11/11/10 11h38

Lafarge faz aposta bilionária no mercado brasileiro de cimento

Valor Econômico

A indústria cimenteira vive dias de bonança no Brasil, com taxas de consumo que crescem 15% anualmente e que tiram da lembrança os anos de vacas magras do começo desta década. Quem não correu para investir nos últimos dois anos corre o risco de perder uma boa parte da demanda aquecida prevista até 2016 no mercado brasileiro. Sem fazer alarde - e numa única tacada -, o grupo francês Lafarge reposicionou sua presença no país em fevereiro para tirar proveito da onda positiva vivida pelo setor. E fez isso sem desembolso extra do caixa. Apenas utilizou um único ativo: sua participação de 17,2% no capital da Cimpor, maior cimenteira portuguesa, a qual foi vendida ao grupo Votorantim.

Enquanto três grupos brasileiros - Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), Camargo Corrêa e Votorantim - se digladiavam para assumir o controle da companhia portuguesa, a Lafarge, uma acionista sem mais ambições por lá, decidiu sair da empresa sem nenhum pudor. "Nossa participação deixou de ser estratégica depois que adquirimos a Orascom, do Egito, quase três anos atrás", disse ao Valor o presidente da Lafarge no Brasil, Thierry Métro. A líder mundial mundial em materiais de construção - cimento, concreto e gesso - ofereceu US$ 12,1 bilhões pela Orascom Cement no fim de 2007, dentro de sua estratégia de ampliar a presença nos mercados emergentes. Com fábricas em países do Norte da África e no Oriente Médio, a companhia egípcia atua nas mesmas regiões da Cimpor.

No comando da subsidiária brasileira desde abril de 2009, o executivo teve participação direta na operação de troca de sua participação na Cimpor por três fábricas da Votorantim. "A Lafarge é a empresa que mais investiu no Brasil na indústria de cimento este ano", afirmou Métro, taxativamente. Segundo ele, foram cerca de € 750 milhões. E uma nova onda virá no médio prazo, garante o executivo. "O grupo enxergou uma grande oportunidade de crescer no Brasil, que se tornou o nosso foco na América Latina, e ampliar suas operações para outras regiões do país. A empresa estava toda concentrada na região Sudeste", explicou. Ele vê boas perspectivas de sustentação da demanda aquecida, com PIB do país se mantendo na faixa de 5% ao ano. "Enxergamos um horizonte promissor para nossa indústria até 2016 ou 2017", disse. O executivo aponta necessidades de investimentos em infraestrutura e moradias, principalmente, e menciona eventos como o da Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, além de grandes obras industriais, dentre outros investimentos. "Mais de 50% das vendas do grupo já ocorrem nos países emergentes", informou Métro.