JLR investe US$ 1,2 milhão em startup brasileira que recicla, repara e reutiliza baterias
Objetivo é internacionalizar processos que dão novos destinos para materiais críticos e aplicações de segunda vida às baterias automotivas de íon lítio
AutoDataA InMotion Ventures, divisão de investimentos em novos negócios da JLR, nova denominação da fabricante Jaguar Land Rover, investiu US$ 1,2 milhão na Energy Source, startup sediada no Interior do Estado de São Paulo, para reciclar, reparar e/ou reutilizar baterias de íon-lítio de todos os tipos de aparelhos e aplicações, inclusive automotiva.
Este é o primeiro investimento da InMotion Ventures no Brasil com o objetivo de acelerar o crescimento e internacionalizar a operação da Energy Source, que desenvolveu tecnologia inovadora utilizando os conceitos de economia circular para lidar com a reciclagem de qualquer bateria, devolvendo os materiais, muitos deles raros, às cadeias produtivas industriais.
“Nossos clientes perguntam o que acontecerá com o veículo quando a bateria perder a sua eficiência. Será como os celulares antigos que param de funcionar e perdem a sua utilidade?”, perguntou João Oliveira, diretor presidente Jaguar Land Rover América Latina e Caribe. “Esta participação societária da JLR na Energy Source é o primeiro hub de inovação nessa área fora do Reino Unido e solucionará este problema que aflige os consumidores.”
Em 2021 a Energy Source desenvolveu tecnologia própria para a reciclagem de todo o tipo de bateria de íon lítio e criou uma unidade de hidrometalurgia em São João da Boa Vista. Este processo é totalmente limpo e autossuficiente: toda a energia utilizada vem dos painéis solares instalados no teto do galpão e a principal matéria-prima, a água, é captada da chuva e uma central de tratamento de efluentes devolve o líquido próprio para ser utilizado novamente na operação.
Segundo o CEO e fundador da Energy Source, David Noronha, seu processo de hidrometalurgia é único no planeta e está pronto para triplicar a operação a partir do aporte feito pela InMotion–JLR: “95% do volume reciclado até agora tem origem em equipamentos eletrônicos. Triplicando nossa capacidade este ano vamos processar algo como 3 mil toneladas de baterias. É uma surpresa para nós em tão pouco tempo atingirmos essa capacidade”.
Desde 2021 a operação chamada de mineração urbana recuperou 25 toneladas de lítio, 150 toneladas de cobalto, 20 toneladas de níquel, 250 toneladas de grafite, 60 toneladas de cobre e 35 toneladas de alumínio, segundo Noronha. Todos esses materiais críticos retornam para a cadeia de produção em diversos setores como o de embalagens e o agrícola para serem utilizados em fertilizantes: “Ainda não devolvemos estes materiais para a cadeia de produção mais nobre, como a de novas baterias automotivas, mas este é um caminho que estamos perseguindo”.
Além da reciclagem a Energy Source atua diretamente em outros dois dos quatro Rs do conceito de economia circular: o reparo de baterias e a sua reutilização em outras aplicações. O quarto R é o de reduzir utilizando técnicas de logística reversa que não estão diretamente ligadas intrinsicamente ao produto baterias, mas, conceitualmente em todos os processos da startup.
Para reutilizar baterias também foi desenvolvida tecnologia própria para avaliar e direcionar esses equipamentos aos processos de formatação de bancos estacionários de energia. Alguns desses já estão sendo utilizados em lojas da JLR para carregar aparelhos, mas as aplicações são diversas: é possível ter um banco de energia para dar suporte ao consumo residencial em caso de apagão: “A utilização desses bancos de energia reutilizando as baterias de veículos é um mercado novo e que tem grande potencial. Já produzimos mais de 10 MWh a partir de baterias de segunda vida”.
No galpão de 4,5 mil m2 a startup também desenvolveu processos para fazer análises e reparar baterias automotivas. Trata-se de uma operação complexa porque cada fabricante tem seus protocolos para manuseio desse equipamento. Em tempo: a Energy Source não trabalha exclusivamente com a JLR, mas com outras fabricantes de veículos elétricos como a Volvo Cars e Renault, além de locadoras que possuem modelos eletrificados em sua frota: “Em alguns casos a fabricante não possui protocolos para manuseio da bateria de íon lítio e nós damos consultoria para desenvolver esses processos”.
David Noronha contou um caso emblemático em que a fabricante avaliou um carro elétrico avariado na parte de baixo e o veredicto era de que seria necessário substituir a bateria. Esse caso acabou sendo levado à startup que apresentou uma solução reparando a bateria, mantendo a integridade e todas as suas propriedades: “Uma bateria nova teria o custo de R$ 226 mil. O reparo custou 10% desse valor”.
Para a JLR a decisão de investir e se tornar sócia de uma startup tem a ver com a oportunidade de fazer caminhar sua estratégia Reimagine, que pretende descarbonizar toda a sua operação global até 2039, lembrou João Oliveira: “Lançaremos nove veículos elétricos até 2030 e abordar o impacto e o ciclo de vida das baterias é essencial para nossas ambições de sustentabilidade. Não encontramos outra empresa que faz isso dessa forma por aqui”.