17/05/10 10h55

Leroy investe US$ 571 mi para dobrar de tamanho

Valor Econômico

"Você conhece a história do machado e da árvore?", pergunta o francês Alain Ryckeboer, diretor-geral da varejista de materiais para construção Leroy Merlin no Brasil. "Há lenhadores que saem para cortar árvores com um machado ruim e ficam nove dias fazendo isso", diz. "Nós preferimos ficar nove dias afiando o machado para cortar todas as árvores de uma só vez". A analogia explica a ausência da Leroy Merlin no comércio eletrônico. O canal não é explorado pela multinacional francesa em nenhum lugar do mundo, mas o Brasil deve sair na frente com o início da operação de vendas on-line dentro de um ano, a partir de projeto que começa a ser desenhado pela agência WMcCann. Hoje, entre as grandes varejistas de materiais para construção, só a C&C, do Grupo Alfa, tem venda online.

A estreia no comércio eletrônico é apenas parte do plano da multinacional francesa para reforçar sua presença no país, onde é líder desde o ano passado. Até 2014, devem ser investidos perto de R$ 1 bilhão (US$ 571,4 milhões) na abertura de 20 lojas, o que vai mais do que dobrar o tamanho da varejista no país. Além das inaugurações e do início das vendas on-line, o capital será investido na reforma e ampliação das 19 lojas existentes, para acomodar melhor o mix de 60 mil a 80 mil itens, renovado em 25% a cada ano.

O diretor francês, que está à frente da operação desde a entrada da Leroy no país, em 1998, reclama que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não empresta dinheiro a varejistas de materiais de construção de capital estrangeiro. Mesmo sem o dinheiro público, a aposta da Leroy Merlin no Brasil é alta. O país passou a figurar este ano em quarto lugar no ranking de nove países da multinacional francesa. Até 2009, estava na sexta posição. Hoje, só perde para a matriz francesa, Espanha e Rússia. "Mas nenhum lugar vai crescer dois dígitos este ano como o Brasil, onde a receita deve aumentar 30%, mesma taxa dos últimos três anos", diz o executivo.

As 20 lojas que devem ser abertas até o fim de 2014 estarão concentradas nos Estados do Sul e Sudeste, mesmas regiões onde está presente hoje (em seis Estados e no Distrito Federal). "O Nordeste tem demanda, mas é difícil vencer a longa distância com as dificuldades de infraestrutura na região", diz Ryckeboer. Segundo ele, 95% dos seus fornecedores estão no Sudeste. Este ano, a Leroy pretende inaugurar três pontos de venda em Taguatinga (DF), Campinas (SP) e na zona norte de São Paulo, próximo ao Shopping Center Norte. As lojas precisam ser espaçosas, uma vez que cada unidade trabalha com estoque próprio e faz questão de apresentar cômodos decorados ao cliente.

Em 2009, a Leroy Merlin ultrapassou a C&C entre as maiores varejistas de material de construção do país e passou a encabeçar o ranking do setor, segundo levantamento feito pela revista da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco). Destronou um reinado de nove anos da brasileira C&C, que ficou na terceira posição, depois da Saint-Gobain, dona da Telhanorte. O setor está sendo favorecido desde ano passado pela redução da alíquota de IPI sobre materiais de construção, medida que foi prorrogada e vai vigorar até o fim de 2010.