Limão tahiti conquista mercados e produtores
Valor EconômicoCom uma rentabilidade que em muitos casos pode superar a da laranja, cujos pomares foram assolados pelo avanço de doenças como o greening, o limão tahiti tem atraído a atenção de pequenos e médios citricultores do interior de São Paulo. Ainda que a demanda nos grandes centros consumidores do país esteja firme, na mira dos produtores está o aumento da demanda em países que, até pouco tempo atrás, recorriam ao verde de sua casca sobretudo para decorar drinques e pratos.
A fruta, que na verdade é um "falso limão", é resultado do cruzamento do limão siciliano com a lima-da-pérsia e foi introduzida na Califórnia a partir de sementes oriundas da região de Tahiti, na Polinésia Francesa - motivo pelo qual recebeu seu nome de batismo. Com o consumo inicialmente concentrado na América do Sul e no Caribe, onde as condições de cultivo também são apropriadas, a espécie passou a conquistar novas fronteiras principalmente na última década.
Só para a União Europeia, principal destino das exportações brasileiras, o volume de embarques alcançou 80,8 mil toneladas em 2015, 91% mais que em 2005, segundo dados do Ministério da Agricultura. "Esses países estão conhecendo um pouco mais a fruta, antes considerada exótica. E a Europa é abastecida basicamente por Brasil e México", afirma Fernanda Geraldini Palmieri, pesquisadora de citros do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq (Cepea/Esalq).
No total, as exportações brasileiras de limão tahiti aumentaram 118% na comparação, para 96,6 mil toneladas. Com a disparada, a produção paulista, que responde por 70% do total nacional, passou a oscilar de 30 milhões a 44 milhões de caixas de 22 quilos por safra, de acordo com cálculos do Instituto de Economia Agrícola (IEA) da Secretaria da Agricultura do Estado.
"Não tem havido crescimento da área plantada porque ela já é bastante grande", diz Waldyr Promicia, presidente da Itacitrus, empresa com sede em Itajobi, no interior paulista, que lidera as exportações nacionais de tahiti. Mas isso não quer dizer que exista uma estagnação, já que árvores velhas são constantemente substituídas por novas, mais produtivas.
Se a área de produção tem se mantido relativamente estável, os preços da fruta têm aumentado em linha com a demanda externa. Em 2014, atingiram máximas em 20 anos - a caixa de 22 quilos foi negociada, em média, por R$ 32,33 naquele ano em São Paulo, 41,8% mais que em 2013, segundo o IEA. "Com essa valorização, a gente percebe que muitos produtores ficaram mais interessados em plantar limão. Por isso prevejo um avanço no plantio", observa Promicia.
É o caso de Marcos Carvalho, fruticultor de Catanduva, interior de São Paulo. Há cerca de dez anos, sua propriedade, de 32 hectares, tinha 80% da área agricultável coberta com laranjas, mas hoje é dividida entre limão (50%), goiaba (30%) e manga palmer (20%). "O cultivo de laranja veio decaindo devido a problemas com preço, custo e doenças, e passou a perder espaço para outras frutas", diz.
"Quando começaram as exportações de limão e os mercados foram abrindo, a fruta começou a remunerar melhor. E, com uma demanda crescente, os pequenos e médios produtores foram aumentando a produção", afirma Carvalho. E ele não é o único que pensa assim.
Segundo Carolina Mathias, sócia da Tropical Frutas, empresa que também beneficia e exporta limão na região de Itajobi, é visível o crescimento da aposta dos produtores no tahiti. "Não sei precisar, mas a gente sente que tem aumentado", afirma, ao ressaltar que a tendência tem sido observada desde que a laranja passou a sofrer com problemas sanitários, já no fim da década de 1990.
Tanto interesse, no entanto, já começa a gerar uma certa preocupação entre os grandes produtores, que temem uma superoferta seguida da desvalorização do produto. "Diferentemente da laranja, cuja formação dos preços tem uma certa ligação com as cotações do suco na bolsa de Nova York, a volatilidade de preços do limão é muito severa", diz Celso Vegro, diretor do IEA.
As alterações no quadro de oferta e demanda são sentidas rapidamente no mercado de limão, cuja paridade com a laranja nos últimos três anos oscilou entre um piso de 1,03 caixas, em abril de 2014, e a máxima de 9,5 caixas em fevereiro de 2015. "As oportunidades de mercado têm atraído investidores, mas o empreendedor que vai apostar nessa cultura tem que estar consciente que pode perder dinheiro", destaca o especialista.
Segundo Waldyr Promicia, o cenário ressalta a necessidade de o país abrir novos mercados para evitar que se repita, com o limão, o que ocorreu com os preços da laranja nos últimos anos, quando a demanda fraca derrubou o valor da fruta. "Limão tem. O plantio vai aumentar e, se não houver novos mercados lá na frente, corremos o risco de sofrer com o aumento da produção interna e a queda de preços", reforça.
Já Aline Andrade, diretora da Andrade Sun Farms, acredita que o movimento de preço dos últimos anos foi atípico. ". Temos visto produtores que já estão na cultura plantando bastante, e isso é um fator de preocupação em relação ao que vai ser daqui algum tempo. De qualquer forma, este está sendo um momento de discussão sobre até onde vai essa alta e se ela vai continuar", afirma ela.