31/01/11 11h26

Locadoras de filmes se reinventam para sobreviver à web

Valor Econômico

Apesar do coro de especialistas de que as locadoras de vídeo tendem a minguar ainda mais ou simplesmente desaparecer, há quem vá na contramão dessa maré. Algumas redes como a 2001, Premiere, 100% Vídeo e Videoteca têm planos de expansão mesmo diante desse cenário pessimista. O que motiva esses empresários é ver suas lojas ainda cheias. O crescimento nessas quatro redes chegou a ser de até 13% no ano passado - índice que chama atenção em um setor que diminuiu pela metade nos últimos quatro anos por causa da concorrência com a pirataria, locadoras virtuais (em que o cliente faz sua escolha no site e recebe o filme em casa) e com a possibilidade de copiar arquivos de filmes da internet.

Esse crescimento não significa que o setor está retomando suas atividades a todo vapor. Ao contrário, estima-se que entre 10% e 15% das atuais locadoras de São Paulo ainda vão fechar suas portas até o próximo ano, segundo o sindicato do setor. Mas, entre aqueles que sobreviveram à avalanche, há um ponto em comum. Essas redes apostaram em um nicho - que pode ser desde o público com mais de 30 anos até cidades com poucas opções de lazer - e estão diversificando o seu negócio, vendendo livros, cafés, jogos e outros apetrechos que possam atrair a clientela.

A locadora Premiere, que tem seis lojas em São Paulo, por exemplo, vende jogos (ou games, na linguagem da garotada) para engordar o faturamento, que aumentou 12% no ano passado. Hoje, a comercialização dos jogos representa 40% do faturamento. "Os anos de 2007 e 2008 foram péssimos, mas no ano passado retomamos o crescimento. Inclusive, temos planos de abrir uma loja ainda este ano", disse Alberto Esteves, dono da Premiere. "Não é porque tem pizza delivery que as pizzarias acabaram. Acredito no mesmo raciocínio para as locadoras", afirma.

Outra rede que atua em nichos é a 2001 Vídeo. No último dia 20, a locadora paulistana abriu uma loja de 380 m2 com um investimento de R$ 500 mil (US$ 294,1 mil). A 2001 atende um público premium e se diferencia do mercado pelo seu atendimento e acervo com 12 mil filmes europeus, clássicos e outros que atendem ao gosto dos cinéfilos. "Mesmo tendo o maior valor de locação de mercado, conseguimos ter um público cativo. Nunca tivemos queda na receita, que cresce em média 9% ao ano", disse Sonia Abreu, sócia da 2001, que possui na cidade outras seis unidades. A rede encerrou 2010 com faturamento de R$ 12 milhões (US$ 7,1 milhões).

Outra aposta das redes de locação são as praças menores ou com poucas opções de lazer. "Cidades em que o cinema não tem uma diversidade tão grande de títulos em cartaz, como Florianópolis, acabam ajudando a impulsionar o negócio", lembra Sara Camargo, dona da rede catarinense Videoteca, que comprou a locadora Megamil, de Campinas (SP). Hoje, a Videoteca conta com 34 unidades espalhadas em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e Piauí. A empresária avalia a abertura de novas lojas este ano.

Após dois difíceis anos com o fechamento de 10 pontos, a 100% Vídeo tem projetos ambiciosos para este ano, quando pretende abrir 15 novos pontos. O presidente da 100% Vídeo, Carlos Augusto, ressalta que a maior parte será de conversão de bandeiras, ou seja, pequenas locadoras que passam a usar a marca 100% Vídeo. Ele também está negociando com investidores novas franquias. A abertura de franquias de locadoras é um desafio à parte. "Nos últimos dois anos, não tivemos nenhuma procura para abertura de locadora e não acredito na retomada desse setor", disse Marcos Hirai, ex-franqueado de locadora e hoje consultor da Franchise Store, empresa que comercializa franquias. Diante desse cenário, Augusto lançou recentemente um pen-drive com o qual o cliente pode copiar arquivos dos filmes pelo computador.