25/05/10 11h02

Leilão de transmissão deve atrair chineses

Valor Econômico

O leilão de transmissão de energia marcado para o dia 11 de junho deverá ter novamente forte presença estatal e de estrangeiros, mas os lances de empresas espanholas, antes comuns, poderão ser substituídos por ofertas chinesas. O nível do deságio na licitação para construção, operação e manutenção de mais de 700 quilômetros de linhas de transmissão dependerá do apetite chinês e da Eletrobras, segundo especialistas ouvidos pela Reuters.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) leiloará as concessões de nove lotes em São Paulo, Rio Grande do Sul, Pará, Maranhão, Mato Grosso, Alagoas e Bahia. Os investimentos são estimados em R$ 700 milhões (US$ 400 milhões) e vence quem oferecer a menor Receita Anual Permitida (RAP), o faturamento a que se tem direito pela prestação do serviço a partir da entrada em operação. O lote mais disputado deverá ser o Araraquara-Taubaté (SP). Com 356 quilômetros, a RAP será de R$ 31,2 milhões (US$ 17,8 milhões). "A política do governo é a de volta das estatais como grandes investidoras. Além disso, estamos em ano de eleições, e o governo pode mostrar competitividade", disse o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires.

No ano passado, aconteceram dois leilões de transmissão. Ambos tiveram forte presença de empresas da Eletrobras (Eletrosul, Eletronorte, Furnas e Chesf), embora a Espanha ainda marcasse presença. No primeiro deles, a espanhola Abengoa, em parceria com Eletronorte e Cteep, arrematou dois de 12 lotes. No segundo, em novembro, a espanhola Cobra Instalaciones - que já tinha saído vencedora em leilão no fim de 2008 - se dispôs a ter faturamento 26,2 % inferior à receita máxima por um dos 8 lotes ofertados. No cômputo geral, o maior deságio no leilão de maio de 2009 foi de 47,2%, enquanto no de novembro foi de 32,44%.

Pires avalia que a época da marcante participação espanhola em leilões de energia acabou. "No começo da década, a Espanha cresceu muito e eles entraram no Brasil em infraestrutura, mas a situação mudou... Não descarto a participação, mas as ofertas não serão agressivas." A expectativa de fraca participação de investidores espanhóis se explica, em parte, pela crise fiscal na zona do euro, inclusive na Espanha, deflagrada neste ano.

Na semana passada, a estatal chinesa State Grid Corporation comprou sete das doze empresas da Plena Transmissoras, de controle espanhol, por R$ 3,1 bilhões (US$ 1,8 bilhão, marcando a chegada dos chineses no setor elétrico no Brasil. O diretor-geral da Associação Brasileira das Transmissoras de Energia (Abrate), Cesar de Barros Pinto, acredita que a State Grid fará propostas no próximo leilão. Já Nivalde de Castro, da UFRJ, discorda. "Normalmente, após uma aquisição como essa, eles aguardam para se posicionar. Leilões de transmissão ocorrem sempre, e eles devem esperar." Outras candidatas são Cemig, Copel, Alupar e Cteep. Das quatro, apenas as duas últimas se manifestaram até o momento.