06/10/14 15h11

ITA começa a moldar o futuro da indústria aeroespacial brasileira

Serão investidos R$ 300 milhões na reestruturação da entidade e já é programada uma série de parcerias com a iniciativa privada e órgãos estatais para tornar a instituição mais moderna

DCI

 A indústria aeroespacial brasileira se prepara para enfrentar a maior mudança de sua história. A principal dificuldade fica por conta do elevado número de exigências dos acordos internacionais da aviação. Nesse sentido, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, será o grande responsável pela transformação.

Serão investidos R$ 300 milhões na reestruturação da entidade e é programada uma série imensa de parcerias com a iniciativa privada e órgãos estatais para a execução desta tarefa.

A previsão dos especialistas é que os próximos 20 a 25 anos serão marcados por uma quebra de paradigmas e conceitos aeronáuticos. Uma nova ordem mundial para o setor. O reitor da principal escola de engenharia aeronáutica do Hemisfério Sul, o engenheiro e economista Carlos Américo Pacheco, vê esse cenário como algo mais que apenas desafiador, mas altamente transformador.

Para se mudar a fisionomia atual e dar uma cara futura para a indústria do País há uma única saída, a inovação tecnológica. Pacheco se concentra neste ponto para promover as alterações necessárias. Segundo ele, cada vez serão mais rígidos os requisitos para as aeronaves em termos ambientais, cobradas pelos signatários do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), entre outros acordos que forçarão a revisão no conceito tecnológico do avião. "Temos um megadesafio no setor e essa renovação da indústria aeronáutica passa pela remodelagem do ITA. Mas sabemos que se trata de uma agenda pesada e difícil", reconheceu o reitor.

Ruptura
Isso se dará por meio de uma ruptura tecnológica brusca e a consequente abertura do setor para competidores como russos, chineses, japoneses habilitados a disputar o mercado internacional de aeronaves. A porta de entrada será o segmento regional, no qual a Embraer, uma das crias do ITA, mantém liderança consolidada no atual cenário mundial.

"Os requisitos de emissões e ruídos mudarão o próprio conceito de aeronave. O modelo de avião existente desde a 2ª Grande Guerra desaparecerá. Talvez seja a maior revolução da aeronáutica desde sua criação. O próprio ITA terá de ser renovado e com uma engenharia mais integrada", explica.

O instituto tem, atualmente, diversos acordos de parceria, a maioria deles com a Embraer. Mas há com a Boeing e a também norte-americana Pratt & Whitney, para pesquisar e desenvolver novas turbinas usadas em jatos mais eficientes.

Investimentos
Para suportar a demanda, o ITA terá do Ministério da Educação (MEC) R$ 300 milhões em obras de expansão de capacidade físicas. Com essa ampliação - definida em dezembro de 2011 pelo Ministério da Defesa, pasta a qual o ITA está ligado via Comando da Aeronáutica - o instituto sai dos atuais 50 mil metros quadrados de área para 100 mil metros, dobrando o números de estudantes de 600 para 1,2 mil na graduação. Hoje, há seis cursos e a oferta deve subir de 1,2 mil para 1,8 mil vagas na pós-graduação. Isso dentro de um prazo de até cinco anos.

Com um primeiro núcleo formado em 1947, o ITA mostrou que o Brasil conseguia produzir o que era privilégio de poucos, um avião. Contou com ajuda de professores estrangeiros, a maioria do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Cerca de 20 anos depois, nascia a Embraer e a escola se consolidava como um centro de excelência.

Agora, o quadro de professores será ampliado, de 150 para 300 profissionais, já dentro do novo perfil da engenharia aeronáutica. A segunda parte será a mudança no currículo, com complementação que possibilitará ao aluno sair com dois diplomas, de engenharia física e engenharia de inovação, o que possibilita a formação de engenheiros cientistas ou empreendedores.

O referencial de qualidade é o Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), criado em 1891, e que administra um dos mais importantes órgãos de pesquisa em tecnologia avançada da Nasa, o Laboratório de Jato Propulsão. "O Caltech é um sonho", diz o professor.