejo da Fundação Getúlio Vargas, Edgard Barki. Apesar de distintas na nacionalidade, essas empresas têm outras semelhanças. São comandadas pelos fundadores ou descendentes - alguns deles ainda abrem e fecham as lojas diariamente, são discretos no meio social, não aparecem em fotos e nem divulgam faturamento.

Na Armarinhos Fernando, o fundador segue com os filhos à frente do negócio que começou a tocar na década de 70. Na época, o comércio se restringia a uma sala alugada no terceiro andar de um prédio da 25 de Março, inicialmente para vender no atacado itens como linha, botão e zíper. Hoje a rede tem 16 lojas, cinco delas na própria 25. Uma delas ainda é aberta diariamente pelo dono, Fernando dos Santos Esquerda, que está prestes a completar 70 anos. Ele costuma dar expediente, inclusive atendendo clientes. A prova de que suas estratégias deram resultado é a expansão da rede para bairros como Lapa e Tatuapé, em São Paulo, e cidades vizinhas como Santo André e Guarulhos, formando a rede de 14 lojas que oferecem 360 mil itens. A filial mais nova foi inaugurada em abril, no bairro do Ipiranga, também em São Paulo. Duas outras estão nos planos da rede, em Osasco e no bairro de Santo Amaro, na zona sul. Cidades do interior também entraram no radar.