Laboratórios do PTS projetam avanços em tecnologia
Otimismo prevê surgimento da maior indústria da cidade em domínio tecnológico
Cruzeiro do Sul - SorocabaDe um dos laboratórios do Parque Tecnológico de Sorocaba (PTS) deve sair a maior e mais importante indústria da cidade em termos de tecnologia. É essa afirmação otimista sobre o futuro que acalenta o sonho de jovens empreendedores das 15 empresas incubadas no PTS que, neste momento, trabalham para colocar e aperfeiçoar seus produtos no mercado. Para isso, afirmam representantes do setor industrial, é preciso ignorar o teor negativo que permeia os noticiários. É que a crise econômica se apresenta como o momento crucial para se investir em tecnologia e inovação.
As iniciativas neste setor de atividade podem ser tomadas como exemplos no Dia da Indústria, comemorado hoje. Foi no aeroporto de Avaré, interior de São Paulo, que os amigos engenheiros José Eduardo Trabulse e Ricardo Amaral observaram a dificuldade que os pilotos de avião têm para verificar a trajetória do vento e, com isso, planejar o pouso mais seguro. "O tempo estava encoberto e o pessoal discutindo como o avião ia enxergar a biruta (mecanismo que ajuda a indicar o sentido do vento)", lembra Trabulse. Assim, surgiu a ideia de criar uma estação meteorológica, com um receptor dentro da aeronave, para dar mais segurança nos poucos. Depois da ideia, os dois sócios partiram para a especialização para abrir uma empresa, hoje a Bio Space. Na pós-graduação, ao apresentar o projeto, receberam o investimento necessário para iniciar o trabalho.
Para efetivar a ideia, um dos sócios, o Ricardo, buscou se especializar mais em eletrônica. José Eduardo, para a administração. Dessa junção, após cerca de dois anos - mais de um desenvolvendo o produto no PTS -, surgiu o Weather Link. Por meio do equipamento, os pilotos têm informações visíveis dentro da aeronave para verificar as condições mais seguras de voo e pousos. Desde a última semana, o sistema está em teste no mesmo aeroporto onde tiveram a ideia. "Funcionou bem até agora", assegura o empresário.
De acordo com Trabulse, algumas pessoas já demonstraram interesse na tecnologia. "A maioria, fazendeiros, pessoas que moram em lugares remotos", diz. O sistema deve atrair, principalmente, esse tipo de cliente, que precisa pousar em fazendas e pequenos aeroportos de cidades menores.
Outros projetos
Além da Bio Space, outras empresas trabalham no PTS com o objetivo de inserir produtos diferenciados no mercado. De acordo com o diretor de Ciência & Tecnologia do parque, Rodrigo Mendes, uma das empresas trabalhou no desenvolvimento de um simulador de trem, com softwares avançados, que estão sendo usados pela Vale no treinamento de funcionários.
Além deles, outra empresa desenvolve microorganismos capazes de estimular a produção do etanol de terceira geração. "A primeira geração etanol é tirado da cana; a segunda, do bagaço; e o chorume disso permite a terceira geração", comenta Mendes.
Sem crise
É no momento de crise, enquanto muitos choram, que outros ficam ricos vendendo lenço de papel. Essa analogia, feita pelo presidente da agência Inova Sorocaba, Pedro Angelo Vial, aponta que é possível encontrar mercado mesmo nestes cenários. "Crises existirão sempre, isso faz parte da história, assim como faz parte a superação", observa. E a superação, no caso industrial, está diretamente ligada a investimentos em pesquisas de desenvolvimento, ciência & tecnologia e inovação, ele acrescenta.
Os investimentos em novos produtos, processos e serviços tornam-se mais importantes, principalmente, nos momentos de crise. "Todos nós sentimos nos nossos bolsos as dificuldades das crises, porque fazemos parte desse universo, porém, temos de ser otimistas e ter a certeza de que, se tivermos sucesso, que transforme ideias em produtos, as crises serão facilmente sanadas.
Esse é o melhor momento, ainda, para se buscar novas oportunidades, avalia Erly Domingues de Syllos, vice-diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) Sorocaba. Segundo ele, quem se diferenciar agora, deve largar na frente quando ocorrer a retomada da economia.
"Essas empresas que têm investido, tem muito mais oportunidades nesse momento", conta.
Tanto para Vial quanto para Erly, o futuro de Sorocaba está nos exemplos do PTS. Deve sair dos laboratórios onde atuam as 15 micro-empresas as principais novidades em relação a produtos, empresas e serviços. "São empresas agora pequenas, mas que poderão ficar muito grandes num futuro muito próximo", diz o presidente da Inova. E o mesmo pensa o vice-diretor do Ciesp: "Ali é o berço, o celeiro de uma Sorocaba do futuro, e de um futuro não muito distante".
História mostra importância da inovação
A falta de inovação tecnológica pela indústria resultou no fechamento de importantes empresas nascidas em Sorocaba. De todas elas, o maior complexo industrial do Brasil, a Indústria Reunidas Fábricas Matarazzo é o principal exemplo. A mudança de ciclos econômicos, por outro lado, deu fim às indústrias têxteis, que haviam dado a Sorocaba o apelido de Manchester Paulista.
A vocação industrial de Sorocaba começou desde o seu surgimento, pelas mãos de Afonso Sardinha, conta o economista Geraldo Almeida, secretário do Desenvolvimento Econômico e Trabalho de Sorocaba. Foi Sardinha que iniciou as primeiras experiências em extração e fabricação de ferro, complementa, que culminariam na criação da Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema.
Do ferro, veio o ciclo do algodão - paralela à Estrada de Ferro Sorocabana -, que resultou na chegada das indústrias têxteis, como a Scarpa e a Cianê. O fim do ciclo do algodão, entretanto, influenciou no fechamento das suas. "A formação dos grupos industriais em Sorocaba chega no processo de imigração", conta Almeida. Em meio a esses imigrantes, ele lembra, estava Francesco Matarazzo.
Foi em Sorocaba que o italiano deu início ao maior complexo industrial do Brasil, a Indústria Reunidas Fábricas Matarazzo. De acordo com o secretário, a falta de mudanças e inovação refletiu no fim das atividades do conjunto de empresas. Permanecem até hoje, por outro lado, aquelas empresas antigas que investiram em modernização, como o grupo Votorantim - hoje, na cidade vizinha -, lembra o secretário.
Apesar do DNA industrial, avalia ainda Almeida, não permaneceu em Sorocaba empresas familiares, como no caso das têxteis. "Em geral, não chegaram na segunda ou terceira geração", conclui.